jueves, noviembre 21, 2024

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Adoração da personalidade de Nosso Senhor

Quando prestamos culto ao Coração de Jesus, adoramos a personalidade divina e insondavelmente perfeita de Nosso Senhor Jesus Cristo, a qual abarca todas as personalidades e todas as qualidades dos Anjos e homens, desde o começo da Criação até o fim dos tempos.

A solenidade do Sagrado Coração de Jesus é tão grande que não podemos deixar de fazer um comentário. Devemos considerar a relação dessa solenidade com as de Cristo Rei, do Imaculado Coração de Maria e da Realeza de Nossa Senhora.

Mentalidade de Nosso Senhor

A do Sagrado Coração de Jesus tem por objeto imediato cultuar o Coração físico de Nosso Senhor Jesus Cristo. Porém, cultuá-Lo em Si e enquanto símbolo da Alma Santíssima do Salvador, e que vem a ser aquilo que se poderia chamar a mentalidade ou, se quiserem, a psicologia de Nosso Senhor, com aquela composição de feitio de inteligência e de vontade que as noções de mentalidade e de psicologia retêm em si.

Arquivo Revista
IV Congresso Eucarístico Nacional realizado em 1942, na cidade de São Paulo, Brasil

Quer dizer, é uma solenidade na qual nós celebramos, por assim dizer, a personalidade divina e insondavelmente perfeita, única de Nosso Senhor Jesus Cristo, mas, ao mesmo tempo, abarcando todas as personalidades, quer dizer, contendo em grau supereminente, enquanto Homem e Segunda Pessoa da Santíssima Trindade, todas as qualidades de todos os Anjos e de todos os homens, desde o começo da Criação até o fim dos tempos. Isso é propriamente o que nós adoramos, quando prestamos culto ao Coração de carne de Jesus, Nosso Senhor.

Por uma simbologia de outra natureza, as pessoas acabaram se habituando a considerar no coração apenas o símbolo do amor, mas tomando a palavra “amor” com uma corrupção do século XIX, na acepção sentimental da palavra, significando apenas ternura, enquanto sentimento de alma.

É claro que Nosso Senhor Jesus Cristo tinha uma ternura supereminente enquanto Homem, e infinita enquanto Deus. Mas não é só a sua ternura – e poder-se-ia dizer que não é principalmente a sua ternura – que nós adoramos na solenidade do Sagrado Coração de Jesus, embora essa ternura seja digna de toda adoração possível. A personalidade de Nosso Senhor Jesus Cristo não se esgota em ternura; tem muitos outros adornos, predicados além da ternura.

Não é principalmente a ternura. Embora esta – com equilíbrio, com critério, conforme era em Nosso Senhor Jesus Cristo – seja uma grande perfeição de alma, entretanto ela não é a maior das perfeições que uma alma possui. Em Deus todas as perfeições são infinitas, mas na hierarquia de valores num homem a ternura não é, evidentemente, o principal valor.

Desejo de reconquistar por misericórdia uma humanidade revoltada

Entretanto, não deixa de ser verdade que a devoção ao Sagrado Coração de Jesus contém uma nota legitimamente acentuada no que diz respeito à misericórdia d’Ele, isto é, a bondade, a capacidade de perdoar, de passar por cima dos pecados, de amar, de dar sempre novas graças. E pode-se dizer que há qualquer coisa de legítimo no fato de que a piedade no século XIX, romântica por alguns lados, focalizou principalmente a ternura do Sagrado Coração de Jesus. O mal foi que, às vezes, tenha focalizado só a ternura.

Em fins do século XVIII e ao longo do XIX, vemos começar a se dar a grande expansão da devoção ao Sagrado Coração de Jesus, a qual foi quase clandestina antes da Revolução Francesa. São João Eudes a pregou, Santa Margarida Maria Alacoque também, mas era uma devoção de tal maneira considerada audaciosa, e quadrando pouco com o ambiente da época, que um filho de Luís XV, tendo querido erigir um altar na capela de Versailles, não teve coragem de erigir lá, e mandou colocar uma imagem do Sagrado Coração de Jesus do lado de trás do altar, onde, aliás, ela ainda existe. Vejam o misto de ortodoxia e clandestinidade que havia nesta devoção.

Portanto, o grande desenvolvimento desta devoção ocorreu no século XIX. E nós podemos dizer que, apesar de todo o caminho tortuoso, foi também no século XIX que começou a reconquista do mundo da parte de Nosso Senhor. E nesse século houve enorme progresso da Igreja Católica, grande surto de dogmas marianos, a expansão da devoção ao Papa, a definição do dogma da infalibilidade papal, a devoção ao Santíssimo Sacramento, o movimento ultramontano, pari passu com o desenvolvimento da devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

Qual é a relação entre tudo isso?

O Sagrado Coração de Jesus, sendo visto de um ângulo de misericórdia, de bondade e de perdão, não castiga os homens na medida em que merecem, mas procura lhes fazer um bem ao qual eles não têm direito. Vem daí, então, o desejo de reconquistar por misericórdia uma humanidade revoltada e de prodigalizar graças, uma em cima da outra, para, apesar de serem mal acolhidas, operar essa reconquista dos homens.

Depois dos castigos preditos em Fátima, virá o Reino de Maria

Após o reinado de São Pio X, o curso da História da Igreja muda. Nós temos ainda uma expansão grande de piedade com o florescimento da devoção a Santa Teresinha do Menino Jesus, que se deu no reinado de Pio XI, quando as primeiras neves do progressismo e do modernismo começavam a cair sobre o mundo, depois da grande repreensão de São Pio X.

Mas essa foi uma flor que desabrochou na boca do inverno. De lá para cá, nós não notamos na Igreja nenhum grande movimento de piedade, nenhum desses surtos enormes que levam milhões e milhões de almas a se entusiasmarem, a se afervorarem, como foi no movimento ultramontano do século XIX.

Vimos no Brasil, de um modo efêmero, o esplendor das Congregações Marianas, que se deu ainda no tempo de Pio XI, em que nosso país, por atraso, vivia ainda o pontificado de São Pio X. Tivemos, mais ou menos, uma década de desenvolvimento do movimento mariano, de 1928 a 1938. Depois disso, sucumbiu também.

Embora a devoção ao Sagrado Coração tivesse perdido muito, a devoção ao Imaculado Coração de Maria ter-se difundido bem menos, essas carências de expansão na Igreja não são sempre frutos de infidelidades; são muitas vezes tesouros que a Igreja como que guarda para dias piores.

Dario Iallorenzi; Luis C. R. Abreu

Então se compreende que, rejeitado o Sagrado Coração de Jesus, venha o Reino do Imaculado Coração de Maria. É a Mãe do Perdão que veio onde Ele foi recusado, para perdoar ainda mais, ir aonde só a mãe pode chegar e o pai não vai.

Não estou afirmando que Nossa Senhora é mais misericordiosa do que seu Divino Filho; quero dizer que Ela é a fina ponta da misericórdia d’Ele. Nosso Senhor manda sua Mãe aonde Ele, como que, não poderia ir. Ele encontra este “artifício” de mandar a sua Santíssima Mãe até lá.

Então, Maria Santíssima recomeça a reconquista do mundo. Fátima, um movimento muito mais difuso do que o do Sagrado Coração de Jesus, é alguma coisa na qual se preconizou o Imaculado Coração de Maria. E nós vemos uma espécie de luta da Providência desafiando os homens, dizendo: “Vocês são tão ruins, mas serei de uma tal bondade que vou vencer toda a ruindade de vocês. Eu acabarei triunfando.”

Isso indica uma vontade deliberada de reinar, de acabar vencendo que, aliás, é muito expressa na mensagem de Fátima: “Por fim o Meu Imaculado Coração triunfará.”

Então, nossa atenção se concentra nessa imagem final: o Sagrado Coração de Jesus, fonte infinita de graças que escoa através do Imaculado Coração de Maria, canal de todas as graças, e inunda a humanidade para reconquistá-la. Uma reconquista na qual é preciso estar perdoando sempre, concedendo sempre mais graças, mas em que, num determinado momento, cairão também os castigos preditos em Fátima, após os quais virá o Reino de Maria.

(Extraído de conferência de 5/6/1970)

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