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Matriz do pensamento de Dr. Plinio

Dentre as explicitações nascidas do místico convívio de Dr. Plinio com o Sagrado Coração de Jesus, encontra-se o tema da sacralidade, considerada por ele como sendo a matriz de seu pensamento e cujo fundamento é o próprio Homem-Deus.

Anagoria (CC 3.0)

Dos vários aspectos da Igreja, um que está profundamente na minha alma — e que eu vejo em Nosso Senhor Jesus Cristo, de modo adorável — corresponde a um substantivo que eu emprego às vezes. Talvez notem que, quando o utilizo, é no sentido do sumo da coisa elogiável, deleitável, magnífica, esplêndida: sacralidade.

Conceito de sagrado

Sei que a palavra “sacralidade” em latim tem toda uma etimologia e um significado. Já li algumas coisas a esse respeito, mas não encontrei uma definição que me agradasse tanto quanto o termo me agrada.

O que significa sacral? Que diferença há entre sagrado e sacral? O que é o sagrado nessa perspectiva das coisas?

A coisa sagrada tem uma superioridade por onde, de algum lado, é mais voltada para Deus do que para o homem; desse fato decorre para ela uma espécie de “participação”, de “ter parte com Deus”. Ela “tem mais parte com Deus” do que uma coisa melhor, porém menos sagrada.

Essa “parte com Deus” que a coisa sagrada tem, lhe dá uma espécie de, eu quase diria — sei que não é —, uma “presença de Deus”, fazendo com que nos acerquemos dela com sumo respeito, suma reverência, ao mesmo tempo sentindo-nos pequenos, mas elevados até o nível daquele sagrado, e nos introduzindo num patamar completamente diferente do patamar das coisas não sagradas.

Por exemplo, um cálice de Missa. Não sei por que, mas na minha sensibilidade, na minha imaginação, fica como o próprio símbolo do objeto sagrado. Parece-me que a forma do cálice, com aquela copa que se abre, sua estrutura, já lhe dá uma disposição natural a manifestar o sagrado.

Além do mais, tendo sido consagrado, penetrou no cálice algo que a minha imaginação conceberia como um fluido — não é um fluido —, por onde não se pode nele tocar sem todo o respeito, sem receber como que uma descarga elétrica de maldição. Mas também quem o toca respeitosamente sente-se elevado e, de algum modo, amado por Deus.

Daí uma veneração enorme para com o sacerdócio; e o sacerdócio nos seus vários graus de jurisdição: o padre, o bispo e o Papa. E uma veneração submissa, fiel, amiga de ser menos, desejosa de servir, por causa do conceito de sagrado: “Aquele foi sagrado!”

Sei que em mim, enquanto católico, há algo disso, por efeito do Batismo, com um incremento em razão da Crisma. Mas, em qualquer caso, continua verdadeiro que fico a meio termo entre o mundo do sagrado e o mundo do profano, enquanto aquele que está inteiramente no mundo do sagrado é de uma elevação que não encontro palavras para dizer.

Esse conceito do sagrado é a própria matriz de meu pensamento a respeito de uma série de coisas. De maneira tal que, no fundo, sempre que eu elogio uma coisa, estou, na minha mente, achando que ela tem uma analogia, pelo menos, com o sagrado. Em relação ao que é sagrado, tenho uma propensão a aceitar, a admitir, a servir. Mas se tem uma contra-analogia com o sagrado, estou vituperando, e no meu vitupério se encontra uma rejeição, uma impugnação, uma vontade de combater: porque ali há uma recusa do sagrado. O ponto de referência é sempre o sagrado.

A palavra “sacrossanto”

Também na ordem do terreno, elogio certas coisas porque, no fundo, elas têm tal ou qual analogia, tal ou qual participação no sagrado.

Por exemplo, os vitrais elaborados à maneira de fundos de garrafa justapostos. Sei perfeitamente que esses objetos não são sagrados. Mas a luz que coa através do vitral tem, em relação à luz do dia, uma analogia com a comparação entre o sagrado e o não sagrado.

E a luz filtrada por um vitral — qualquer que seja a cor ou desenho, desde que seja bem feito, de acordo com o espírito católico — tem uma analogia com o sagrado; e coando a luz, prepara o ambiente para que o estado de espírito propenda para o sagrado, amoleça aquilo que é puramente natural, impetuoso, rústico, e, pelo contrário, exalte, glorifique o que é sagrado, sacrossanto.

A palavra “sacrossanto” para mim é carregada de todas as graças e delícias possíveis: “Uma coisa sacrossanta… Oh!” O próprio vocábulo diz isso: “sacro santo”. Que coisa maravilhosa, esplêndida! É preciso ajoelhar-se: essa coisa é sacrossanta!

Também certos princípios de ordem puramente especulativa podem parecer à nossa inteligência sacrossantos. São dos tais princípios delicados cuja força está em que são quebráveis facilmente por qualquer vândalo, mas, quebrados, a ordem das coisas está espatifada: “Cuidado, é uma coisa sacrossanta!”

O sacrossanto alia duas formas de sagrado: o sagrado — que recebeu uma sagração — e o santo. Então é uma coisa “sacro santa”. E a palavra “sacrossanta” mostra a excelência dessas duas presenças cumulativamente, uma sobre a outra.

Como todo o circuito do meu pensamento se faz em torno de Nosso Senhor Jesus Cristo, sou levado a considerar que Ele é sagrado num grau inimaginável, pois é Deus! E, enquanto Homem, sua natureza humana está elevada a um grau de união com Deus a ponto de constituir uma só Pessoa. Então, qual é o grau de sagrado e de santo que há n’Ele? Não há palavras que o indiquem suficientemente. É inimaginável! A figura d’Ele no Santo Sudário, no meu modo de entender, é eminentemente sacrossanta.

Minha posição de batalha é, no fundo, um furor de que uma coisa sacrossanta tenha sido atingida, ferida. Se alguém quer destruí-la ou está pensando nisso, eu já me indigno: “Como se atreve a mexer naquilo que é sacrossanto?! Onde está com a cabeça?” E eu me oponho o quanto possa!

A substância da Revolução é dessacralizar

Tenho impressão de que estou fazendo esses comentários com uma radical imperfeição num ponto: que a noção de sagrado está sendo mal definida. Mas vou dizer por quê.

Em primeiro lugar, porque não sei definir; em segundo lugar, porque meu objetivo aqui é mais fazer uma descrição psicológica do efeito do sagrado no homem, do que propriamente de dar o conteúdo metafísico do sagrado.

Eu poderia ir facilmente a um dicionário de Teologia, ver no nosso bom Cornélio1 — que goza de todas as minhas complacências e benevolências — o que é “sagrado”, e ficar com uma ideia técnica do que seja. Seria muito bom.

Mas tenho a sensação de que enquanto não explicitar inteiramente o que estou pensando, e não descrever o estado de espírito que o homem deve ter em face do sagrado, eu de fato, se ler o Cornélio, mais atrapalho a elaboração da descrição desse estado de espírito do que a favoreço.

Estou certo de que o espírito revolucionário é o oposto do sagrado, a mais não poder. A substância da Revolução é dessacralizar. E a substância da Contra-Revolução, bem entendida, é sacralizar.

Debaixo de certo ponto de vista, a Contra-Revolução é o retorno do sagrado a todos os campos que o homem naturalmente domina: primeiro nas almas, e depois na ordem exterior das coisas que o homem faz. O retorno inteiro ao que lhe é próprio.

Uma vassoura da capela e um anel de bispo

Eu diria que o sagrado opera por osmose. Uma coisa colocada muito em contato com algo de sagrado, ou que lhe presta apenas um serviço muito remoto, fica com algo que adere a ela. E nós só não notamos porque temos o espírito muito leviano, superficial, e não damos a devida atenção às coisas. Por exemplo, um utensílio vulgar, uma vassoura que, entretanto, tivesse sido usada para varrer durante muitos anos uma igreja, especialmente a capela do Santíssimo Sacramento e a capela de Nossa Senhora, em um país distante, digamos, uma das ilhas da Indonésia.

Dario Iallorenzi
Basílica do Santíssimo Sacramento – Buenos Aires, Argentina

Imaginemos que eu tivesse de embarcar num navio de protestantes onde não houvesse nada de sagrado, e no qual me comunicassem a notícia de que o fim do mundo estava iminente. E, por uma circunstância fortuita, essa vassoura estivesse na embarcação.

Eu pegaria essa vassoura, a colocaria no meu quarto e teria por ela um especial apreço como remanescente de algo que tocou no sagrado: uma vassoura que varreu o Santuário de Deus! Seria capaz de oscular o seu cabo todos os dias, de manhã e à noite.

Digamos que, ao invés de uma vassoura, me deixassem um objeto muitíssimo mais nobre: o anel de um bispo. O mundo iria acabar e, por isso, estaria por se extinguir inclusive o episcopado, não haveria mais bispos sobre a Terra. Restara, entretanto, sobre o mundo prestes a ser extinto, um anel episcopal.

Eu apanharia esse anel e o trataria diretamente como uma relíquia porque um bispo católico, fosse ele quem fosse, o usara. Se só isso resta pela Terra, sinto-me ligado, por meio dessa simples relíquia, a todo o oceano de sacralidade que é a Igreja Católica e, através da Santa Igreja, com o Céu.

O cantochão, a capela do Santíssimo

O meu gosto pelo cantochão, mais do que pelo canto polifônico, provém exatamente de que o primeiro é mais sacral. O canto polifônico tem algumas coisas admiravelmente sacrais, mas ele possui qualquer coisa de aberto e, no abrir-se, alguma coisa do recolhido, que é próprio ao sacral, se perde. Esse “fechado” sacral, não é hermeticamente fechado, mas é como se fecha a mão de um pai ou de uma mãe…

Uma capela do Santíssimo, por exemplo, eu considero supervenerável porque naquele ambiente meio fechado temos um fenômeno curioso: o mistério aumenta a intimidade. Em todas as coisas da vida, o mistério diminui a intimidade, mas em contato com o Santíssimo, não. Há uma maravilha qualquer no Santíssimo Sacramento por onde o seu mistério nos acalenta e nos aproxima d’Ele. Participa da bem-aventurança daqueles que amam sem compreender.

Fica-se ali, como que dizendo: “Estou em contato com o incompreensível, com o invisível, com o infinito. Mas nesse contato fico sabendo de alguma coisa que de tal maneira é íntima, afável, bondosa para comigo, me perdoa, que entro naquilo como num refúgio.”

Antes de Nosso Senhor Jesus Cristo, havia na Terra o sacerdócio da Antiga Lei, prefigurativo do sacerdócio da Nova Lei. O sacrifício no sentido pleno da palavra é o de Nosso Senhor Jesus Cristo.

Porém, aquelas prefiguras tinham alguma coisa de sagrado, razão pela qual quem tocasse na Arca da Aliança, sem as devidas licenças, ficava fulminado. Há uma porção de outras coisas que falam nesse sentido.

De modo que, no Antigo Testamento, não se estava no regime da graça, mas não no regime da mera natureza. Havia um elemento divino presente na religião judaica antes de ela prevaricar, e a Igreja Católica é uma continuação dela.

Os pais, o ancião, o herói de guerra

Também entre as coisas laicas existem algumas que, na ordem natural, têm algo de sagrado. Por exemplo, o pai e a mãe, independente do aspecto sacramental do casamento, pelo fato de serem esposos, pai e mãe, têm qualquer coisa de sagrado. O ancião adquire qualquer coisa de sagrado com relação aos mais novos. O herói de guerra, num nível mais baixo, mas sob certo ponto de vista mais excelente, adquire qualquer coisa de sagrado também. Toda autoridade tem algo de sacral. Sobretudo se nota isso quando ela tem a convicção da sacralidade do poder que possui.

BrokenSphere (CC 3.0)
Serviço de café em porcelana de Sèvres

Morreu há pouco tempo o Imperador do Japão, Hiroito. Ele não era um imperador investido pela Igreja, mas um pagão. Entretanto, nenhum de nós, por mais descontente que estivesse com ele, teria coragem de lhe dar umas bofetadas. Por quê? Ele é o Imperador do Japão, e isso se respeita!

Há mil formas de sacralidade minor, natural, incomparavelmente menos densas. E todos esses reluzimentos de um sagrado de uma ordem inferior existem também na vida minor.

Isso chega a tal ponto que, se se analisar com cuidado certas coisas de caráter pura e estritamente material, elas têm um “como que” de sagrado em relação a outras coisas boas, criaturas retas de Deus, mas que não têm aquele sagrado.

Por exemplo, o cristal em relação ao vidro. O cristal é uma coisa que tem qualquer coisa de sagrado. Nesses parques de diversão, se faz muitas vezes tiro ao alvo, e põem como alvo pires, pratos e coisas semelhantes, de um material muito ordinário que quando é atingido se desfaz.

Se colocassem ali, como meta, uma porcelana de Sèvres, ou de Limoges, ou taças de champagne de cristal, nós diríamos: “Não faça essa barbárie!” É um como que sacrilégio! Essas coisas têm qualquer coisa de sagrado com relação às outras.

“Minha mentalidade e meu modo de ser são presididos pela ideia do sagrado”

Quando isso se dá numa sociedade de católicos, isso se liga mais intimamente à Pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo. E as pessoas acabam respeitando, com um respeito sobrenatural, essas formas naturais de sacralidade, em função do Redentor.

De onde se deduz que o mundo só está direito quando embebido, reflete e reluz nele certa sacralidade. Daí também o conceito de Cristandade. É uma sociedade temporal sacral que se liga a Nosso Senhor Jesus Cristo, fundamento de toda sacralidade.

No fundo, é só por aí que os assuntos me interessam: a defesa da sacralidade.

Por exemplo, nas Cruzadas o élan de heroísmo é muito bonito; mas se fosse uma cruzada para salvar S.P.Q.R. — Senatus Populusque Romanorum2 — façam o que quiserem, briguem, mas não me amolem! Não entrem no meu campo visual, porque não me interesso por vocês! Entretanto, bastaria pôr no alto do lábaro uma cruz: “Ah! Então, está o sacral presente? Sou soldado nessa guerra!”

Ralph Hammann (CC 3.0)
Sagrado Coração de Jesus Igreja de Saint-Kilian, Alsácia, França

Poderíamos fazer um exame de consciência a esse respeito. Houve tempo em que todos nós tivemos muito presente essa sacralidade, mais ou menos na ocasião da nossa Primeira Comunhão, e depois fomos aos poucos, por oportunismo, aceitando aspectos não sacrais da vida moderna. E gostando das coisas numa perspectiva laica.

Tudo na minha mentalidade, no meu modo de ser é presidido por essa ideia do sagrado. Não é uma ideia abstrata, mas o conhecimento de que em Nosso Senhor Jesus Cristo não está apenas como uma abstração ou como uma utopia, mas que Ele é a fonte quente, borbulhante, eterna, inesgotável, perfeita, de tudo quanto é sagrado, porque é o Homem-Deus!

Se querem conhecer minha personalidade, observem-me enquanto ultracultor do sagrado, embebido disso até onde possa ser. E o que não compreendam em mim, procurem explicar por esse lado, que se torna claro imediatamente.

Há, por exemplo, um vocabulário distinto que está para o trivial como uma coisa sagrada estaria para a não sagrada. De onde meu horror ao vocabulário trivial por causa disso. Quer dizer, não enquanto linguagem popular, pois num homem do povo se compreende, porque ele não faz nada que o diminua com isso. Mas um homem de cultura, que elevou seu espírito a certo grau, rebaixar-se e tomar um vocabulário inferior a seu nível é, em algum sentido, uma coisa análoga a dessacralizar-se.

Sinfonia de desigualdades graduadas

Dentro da perspectiva da sacralidade, poder-se-ia perguntar se o ideal para uma sociedade não seria um governo teocrático, no qual o poder temporal fosse apenas um acessório do poder espiritual que, de fato, dirigiria o Estado.

Cheguei a me pôr esse problema e percebia que isso não deveria ser assim, mas não compreendia a razão metafísica pela qual era mais excelente a organização que Nosso Senhor deu à Santa Igreja, distinguindo-a do Estado. Foi-me preciso maturar para entender bem essa questão.

São Tomás de Aquino3 pergunta se não seria melhor Deus ter criado um único ser que encerrasse em si todas as belezas e perfeições da Criação, ao invés de criar seres de excelências diversas. E responde que uma única criatura não seria suficiente para representar a perfeição e a bondade divinas.

A desigualdade repete de várias formas a relação entre o homem e Deus. E uma sinfonia de desigualdades graduadas é mais bela do que uma só nota — um mi ou um sol perfeitos — tocando por toda a eternidade.

Portanto, para que o homem possa conhecer bem a Deus, é preciso que haja toda uma clave de perfeições minores governadas por um ente coletivo de perfeição minor, fazendo todo um mundo minor — a sociedade temporal — distinto do mundo maior da Igreja. Assim a glória de Deus reluz mais perfeitamente. Isso me parece plenamente convincente.

Então, foi bom que houvesse uma gradação por onde existissem elementos sacrais de um nível minor, que ficassem no domínio do Estado; enquanto os de ordem maior pertencessem à esfera da Igreja. Como as coisas do Estado são de ordem minor, devem ocupar dentro do horizonte do homem, nesta Terra, uma posição minor. Assim, o Estado propriamente temporal fica, não encolhido, mas com sua estatura natural; porém muito imbuído da sacralidade superior.

Estou dando a razão metafísica pela qual Nosso Senhor Jesus Cristo fez uma coisa mais excelente, instituindo a Igreja e reconhecendo a existência do poder temporal, do que estabelecendo um governo teocrático sacerdotal.

Sacralidade da ordem temporal

Mário Shinoda

Na Idade Média, a Igreja tinha uma realidade enormemente superior à do Estado. Mas era bom que houvesse hierarquias diversas, para exemplificar melhor as formas e os graus de sacralidade que existem no universo.

Com as imperfeições inerentes a tudo quanto é humano, eu acredito que a monarquia feudal medieval realiza inteiramente o tipo ideal do governo humano, mostrando bem a sacralidade da ordem temporal, abaixo da sacralidade sobrenatural da ordem espiritual.

Por exemplo, o que era o Papa em relação a qualquer soberano? É uma coisa a perder de vista! Há iluminuras da Idade Média representando uma cena hipotética, que nunca se deu: um Papa celebrando Missa com dois coroinhas: o Imperador do Sacro Império e o Rei da França.

Nisso eu vou inteiro, é como eu faria! Até já me passou pela mente que no Reino de Maria seria preciso fazer isso. Não basta a analogia de uma iluminura; ela tem que sair dos vitrais e entrar na vida. Saindo da igreja, esse imperador iria para seu palácio, teria sua coroa, sua corte, etc. Mas, cuidado! Ele do Papa não é senão coroinha!

Aqui está dada a proporção exata que nossas almas quereriam entre os dois poderes.

Uma coisa que exprime esse mesmo pensamento é o que historicamente se passou antes do cisma do Oriente. Quando os metropolitas de Moscou montavam a cavalo, o tzar segurava o estribo para eles montarem. Depois do cisma, foram eles que passaram a segurar o estribo do cavalo para o tzar…

Esse tema da sacralidade justificaria um acréscimo em meu livro “Revolução de Contra-Revolução”, mas parece-me que esta explicitação ainda não está pronta intelectualmente para ser apresentada.

Quando escrevi essa obra, na minha mente estava a convicção disso, mas nem sequer no modesto grau de explicitação em que apresento aqui, nesta reunião.

Se tomarem qualquer coisa que eu faça e a examinarem, notarão haver uma noção de sacralidade ali dentro.

(Extraído de conferência de 13/4/1989)

1) Cornélio a Lápide (* 1567 – † 1637): jesuíta e exegeta flamengo.

2) Do latim: O Senado e o Povo dos Romanos. Antiga divisa do Império Romano.

3) Cf. Suma Teológica, II – q. 47, a. 1.

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