“Como o senhor imagina o Reino de Maria?” Eis uma pergunta frequentemente dirigida a Dr. Plinio por seus discípulos. Ao longo de sua vasta obra, inúmeras foram as pistas de pensamento traçadas por Dr. Plinio para oferecer elementos que permitissem ao menos vislumbrar as maravilhas desse tão desejado período da História predito por Nossa Senhora em Fátima.

Do ponto de vista sociológico, suas originais e profundas explicitações a respeito da sociedade orgânica constituem valioso contributo, não apenas para imaginar, mas para preparar a sociedade perfeita que deve existir no Reino de Maria.

A este propósito, Dr. Plinio explicava ser preciso considerar que em todas as operações nas quais entram a graça divina, os desígnios da Providência e a colaboração humana, ocorrem fenômenos, de si, inesperados. Podemos, assim, preparar as condições para o advento de algo, mas não planejá-lo.

Nesse sentido, Carlos Magno não previu o gótico, nem os edifícios construídos neste estilo, e, talvez, nem o compreendesse devidamente, à primeira vista. Mas ele, como pai da Europa, está na raiz do gótico. Num certo sentido, ele colaborou mais para a edificação das catedrais do que os arquitetos, engenheiros e artistas que as elaboraram. Ele preparou as condições mais profundas para o aparecimento dos homens com aquelas tendências artísticas, e todas as demais circunstâncias que tornaram possível a eclosão de uma catedral como a de Notre-Dame de Paris, por exemplo.

Sob este ponto de vista, podemos analisar o surgimento da sociedade hierárquica medieval, inspirada pela Igreja Católica. Por certo, não houve um planejamento, um cronograma, mas as instituições foram aparecendo organicamente.

Remontando aos patriarcas, fundadores de clãs e seus descendentes, notamos estar na origem um casal primeiro que, como um novo Adão e uma nova Eva, gera uma família numerosa que ocupa determinada região. E, com o passar das gerações, vai expandindo a sua área de influência. Dessa maneira, depois de certo tempo, os proprietários das terras nesse local são todos meio aparentados, descendentes do patriarca, reconhecido e venerado por todos. E o chefe do clã é o primogênito da linhagem de primogênitos, acatado por todos.

Assim se compõem, aos poucos, verdadeiras monarquias familiares, tendo um sistema de hereditariedade conservado, depois, nas monarquias constituídas mais ou menos por toda parte. E os que fundaram ramos colaterais da família são, em ponto menor, o que o patriarca é em ponto maior, formando assim uma rede de autonomias imbricadas. O fundador do clã, o “Adão” daquele mundo, representa para todos, ao mesmo tempo, um pai e uma semente de rei.

Com o passar das gerações, as cidades se estabelecem organicamente naqueles territórios, em função de fatores propícios ao desenvolvimento como, por exemplo, terreno fértil e água acessível para a atividade agrícola ou pastoril, ou a facilidade de comunicação, devido à abertura de estradas, construções de pontes e outras benfeitorias.

Está de acordo com a ordem natural que a família seja a célula fundamental da sociedade. Portanto, deve existir uma tendência a proteger a continuidade da família contra o anonimato das cidades onde o tecido familiar pode desaparecer. Desse modo, seria conveniente que esses clãs frequentassem as cidades, sem abandonar as suas fazendas. Isso implicaria num tamanho ideal de uma cidade, por onde a vida urbana fosse meio dominada pela vida de campo, a ponto de penetrar nela algo da tranquilidade e da continuidade campestre.

Dos clãs originários surgem, assim, as cidades. Nestas, os proprietários de terras constituirão, naturalmente, a aristocracia. E os forasteiros que vão se agregando, à procura de trabalho e de proteção, formam o povo.

Por processo análogo, nascem também as monarquias, sendo o rei um descendente do patriarca e, consequentemente, o pai daquela nação.

A ordem nessa hierarquia social orgânica adviria de ela procurar o bem comum, o qual é, antes de tudo, o bem da Santa Igreja, o bem moral. Isso propicia o aparecimento na classe popular, por efeito da pregação da Igreja, de almas nobres, com grandes ideais, grandes dedicações, grande espírito de sacrifício, dignas de ascender à nobreza. Porque a verdadeira aristocracia é o fruto da fermentação da palavra de Deus e da graça na sociedade, fazendo com que do povo brotem as plantas de ouro da nobreza.

Por sua vez, da nobreza igualmente levedada pelo ensinamento da Igreja de Cristo, pela graça que Ele nos mereceu do alto da Cruz, nasce a planta de ouro de uma dinastia, assim como do povo nasceu a nobreza.

Ao contemplar a nobreza, o povo teria a melhor imagem de si mesmo. A nobreza, por sua vez, encontraria sua melhor imagem na dinastia. Ao final desse processo, desabrocharia o monarca, como a flor da nação.

Em última análise, temos de contar com a graça de Deus, com um povo que corresponda a essa graça e, por fim, com a Providência Divina que Se utiliza desse povo. É de floração assim, com pouca planificação e muito valor, que pode nascer a sociedade perfeita do Reino de Maria.

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