Dona Lucilia foi a pessoa mais séria que Dr. Plinio conheceu em sua vida. Espírito muito profundo que ligava habitualmente todas as coisas às mais altas considerações. Ao mesmo tempo, ela possuía uma amenidade, uma doçura e uma sadia alegria de existir, mesmo nas ocasiões mais dramáticas.
Minha formação contrarrevolucionária eu devo fundamentalmente ao convívio com mamãe.
Mais ao convívio com ela do que a princípios abstratos ensinados por ela. Dona Lucilia não era uma doutora em Filosofia, mas uma dona de casa, e sabia o que comumente uma dona de casa sabe. Não possuía esses conhecimentos abstratos; e nem eu gostaria muito que tivesse. Eu venero esses princípios abstratos, faço deles o ar de minha alma, mas convêm mais ao varão do que à dama.
Aprendi com ela uma coisa diferente e que eu não sei ensinar; ela soube e eu não sei. É a seriedade florida. Ela foi a pessoa mais séria que conheci em minha vida. Espírito muito profundo que habitualmente ligava todas as coisas às mais altas considerações.
E por causa disso com uma integridade de julgamento moral muito grande e, portanto, recusando o que deve ser recusado. Mas com isso, uma amenidade, uma doçura, e via-se que a seriedade colocava dentro dela um ambiente tão agradável, tão perfumado, tão cheio de uma sadia alegria de existir, mesmo nas ocasiões mais terríveis, mais dramáticas em que eu a vi. Observando sua alegria sadia de existir, compreendi nela experimentalmente que a seriedade é a única fonte da verdadeira felicidade. Por aí veio o resto.
No Quadrinho1, isso se vê. Poder-se-ia escrever embaixo: “Seriedade florida!”
Aos 92 anos, quando mais nada floresce e tudo fala da sepultura, havia qualquer coisa nela de ameno, de deleitável, que não deixou de me encantar até o último instante de sua vida.
(Extraído de conferência de 27/8/1983)
1) Quadro a óleo, que muito agradou a Dr . Plinio, pintado por um de seus discípulos, com base nas últimas fotografias de Dona Lucilia . Ver Revista Dr. Plinio n . 119, p . 6-9 .