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Dr Plinio um ano antes de sua candidatura a deputado.

Embora trabalhasse com despretensão, afinco e eficácia pelos interesses da Igreja na Constituinte, Dr. Plinio viu-se objeto de boicote e perseguição. Entretanto, apesar de convites e ameaças no sentido contrário, manteve sempre íntegra sua fidelidade à Lei de Deus e à Causa Católica.

Antes de começar a apuração dos votos, encontrei-me com um dos candidatos, Azevedo Marques, um senhor idoso. Ele se dirigiu a mim, dizendo:

– Oh, aqui está o mais votado dentre nós! O candidato já eleito.

– Ora, Dr. Azevedo Marques, eleito é o senhor, um homem já conhecido, ilustre, e não um novato como eu.

– Não, eu tenho informações. Todas as “Filhas de Maria” do interior do Estado votaram em você.

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Congregados marianos de São Paulo reunidos para comemorar a eleição de Dr. Plinio (em destaque), como deputado, em maio de 1933

Pouco depois veio a confirmação, eu fora eleito.

Uma missão que trazia em si uma bênção e uma maldição

Passaram-se alguns meses, perto de um ano, até se reunir a Constituinte, período intensamente aproveitado por mim para leituras. Foi então que li o Tratado de Direito Natural, de Taparelli d’Azeglio, A alma de todo apostolado, de Dom Chautard e A conjuração anticristã, livro escrito por Mons. Delassus.

…ou o apóstolo é completamente isento de amor-próprio, ou enterra a causa que ele pretende servir

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Confesso que o livro-chave para mim nesse período não foi só o Tratado da verdadeira devoção à Santíssima Virgem, de São Luís Maria Grignion de Montfort, mas também o de Dom Chautard, pois me serviu de muralha contra a grande, a tremenda tentação a que eu poderia estar exposto, que era a do amor-próprio, correspondente à seguinte situação: aos 24 anos de idade, o deputado mais votado do Brasil; portanto, com toda a publicidade colocada em cima de mim, uma espécie de celebridade e uma carreira indefinida à minha frente.

Dom Chautard punha os pingos nos is: ou o apóstolo é completamente isento de amor-próprio e não visa a carreira, mas exclusivamente o serviço da Igreja, ou enterra a causa que ele pretende servir. Donde a conclusão: a vitória da Igreja na Constituinte podia encerrar o período de laicismo, o que afirmava de um modo tão esplêndido a força do poder da Igreja, quarenta anos depois de separada do Estado. Essa vitória, no que tocava a mim, consistia em que eu não permitisse um movimento de vaidade, por menor que fosse.

Deveria estar pronto, a qualquer momento, a entregar meu cargo, a renunciar à minha carreira, a voltar a ser zero desde que a Causa Católica exigisse. E para ver as coisas de frente, a verdade é a seguinte: Eu era incumbido de fazer um enorme apostolado e essa missão trazia consigo, em gérmen, uma bênção e uma maldição. Uma bênção, se eu fosse inteiramente desapegado; uma maldição, se me tornasse apegado, porque poderia ir abaixo todo o apostolado.

E começava, então, a luta contra o orgulho, pois se todo ser humano concebido no pecado original tem impulsos de amor-próprio, era bem evidente que eu os possuía também. De outro lado, sentia em torno de mim o coro da bajulação que surgia, com a fama de muito bom orador.

A Providência exigia de mim um desapego duríssimo

Outra razão ainda me levava a pegar o cargo de deputado com todas as forças: era bem rendoso. Se eu não ascendesse a esse posto, cairia na miséria, por causa do seguinte fato ocorrido naquele tempo.

Meu pai era um bom advogado, mas teve uma indústria com a qual foi mal sucedido, precisando fechar seu escritório em São Paulo e advogar no interior. Mas ali, já alquebrado, ganhava apenas o suficiente para se manter. Minha mãe morava comigo e com minha irmã, em casa da mãe dela, a qual não era uma senhora muito rica, mas bem abastada. Assim, quando minha avó morresse, minha mãe herdaria o necessário para viver despreocupada. E para mim isso bastava. Depois, eu trataria de fazer a minha vida, de maneira que não tinha preocupações econômicas.

Deveria estar pronto a entregar meu cargo, a renunciar à minha carreira, a voltar a ser zero desde que a Causa Católica exigisse.

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Vista aérea do Hotel Glória – Rio de Janeiro, Brasil

Porém, nesse ínterim, um dos irmãos de minha mãe fez maus negócios e minha avó hipotecou um prédio dela, que era o grosso de sua fortuna. Com a queda da moeda nacional, a hipoteca “comeu” o prédio inteiro, e a fortuna dela levou a breca.

O que restava à minha mãe para herdar era uma insignificância. E, portanto, se não ficasse deputado, ela e eu cairíamos na mais negra miséria. Para mim ficava posta a alternativa: fazer carreira, celebridade, dinheiro, ou a miséria. E a miséria particularmente dolorosa, porque não era só para mim – porque um rapaz, de algum modo, se arranja –, mas era a miséria para a minha mãe.

A Providência exigia de mim, portanto, um desapego duríssimo, porque não era o desapego de um homem que tem o chão firme debaixo dos pés e desiste de uma situação melhor, mas era aceitar, se fosse preciso, a vergonha de deixar de ser deputado e sofrer um fracasso, uma catástrofe, passar para o grau zero.

Tratava-se de uma batalha interior não tanto contra um rugido da vaidade, mas um combate contra uma porção de formas de vanglória tentando pegar-me a todo instante. Uma luta meticulosa, pois eu percebia que se desse a menor trela à vaidade entrava em minha alma o apego, e dificilmente teria as forças necessárias para enfrentar a hipótese de uma miséria. Ora, eu compreendia que facilmente podia acontecer uma crise política, revolução, qualquer coisa por onde, de repente, meu mandato cessasse. Com facilidade eu poderia receber um ultimátum: “Ou você se vende para o adversário, ou nas próximas eleições não vai ser eleito.” Intrigas, etc….

“Aguento! Nossa Senhora, dai-me forças! Vamos tocar para a frente.”

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Dr. Plinio, em 1934, com os membros da bancada paulista, por ocasião de um jantar solene no Hotel Copacabana, Rio de Janeiro

Eu tinha que tomar, portanto, a resolução de não ceder.

As primeiras perplexidades

Lembro-me de que o grosso de minha preparação para exercer o cargo de deputado foi essa batalha para conservar o desapego interior, o qual começou a ser posto à prova logo que cheguei ao Rio de Janeiro.

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Jornal “A Gazeta”, 20 de março de 1934

A minha partida de São Paulo, por ser deputado, foi ultralisonjeira. A estação ferroviária repleta, palmas, vivas, etc. Um triunfo! Era noite. Chego de manhã ao Rio de Janeiro, acompanhado de meus familiares que tinham ido para assistir à minha tomada de posse na Assembleia Constituinte, e nos dirigimos ao Hotel Glória que, naquele tempo, era de grande luxo. Eu sempre pensando “com meus botões”: “Você nesse luxo, mas amanhã, miséria. Você aguenta a miséria? Suporta decair e ver sua mãe, que está agora nesse galarim, morando numa casa de um bairro operário?”

Minha resposta foi: “Aguento! Nossa Senhora, dai-me forças! Vamos tocar para a frente.”

Nos primeiros dias, verifiquei que havia deputados eleitos pela LEC mais ou menos de todo o Brasil, e que seria possível formar uma bancada de trinta a cinquenta deputados. De todos os deputados eleitos, certamente o mais conhecido como católico era eu. Por outro lado, dentre todos era o mais considerado como bom orador. Portanto, o natural seria me designarem para líder da bancada católica.

Entretanto, Tristão de Athayde convocou uma reunião dos deputados católicos, na sede da LEC do Rio, localizada perto da Câmara dos Deputados, para dar as normas de Dom Leme. Disse ele:

“O Sr. Cardeal Leme resolveu três coisas: Não vai haver uma bancada de deputados católicos. Os senhores devem estar dispersos nas bancadas dos respectivos Estados. Segundo, por causa disso, não vai haver deputado líder católico. O líder católico dos deputados vou ser eu, do lado de fora da Câmara; os senhores venham aqui receber as diretrizes do Cardeal Leme. Terceiro, nenhum deputado católico deve fazer qualquer discurso a respeito de pontos de reivindicações católicas porque, como já estamos com a maioria garantida, o Cardeal tem certeza de que a maioria votará a favor de tudo que desejamos; um discurso só pode atrapalhar. De maneira que se quiserem fazer discursos sobre política, é com os senhores. Em nome da LEC ninguém poderá discursar.” E, por fim, outra proibição: “Os senhores estão proibidos de contar que estão proibidos de falar.”

Percebi que uma parte do que os católicos em São Paulo esperavam de mim escapava–me das mãos

Eu não tinha bastante experiência política para objetar, e algumas dessas decisões eram até razoáveis. Mantive-me quieto, mas percebi que uma parte do que os católicos em São Paulo esperavam de mim escapava-me das mãos.

Fiquei perplexo e comecei a frequentar as reuniões da bancada paulista, realizadas todos os dias, de manhã. À tarde, reunião da Câmara dos Deputados e, à tardinha, reunião dos deputados católicos na sede da LEC do Rio.

Um vazio esquisito vinha se fazendo ao meu redor

Percebi desde logo que no Rio de Janeiro as coisas não corriam como em São Paulo se esperava, porque eu não tinha nenhuma possibilidade de discursar. O Tristão de Athayde organizou uma série de conferências culturais de deputados na sede do Centro Dom Vital. Eram, se não me engano, dez conferências, duas por mês. A minha era a nona. Ora, sendo eu o deputado mais votado, por que me postergar dessa maneira? Nos jornais iam sair essas listas, e daria a impressão de um meninote que a LEC não tomava a sério e empurrava para o fim. Isso era confirmado pelo fato de eu nunca fazer discurso.

Embora estivéssemos autorizados a falar sobre política, se eu fizesse discursos sobre esse tema dividiria meu eleitorado, unido em matéria religiosa, mas não em política. De maneira que me sentia atarraxado.

O que eu fazia? De manhã, nas reuniões da bancada paulista, lutava para as emendas católicas entrarem e serem aprovadas unanimemente. À tarde, na Assembleia, fazia o mesmo, conversando com um e outro deputado, pedindo para as emendas passarem na Câmara. À tardinha, ia ouvir a palavra de ordem do Tristão de Athayde, e à noite permanecia isolado, bloqueado. Não havia um congregado mariano que me procurasse, uma associação católica que me convidasse para nada. Eu passava as noites sozinho em meu quarto, no hotel. Esse era outro sintoma inquietante do isolamento em torno de mim. Quer dizer, eu percebia que um vazio esquisito vinha se fazendo ao meu redor.

Fui por cima dele com um aparte tonitruante, desafiando-o e dizendo que não havia dissociação entre a Religião e a Pátria.

Eu aproveitava algumas ocasiões que apareciam para quebrar esse silêncio como, por exemplo, o aniversário da morte de José de Anchieta. Então requeri à Câmara para fazer um discurso, como deputado paulista, em comemoração a esse apóstolo do Brasil. Contra isso ninguém podia dizer nada, porque não dizia respeito às emendas católicas, e era uma oportunidade de fazer uso da palavra. Fiz o discurso e, graças a Deus, repercutiu muito bem, até na imprensa paulista.

Outra ocasião se deu quando um deputado comunista fez um ataque à honra dos deputados católicos, dizendo não termos ideal patriótico, que éramos exclusivamente vendidos para o Vaticano. Então fui por cima dele com um aparte tonitruante, desafiando-o e dizendo que não havia dissociação entre a Religião e a Pátria. Dei tais berros que ele mesmo ficou espantado. Tal foi o berreiro, que estando, em 1961, na Câmara dos Deputados, já sediada em Brasília, para tratar de uma questão sobre a Reforma Agrária, um funcionário da secretaria olhou atentamente para mim e me perguntou:

– O senhor já foi deputado, não?

– Fui.

Mas não dei o meu nome.

– Eu vou me lembrar do seu nome…

Considerem que o tempo tinha corrido e eu mudara muito.

Ele disse:

– O nome, aqui de momento, não me lembro, mas o senhor foi quem fez aquela apóstrofe ao deputado comunista, não?

– Foi.

– Apóstrofe como aquela, eu ainda não vi na Câmara dos Deputados. O senhor teve coragem! Espere um pouco… o senhor se chama Plinio Corrêa de Oliveira.

– Sim senhor! É isso. O senhor tem boa memória!

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Dr. Antônio Carlos Ribeiro de Andrada Machado, presidente da Assembleia Constituinte

“Ele luta mesmo pela Causa Católica!”

Ao longo de meu mandato, relacionei-me muito bem com os deputados de outros Estados, a tal ponto que se deu o seguinte episódio.

Certa noite, já muito tarde, fui acordado pelo telefone do hotel em que eu estava.

– Dr. Plinio, aqui fala Alcântara Machado.

– Pois não, Dr. Alcântara, o que o senhor deseja?

– Eu queria lhe pedir o favor de vir com urgência à minha casa, porque a situação política se tornou muito grave e vou precisar do senhor.

Tomei imediatamente um táxi, fui à casa dele e encontrei-o muito apreensivo. Ele disse:

– Olha, houve uma encrenca com o Deputado Juarez Távora. E o amigo dele, Deputado João Alberto, declarou que amanhã vai arrancar o Presidente da Câmara, Antônio Carlos Ribeiro de Andrada, pelas orelhas do lugar de Deputado Federal e fechar a Constituinte. Como o senhor é um dos deputados mais relacionados que a bancada paulista tem, eu queria pedir-lhe para começar a percorrer agora os deputados de outros Estados, explicando o acontecido e solicitando que façam uma pressão forte amanhã para não ser dissolvida a Assembleia.

Fiquei espantado, porque a bancada paulista sempre fora completamente indiferente a todas as minhas relações com as outras bancadas.

De fato, imediatamente tomei um automóvel e comecei a percorrer as casas dos deputados católicos, com os quais era mais relacionado.

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Dom Gastão Liberal Pinto (aqui já nomeado Bispo de São Carlos, no interior de São Paulo)

No dia seguinte, abre-se a Câmara num ambiente de expectativa. O Antônio Carlos estava pálido como um castão de bengala de marfim, e levou o lequinho para se abanar. O João Alberto andava com ares de soldadão pelo meio da Constituinte, e todo mundo tenso… Afinal, a crise se aplacou.

Isso mostra como esse trabalho de articulação era bem grande e bom. A este respeito deram testemunho vários deputados como Cardoso de Melo, Barros Penteado e outros, os quais, conversando com padres chegados à Cúria, diziam: “Olhe, vocês mandaram um representante esperto para lá, e ele luta mesmo pela Causa Católica!”

Certa vez apareceu na Câmara Mons. Gastão Liberal Pinto. Creio que foi para ver minha atuação, mas não percebi sua presença. Terminados os trabalhos daquele dia, ele me disse:

– Olha, meus parabéns! Vi você trabalhar o dia inteiro, falando com uns, com outros, e estou muito satisfeito com o deputado que nós pusemos no lugar.

Duas opções: a carreira ou a defesa da Causa Católica

Mas enquanto essas coisas se davam, em São Paulo se desatava um boato calunioso de que eu era tímido, tinha fracassado como orador, e a prova disso era que só pronunciara um discurso.

Ora, tudo quanto era feito por mim nos bastidores eu não podia publicar. Então, a calúnia crescia nos meios católicos paulistas contra mim, e eu não tinha defesa nenhuma. Era mais um lado por onde me sentia isolado e me aproximando da miséria, porque dentro de um ano terminaria o meu mandato de deputado, e estaria tudo desfeito.

Afinal, as emendas católicas foram sendo votadas e entrando na Constituição, inclusive duas emendas que inicialmente não estavam no nosso programa e foram apresentadas durante os trabalhos da Assembleia Constituinte. Eram elas: a promulgação da Constituição em nome de Deus e o estabelecimento do casamento religioso com efeito civil.

Apesar dos convites recebidos, Nossa Senhora ajudou-me a optar por não abandonar a Causa Católica.

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Dr. Plinio, no Rio de Janeiro, durante seu mandato de deputado, em 1934

Tudo isso significava uma vitória católica sem nome! E o panorama católico no Brasil estava largamente mudado. A Igreja aparecia como uma potência em nosso País e as leis brasileiras tinham perdido não toda, mas uma boa parte da carranca laicista que as caracterizavam anteriormente.

Nossa Senhora quis servir-Se de mim como instrumento para lançar a ideia da Liga Eleitoral Católica e fazer andarem as negociações para sua realização, utilizando-me como um dos propulsores do movimento mariano que estava na raiz da vitória da LEC.

Entretanto, à medida que ia sendo votada a Constituição, a Constituinte ia chegando ao seu fim, tanto mais que ela aprovou um artigo dizendo que seis meses depois de votada a Constituição, ela se dissolveria. E o problema para mim ia ficando, debaixo de dois pontos de vista, cada vez mais agudo.

Primeira pergunta, quanto à Causa Católica: Depois da Constituinte, haveria outro congresso com eleição de deputados católicos, ou fecharia a LEC e voltaria tudo como era antes?

Segunda indagação: Se houvesse eleição para deputados católicos, meu nome estaria incluído nessa lista? Se não estivesse poderia significar para mim a miséria, mas também com a miséria a perda do meu prestígio entre os congregados marianos. Isso acontecendo, todo o impulso que eu vinha dando ao movimento católico, no sentido de se tornar contrarrevolucionário e de realizar os ideais que eu tinha a favor da Igreja, ficava comprometido. Era, portanto, meu apostolado que ficava comprometido, como também a possibilidade de eu sobreviver.

Então a pergunta aguda continuava a ser esta: “Você tem ou não coragem de aceitar tudo, inclusive o fracasso de seu apostolado, mas não ficar um homem à procura de carreira e que abandone a Causa Católica para ser um mero político?”

Apesar dos convites recebidos, Nossa Senhora ajudou-me a optar por não abandonar a Causa Católica.

Estado de espírito de Dona Lucilia

Conto um pequeno episódio para se ter uma ideia do estado de espírito com que Dona Lucilia acompanhou minha eleição e tomada de posse.

O dia da inauguração da Constituinte representou uma grande solenidade no Rio de Janeiro, pois as cerimônias da vida pública naquele tempo se faziam com muito mais solenidade do que hoje.

Mamãe era uma senhora doente e não podia ficar longo tempo de pé. Levei-a até a tribuna reservada aos familiares dos deputados, mas não pude acompanhá-la exatamente até o seu lugar nessa tribuna, porque a sessão ia começar. Então, desci correndo para o lugar reservado aos deputados e me pus de pé no corredor central, a olhar para a tribuna dos familiares, procurando ver se ela estava convenientemente acomodada. Quando a vi sentada e olhando para mim, acenei para ela e fui para meu lugar.

“…o que me significou mais foi o fato de você, ter-se lembrado de mim. Aquilo me revelou de sua parte um tal senso do dever que eu até agora me lembro disso.”

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Assistentes da inauguração da Assembleia Constituinte. Em destaque, da esquerda para a direita: Dr. João Paulo, Da. Lucilia e Da. Rosée

Terminada a sessão, dirigi-me com ela, meu pai e minha irmã, para o hotel. À noite, após o jantar, antes de nos recolhermos, ela me disse o seguinte, espontaneamente: “Tive muito prazer em que você fosse eleito deputado e em assistir à posse. Sem dúvida, na sua idade, uma coisa muito honrosa, com muitas possibilidades de você prestar serviços à Religião. Você não tem ideia da minha alegria em vê-lo como um deputado católico.”

Vê-se que ela não gostaria, nem um pouco, que eu fosse deputado político.

“Entretanto, o que me significou mais foi o fato de você, naquela hora de sua posse, ter-se lembrado de mim e verificar se eu tinha encontrado um lugar. Aquilo me revelou de sua parte um tal senso do dever e uma tal amizade, que eu até agora me lembro disso.”

Os que se encontram neste auditório percebem como todas as preocupações políticas, de grandeza terrena, ficavam para ela abaixo da Religião, dos vínculos afetivos e de outras coisas. Não sei se seriam muitas as mães que pensariam dessa maneira.

(Extraído de conferência de 22/6/1973)