Baseando-se na desigualdade e hierarquia dos seres, Dr. Plinio discorre sobre as relações existentes entre os diversos graus desta escala hierárquica.
Epalavra “transcendental” é um termo técnico utilizado na Escolástica, muito bom e já conhecido do vocabulário corrente. Mas para mim o som da palavra diz algo do sentido dela. É um dos tais vocábulos que contêm a música do conceito que encerram, de maneira tal que dizer, por exemplo: “Essa é uma razão transcendental” ou “um assunto transcendental”, são coisas muito bonitas e um pouco musicais que não se pode afirmar de qualquer coisa sem cair no ridículo.
Transcendental na linguagem comum…
Qual é a relação que há entre a musicalidade da palavra e o sentido filosófico?
Tanto quanto eu tenho entendido do sentido filosófico, o transcendental possui, à primeira vista, um sentido diferente do que o termo indica na linguagem comum. Nesta, o transcendental é algo de uma superioridade fora de uso, de uma natureza, uma clave, um grau que não tem relação com as superioridades comuns.
Por exemplo, eu não poderia dizer que determinado jogador tinha um talento transcendental para o futebol. Por mais que ele se tenha coberto das glórias futebolísticas, a palavra transcendental não se aplica a elas.
Mas eu poderia dizer de um pintor que ele tem um talento transcendental, ou de uma pintura que é, ela mesma, de um valor transcendental, caso o artista pintasse um quadro do qual eu quisesse afirmar: “Não é uma obra comum dos pintores muito bons, mas eleva-se a uma categoria que os pintores comuns muito bons não atingem. É um quadro de museu, e de grande museu.”
…e no sentido filosófico
No sentido filosófico da palavra, “transcendental” é uma afirmação de alteridade. No sentido corrente, entretanto, é uma afirmação de um tipo de superioridade, sem querer dizer propriamente sacral. O gênero é a transcendentalidade; a sacralidade é uma espécie tão requintada, que transcende a própria transcendentalidade.
No conceito tomista de alteridade está envolvido o seguinte: Não é possível existir alteridade entre duas coisas a não ser havendo uma desigualdade. A alteridade se marca por uma diferença que, necessariamente, gera uma hierarquia.
Portanto, é por meio da transcendentalidade que uma coisa, ao mesmo tempo, se liga e se diferencia de outra. Liga-se porque, se tal coisa transcende outra, elas são susceptíveis de uma comparação. E se são susceptíveis de uma comparação, fazem parte de um todo. “Tal coisa transcende à outra”, quer dizer, também, que ela se distingue da outra por uma desigualdade. Porque do contrário não transcenderia.
Sempre que há alteridade existe uma desigualdade. Entretanto, esta é necessariamente hierárquica?
São Tomás deixa claro que sempre que uma coisa é diferente da outra, em algo ora uma é mais, ora menos que a outra. É um jogo muito bonito de superioridades e de inferioridades cruzadas. Nisso São Tomás é muito positivo e, examinando bem, é claro: desigualdade corresponde necessariamente a hierarquia.
Transcendentalidade
Como o transcendental é uma desigualdade de uma espécie muito mais marcada do que o comum das desigualdades, na linguagem corrente talvez se pudesse definir assim: É uma desigualdade pela qual um ser da mesma espécie que outro se afirma tão superior, que chega a participar do gênero que está acima.
Então, a transcendentalidade afirmaria a alteridade na sua forma mais enérgica, na sua forma por excelência. É uma coisa muito característica da linguagem comum tomar algo que é “por excelência”, e aplicar a ele a palavra que convém ao todo. Por exemplo, eu compreenderia — não tenho nenhuma prova de que isso tenha sido assim — que na Alemanha de durante e depois da Primeira Guerra Mundial, quando se falasse de Hindenburg, se dissesse: “o Marechal”, porque era o marechal por excelência; o Ludendorff era marechal e provavelmente existiam outros. Havia também outros marechais: Foch, Joffre, na França; Haig, na Inglaterra. Mas o marechal por excelência se chamava simplesmente “o Marechal”.
São Tomás quando fala de um ou outro grande pensador, diz: “disse o sábio”. A Aristóteles, ele sempre chamava “o Filósofo”. Goteja da afirmação de que houve muitos outros filósofos, mas “o Filósofo” era um.
Então, certa forma de alteridade constitui o que nós chamamos na linguagem comum transcendentalidade, que é o tipo mais marcado da transcendentalidade por excelência.
É muito bonito e, ao menos na minha mente, desemaranhar este assunto esclarece muito as ideias.
Eu passei talvez uns 40 anos comendo, bebendo e dormindo ao lado dessa charada. Mas quando consegui, com o favor de Nossa Senhora, dar o último polimento e pus tudo em ordem, fiquei alegre.
Vamos agora instalar nesse conjunto, com cuidado, o conceito de sacralidade.
Troar os canhões e repicar os sinos
Sacralidade é uma transcendentalidade que indica uma superioridade tal, que não é a superioridade entre criatura e criatura, por maior que seja, mas é a superioridade entre Criador e criatura. E, de algum modo, por uma espécie de extensão, que não é uma mera analogia, também daquilo que é muito penetrado pelo Criador e, enquanto tal, participa em algo da superioridade do próprio Criador.
Por exemplo, se em todas as comemorações oficiais que coubesse — não apenas as religiosas, mas mesmo as de ordem civil — houvesse uma Missa; e que o auge da comemoração fosse o momento da Consagração. Mas, pouco antes da fórmula da Consagração ser pronunciada, começassem a troar os canhões e repicar os sinos de uma região inteira. E no momento em que a Consagração se operasse, houvesse um silêncio o mais completo e brusco, em que até os besouros tivessem medo de voar e fazer barulho com seu zumbido, porque existem certas coisas que transcendem ao som; há certos momentos em que o silêncio fala mais do que tudo quanto o homem possa dizer. Isto indicaria a hora da sacralidade na sua mais alta expressão. Depois, só se ouvisse, na hora da elevação, o tilintar daquela sineta e o repicar de alguns sinos transcendentais que estivessem no campo auditivo. Terminada a elevação, o troar dos canhões, os grandes bimbalhares de sinos, etc., ainda soassem juntos durante algum tempo.
Alguém poderia objetar:
— Aqui vejo bem quem é o senhor! Falta-lhe o sentido do sublime na sua mais alta expressão. O senhor deveria imaginar que, antes de começar a Missa, se fizesse um silêncio completo e que durante a mesma reinasse um silêncio recolhido, numa dramaticidade admirável e silenciosa; e até a Missa acabar não se ouvissem os sinos nem nada disso, para que esse culto pelo silêncio fosse a sacralidade na sua mais alta expressão…
Deus respeita a fragilidade da criatura
Eu responderia a este meu objetante:
— Nisso eu reconheço você! Porque o que você não quer é uma coisa adequada à natureza humana como Deus a criou. Você deseja imaginar criaturas como elas não são e, para elas, uma possibilidade de transparência do transcendente que não existe hoje. A natureza humana não é capaz — salvo uma graça muito especial, mas que é muito excepcional, raríssima — de manter, no silêncio, toda a sacralidade necessária por muito tempo. É preciso, para mantê-la nessa sacralidade, o concurso dos sons.
Então, a natureza humana voa, levada pelos sons até certo ponto. Ali ela se fixa no silêncio. Depois os sons a colhem e a fazem ainda voar pelo éter de uma alta transcendência, e a deixam amorosamente no chão do cotidiano.
Isso é o modo católico de fazer as coisas, sumamente respeitoso da natureza humana como ela é, inclusive das suas debilidades. E o respeito à debilidade é um dos sinais mais evidentes da superioridade do que é conforme a Igreja.
Por exemplo, numa atmosfera católica, o Sansão não seria apenas uma espécie de Tarzan, mas sim um homem que em certas ocasiões praticasse atos requintados de ternura e de brandura para com as criaturas mais insignificantes; e, nisto, fechando um ciclo de harmonia.
Então, devemos ver esse respeito de Deus pela fragilidade da criatura, por onde as coisas se ordenam de maneira que a criatura fica bem tratada, contente, agradecida; e quando afinal ela sai, por assim dizer, dos braços de Deus, vai penetrada do amor de seu Benfeitor.
A água de Lourdes e a água benta
A sacralidade é, pois, toda forma de transcendência a qual sobe tão alto, que se conhece de algum modo que ali há uma participação com o sobrenatural e, no sobrenatural, com algo de divino.
Por exemplo, se Santa Bernadette Soubirous tivesse na cabeceira dela, para se benzer toda manhã, um pouquinho de água de Lourdes, poderíamos imaginar vários aspectos.
A água de Lourdes não é uma água benta. Nasceu de uma fonte subterrânea, cuja existência Nossa Senhora indicou à Santa Bernadette, e mandou-lhe abrir com os dedos; ela perfurou o solo e jorrou aquela água.
Mas o fato de ser uma água que jorra do chão depois de Maria Santíssima ter revelado, indica uma fonte que Ela ou obteve que Deus naquele momento fizesse jorrar, sem causa natural geológica nenhuma, ou havia uma causa geológica, mas Nossa Senhora revelou essa causa, e nisto houve algo de sobrenatural.
Então há, na mera água de Lourdes, uma participação no sobrenatural.
Além disso, nós poderíamos imaginar que Santa Bernadette desse essa água sempre para um padre benzer, e se tornasse água benta. Então a água de Lourdes teria um predicado a mais, que é de ficar benta e, por este título, mais do que a água de Lourdes simples. Embora a água de Lourdes fosse mais, por algum título — é o tal cruzamento —, do que a água benta simples.
Depois havia uma terceira coisa. É que aquela água servia a Santa Bernadette Soubirous. Digamos que ela, várias vezes, de manhã virasse o gargalo da garrafa para molhar a ponta do dedo, se persignasse e levantasse. Então, a água tocou numa pessoa santa.
A sacralidade suprema
Há títulos de sacralidade diversos ali, que até podem coincidir na mesma água. Esses títulos nos fazem ver formas e graus de sacralidade — portanto de transcendentalidade —, enquanto participantes com Deus a esse ou aquele título, desse ou daquele modo, e que dão um valor especial, transcendente, porque transcende completamente a ordem do natural, a tal ponto que qualquer natural comparado com aquilo fica vil.
Um banqueiro talvez não compreendesse, mas essa água valeria muito mais do que um punhado de ouro. Sendo que o ouro é uma matéria boa, criada por Deus, dotada de excelências muito próprias na ordem do natural, que enquanto metal nobre, precioso, transcende os outros metais, mas em outra escala, de outro modo. Não tem sacralidade.
Entretanto, a Igreja exige que o lado interior dos cálices destinados à Consagração na Missa seja revestido de ouro. Assim, para tocar no que é transcendental e sobrenatural, a Igreja quer que se empregue o que há de melhor na ordem da matéria. Isto é muito bonito, muito bem arranjado.
Por que razão tudo isso se aplica à transubstanciação de um modo mais excelente? Porque não há nada que seja mais alto do que o fato de, nas espécies de alguma coisa material, Nosso Senhor Jesus Cristo se tornar presente por esta forma, renovando de modo incruento seu sacrifício, o qual, por sua vez, é o fato da História que tem a sacralidade suprema, perto do qual os acontecimentos históricos mais extraordinários não são nada.
A coroação de Carlos Magno na Basílica de Latrão como Imperador, pelo Papa São Leão III, é uma cena muito bonita. Quando estive nessa Basílica, osculei a pedra — que atualmente se encontra na Basílica de São Pedro — sobre a qual Carlos Magno estava ajoelhado. Mas comparem isso com a renovação incruenta do Sacrifício do Calvário… Não é nada!
Retirar o chapéu ao entrar numa igreja, atitude que preparava a alma para um respeito todo especial!
Entrei inúmeras vezes em igrejas onde havia o povinho comum rezando, mas com uma forma de respeito diante da sacralidade de Deus ou de Nossa Senhora, que envolvia todo o edifício material da igreja.
Nas paróquias, constituíam-se grandes grupos de crianças para fazer a Primeira Comunhão. E antigamente todos os meninos usavam alguma forma de quepe ou de chapéu. Reuniam-se muitas vezes na praça em frente da igreja, ou então na sacristia, e saíam pela calçada, cantando, para fazer uma entrada solene pela porta principal do templo. Primeiro entravam as meninas e depois os meninos. Na porta, ficava parada uma das senhoras responsáveis pela cerimônia, dizendo de modo ameno, mas autoritário, para os meninos que passavam: “Tirem os chapéus!”
No modo pelo qual ela dizia “tirem os chapéus” entrava um tom como quem acrescentasse: “…porque aqui é solo sagrado!”, o que fazia do mero tirar o chapéu uma atitude que preparava a alma para um respeito todo especial, presente às vezes no timbre de voz da mulher.
Nós teríamos, então, uma conceituação geral a respeito do sacral, do hierárquico, do desigual e do modo pelo qual se deve desenvolver a sacralidade.
A Cristandade tinha algo de sacral
Uma coisa muito bonita é a seguinte. O poder temporal soberano tem alguma forma de sacralidade? No quê?
A sociedade temporal não é suprema. A Igreja tem uma sacralidade que o Estado não possui. Mas enquanto considerado Estado de cristãos, em que os seus membros são todos católicos, portanto membros do Corpo Místico de Cristo, aquele Estado é constituído por pessoas que vivem, normalmente, da vida da graça. E todo o mecanismo da sociedade humana e do Estado vive, portanto, da vida da graça. Esse Estado, comparado com o Estado pagão, está numa relação que se poderia comparar com a da água benta com a água não benta.
E como tal paira uma espécie de bênção na Cristandade, ou seja, na ordem temporal concebida enquanto constituída de católicos e vivendo catolicamente. Toca no Corpo Místico de Cristo em algo, mas não de fora para dentro — como posso tocar no couro desta poltrona em que estou sentado —; é um penetrar do Corpo Místico de Cristo naquela sociedade, naquele Estado, que faz com que o conjunto das nações chamado Cristandade tenha, de si, qualquer coisa de sacral.
Donde o fato de haver uma bênção para o monarca na Cristandade. Mais para o Imperador do Sacro Império do que qualquer outro, porque ele é a cabeça daquele conjunto, e o unum vale mais do que as partes. Mas também para os reis e demais titulares de autoridade, entre os quais eu não hesitaria em colocar o Doge de Veneza, ou os chefes das repúblicas burguesas, como as “Cidades Livres”, desde que tivessem um poder verdadeiramente supremo e não vivessem sob uma espécie de suserania de outros poderes.
O Rei de França era realmente objeto de uma sagração que vinha dar plenitude de sacralidade a alguma coisa que, a outros títulos, já possuía essa sacralidade, que é o “Rei do Reino Cristianíssimo dos Francos”.
O senhor feudal de um castelo, ainda que fosse um simples conde, teria qualquer coisa de sacral em relação aos camponeses que habitassem em suas terras. Daí para a frente, inclusive o patrão em relação ao empregado.
Alguns argentinos contaram-me que antigamente, talvez no tempo colonial, quando o empregado encontrava o patrão dizia uma frase mais ou menos assim: “Pido su bendición, padrecito.” Ao que o patrão respondia: “Que Dios te bendiga, mi hijito.”
Acho isso profundamente encantador, perfumado, bonito, ordenado, porque coloca em realce o conteúdo religioso que essa relação patrão-empregado toma, pelo fato de ambos serem católicos.
O núcleo da Contra-Revolução
Deduzimos daqui uma série de diferenças entre sacralidade e transcendência, ainda que seja uma transcendência sublime. Se estivéssemos aparelhados a fazer habitualmente essa discriminação no contato com as coisas, creio que teríamos lucrado enormemente no espírito contrarrevolucionário, pois entraríamos pelo píncaro de tudo a partir da noção da sacralidade.
Esse é o núcleo da Contra-Revolução, e dá a essência do espírito hierárquico e, portanto, o oposto do igualitarismo.
Quem tem o espírito formado assim, ama todas as hierarquias, independentemente do problema de saber onde é que o “euzinho” fica colocado nessa escala hierárquica.
Em toda essa multivariedade de sacralidades, e depois nas simples transcendências, vejo melhor a Deus. É um conjunto onde o Criador se faz ver melhor do que no próprio firmamento, estrelas, etc., que apenas repetem isso a seu modo. Exclui, portanto, uma porção de formas pagãs de superioridade, que não são transcendentais.
Poderíamos, ainda, relacionar a grandeza com a transcendência e a sacralidade.
Toda transcendência é uma grandeza que se afirma diante de outra grandeza menor, e uma grandeza menor que reverencia uma grandeza maior. Mas não cabe nada que não seja grandeza dentro disso. Porque, nessa perspectiva, o indivíduo mais insignificante é grande; e a sociedade católica é uma sociedade de grandes. É uma coisa lindíssima, de uma elevação extraordinária, diferente do conceito pagão de plebe.
A grandeza não é senão um dos aspectos da sacralidade, vista enquanto dotada do esplendor e do poder próprio a produzir enlevo e fazer-se respeitar pelo temor. Assim como em Deus há aquilo que impõe temor reverencial, é admirável ver a majestade ou a grandeza capaz de impor medo.
Preparando o Grand Retour
Cabe aqui uma consideração sobre o papel dos protótipos e arquétipos nesta temática.
“Proto” é primeiro; protótipo é o “tipo primeiro”, portanto, o tipo mais alto. Mas é o tipo mais alto de algo que não toca no gênero superior e não está iluminado por ele. O protótipo não transcendeu, enquanto que o arquétipo transcende.
Vejam o efeito curioso do fato de estarmos num mundo feito para ser uma terra de exílio, em comparação com o Paraíso Terrestre.
Segundo essa teoria, deveria haver também entre os animais aqueles que constituíssem arquétipos do próprio gênero, tendo algo pelo qual fossem superiores. Nesse ponto, o imitar a voz humana e falar, ainda que sem entender, seria uma das características mais “arquetipizantes” do gênero animal.
O leão rugindo não emprega nenhuma palavra humana, mas tem algo parecido com a cólera do homem. De maneira que quando se quer dizer que um homem teve uma manifestação de cólera magnífica, poder-se-ia afirmar: “Rugiu como um leão!”
Então, o leão é mais bonito na sua cólera do que o homem, a ponto de se poder dizer que o homem rugiu como leão. Mas, na realidade e absolutamente falando, a cólera do homem é mais bela do que a do leão, porque é uma cólera intelectiva, racional, volitiva; a do leão é apenas instintiva.
Como as cóleras de Nosso Senhor teriam sido incomparavelmente mais bonitas do que o rugido de um leão! Ou então a indignação dos profetas. Elias, eu acho que era um leão!
O Criador deu ao canário a possibilidade de cantar, mas a de falar concedeu ao papagaio. Porém o papagaio é caricato. Suponho que isso seja assim para o homem cair em certas realidades neste vale de lágrimas. Por exemplo, quando se quer dizer que uma pessoa falou de modo ininteligível ou quando alguém repete o que outro disse, sem entender, diz-se que “papagaiou”.
Cada arara é um escrínio de pedras preciosas! Fala também, mas só para dizer idiotices… O rosto da arara é feio: uma carnatura com aquela espécie de círculo preto, uma coisa medonha! Mas o resto é de uma beleza da qual não se sabe o que dizer. A considerar apenas a penugem, hesito um pouco entre o pavão e a arara, por causa do esplendor das cores da arara.
Enfim, vai alta a Lua no solar da sacralidade… Creio que se pudéssemos dar passos significativos no estudo desses assuntos, estaríamos preparando o Grand Retour1.
(Extraído de conferência de 26/4/1989)
1) Do francês: Grande retorno. No início da década de 1940, houve na França extraordinário incremento do espírito religioso, quando das peregrinações de quatro imagens de Nossa Senhora de Boulogne. Tal movimento espiritual foi denominado de “grand retour” para indicar o imenso retorno daquele país a seu antigo e autêntico fervor, então esmaecido. Ao tomar conhecimento desses fatos, Dr. Plinio começou a empregar a expressão no sentido não só de “grande retorno”, mas de uma torrente avassaladora de graças que, através da Virgem Santíssima, Deus concederá ao mundo para a implantação do Reino de Maria.