sábado, noviembre 23, 2024

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O inter-relacionamento nas sociedades e o mundanismo

Desde a mais primitiva tribo de aborígenes à mais requintada corte, toda coletividade humana forma para si uma concepção particular acerca de determinadas características e aspirações. Essas ambições próprias a cada grupo é o que constitui para cada um o mundanismo.

Onde existem homens reunidos forma-se uma espécie de opinião dominante, que é o mundanismo próprio àquele grupo humano. Ainda que seja a coisa menos mundana, no sentido corrente da palavra, ou menos parecida com o mundanismo, é um mundanismo que sopra como tal.

Mundanismo, uma concepção de determinada coletividade

Por exemplo, em certas tribos aborígenes, com aquela espécie de madeira dentro dos lábios, desde que aquilo corresponda a um certo modo de sentir e de ver deles, e configure, segundo eles, o tipo humano aceito e considerado pela maioria, aquilo é mundanismo.

O mundanismo começa por ser uma concepção e uma atualização de um determinado tipo humano que, coletivamente, se tem como um tipo que o gênero humano, ou ao menos aquela coletividade, deve realizar. Seria como o ímã de atração de todo aquele grupo humano, que o mantém reunido e sobre o qual paira um consenso do tipo perfeito que aquela coletividade quer realizar. Mas, às vezes, é perfeito segundo uma concepção que sabem ser defeituosa.

Quando se define um tipo humano que não se forma em função das qualidades, mas dos defeitos ou de um pot-pourri entre as qualidades e os defeitos da coletividade, estes últimos têm mais dinamismo do que as qualidades, em virtude do pecado original. E acaba sendo que esse tipo humano sopra de um modo persecutório para quem não quer aceitá-lo. Se o sujeito recusa aquele tipo humano, ou ele se isola e toca a sua vida em separado — e assim mesmo será malvisto —, ou será perseguido. Porque ele não pode ser como uma pedra colocada no meio de um rio contra as águas e fazendo desordem.

Marcello Casal JR/ABr (CC3.0)
Lideranças indígenas durante uma reunião em Brasília, Brasil

Quando se trata da perseguição dos defeitos do tipo humano apontados em linha reta contra as qualidades, quer dizer, os bons têm um tipo humano e os maus têm outro, nós temos o sopro da moda, do mundanismo: são os maus; e temos o sopro da Contra-Revolução: são os bons.

Então, o que vem a ser o mundanismo? Vem a ser, in genere, o tipo humano preponderante, mau, que sopra contra o tipo humano bom que quer resistir.

O mundanismo e sua oposição ao espírito guerreiro

Especificamente, o mundanismo é um determinado tipo humano que nós conhecemos e que data da época da “felicidade terrena”, em que todo mundo colocou como felicidade gozar a vida na Terra. Então, é o padrão capaz de formar, por exemplo, o tipo humano consumista, para conseguir o gáudio, o deleite contínuo na vida terrena, este tipo alegre, folgazão, despreocupado, cada vez menos medieval, menos heroico, até desaparecer o heroísmo. Ora, onde já não existe o heroísmo, existe apenas o puro e suíno estado de gozar a vida.

Isso forma, na História humana, um período contra o qual o subconsumismo staliniano e fidelcastrista é uma reação em extremo oposto. Mas mundanismo é o soprar deste tipo humano, diletantista e consumista, em oposição ao espírito de cruz, de ideal, metafísico, batalhador e guerreiro da Idade Média.

Está na ordem das coisas que o tipo humano diletantista teria que acabar sendo relativista, porque ele não quer saber de outra coisa. Enquanto o tipo humano não diletantista teria que tender para a afirmação da verdade absoluta. Cada um busca radicalizar-se na sua posição.

Teoricamente, o tipo humano corresponderia à média da opinião geral, mas de fato não é, pelo seguinte: o homem, seja de que escola for, quando adota uma postura com adesão de fato, ele tende para a radicalidade. Mas essa radicalidade, que é uma resultante do pendor dele, é maior ou menor conforme a adesão que ele deu.

Em geral, a maioria não tem pendores vivos e possui uma tendência para a inércia, que é combatida pela atração do tipo humano. A maioria daria uma média bem inferior ao tipo humano. Contudo, não é tão simples assim, pois o tipo humano mediano não é feito de uma mediania compacta. Ele, enquanto mediano, tem horas nas quais ele deseja muito a radicalidade. E, portanto, gosta que em alguma medida o arrastem para essa radicalidade, ainda que seja só para admirar. E por causa disso, ele sempre é levado pelos piores do que ele, para mais longe do que ele iria por si. Mas, no fundo ele quer.

A soledade se estabelece, sobretudo, quando o tipo humano verdadeiramente católico fica só em relação ao tipo humano em vigor, que é velada ou claramente anticatólico. Assim, por exemplo, o católico autêntico poderia sentir-se isolado mesmo estando rodeado de outros católicos frouxos; seria um isolamento menos completo, mas não menos pungente do que se ele vivesse em meio a pagãos.

NYPL (CC3.0)
Torneio entre cavaleiros no século XV

Tanto mais que alguns dos tipos humanos anticatólicos têm uma agressividade muito grande, velada em doçura.

O inter-relacionamento dentro das sociedades

No que diz respeito à formação do tipo humano, esta depende das circunstâncias, mas é um fenômeno tão importante que raras vezes deixa de ser verdade que a Providência e o demônio agem por detrás e por dentro dessas circunstâncias, em alguma medida. Existe uma automaticidade, sem dúvida, mas condicionada a isso.

Face a este assunto existem duas categorias de atitude. Uma é a de um tipo humano de uma sociedade, uma coletividade humana que está à procura do seu tipo. Mas quando ela está à procura, embora ainda não tenha encontrado, já sabe o que busca.

Outra atitude é a de um conjunto de homens que, sem perceber, se concerta em torno de uma certa concepção e ruma naquele sentido. Por exemplo, um grupinho de meninotes, rapazinhos de um bairro. Eles se constituem, às vezes, se imbricam muito durante o período de meninotes, mas se imbricam muito intensamente em torno de algumas coisas que são conjunções espontâneas, trazidas por circunstâncias, em torno de algo que é um tipo humano. Esse tipo humano muitas vezes é subconsciente e tende a ser realizado. Isso todo grupo tem, ainda que o tipo humano visado seja o da inércia e do desmazelo.

Posta a alma humana como é, e postas em contato essas almas entre si, levadas pelo instinto de sociabilidade, este instinto orquestra esses fenômenos todos. Há, portanto, regras fundamentais, simples, primeiras, que explicam o desenvolver desse inter-relacionamento dentro das sociedades. A respeito disso poderíamos tratar em outra ocasião.

(Extraído de conferência de 18/5/1989)

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