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O Deus das vinganças está se aproximando e vai vencer

Não podemos considerar que os castigos preditos por Nossa Senhora em Fátima estão por se realizar, pois já começaram a acontecer. O que está ocorrendo com a Igreja é, segundo toda a evidência, um castigo. A Igreja é o centro do gênero humano, a entidade que a Santíssima Virgem mais ama na Terra. Se o castigo começou na parte mais nobre, que é a Igreja, não tem todas as razões para temer esse castigo a parte inferior, a sociedade civil, se esta persevera no mal?

Devemos fazer um comentário a respeito de Nossa Senhora de Fátima, tema tantas vezes tratado entre nós e que, entretanto, precisa ser comemorado sempre com uma especial solenidade.

De 1917 para cá, o mundo piorou espetacularmente

Dos múltiplos aspectos que o acontecimento de Fátima desperta, creio haver um que vem mais a propósito assinalar no presente comentário. Antes de tudo, devemos considerar nesse acontecimento – o qual está revestido de um caráter profético –, como traço saliente no meio de todos os aspectos, o fato de Nossa Senhora ter prometido ao mundo misericórdia se houvesse emenda de vida e fosse feita a consagração pedida por Ela; e, ao mesmo tempo, ameaçando com castigos caso o mundo não se emendasse e não se realizasse essa consagração. Esse esquema, que é a essência das revelações de Fátima, é também a substância de várias profecias do Antigo Testamento.

Em relação ao povo judeu e seus inimigos, vários profetas se levantaram tendo exatamente a mesma linguagem e apresentando esta mesma alternativa: bênção e louvores caso se emendassem, castigo se não se convertessem.

Arquivo Revista

Já a ameaça é um ato de misericórdia, porque Nossa Senhora adverte por bondade, para não castigar, como uma mãe que, não querendo punir o filho, diz: “Não faça tal coisa, porque se fizer, eu serei obrigada a castigar.” Como quem afirma: “Ameaço não porque eu esteja com vontade de punir, mas porque sua situação é tal que, a perseverar nela, apesar de minha misericórdia, serei obrigada a castigar.”

Várias profecias são assim, e Nossa Senhora fez tipicamente em Fátima uma profecia, segundo esse esquema.

Passaram-se, de 1917 para cá, cinquenta e dois anos. Ao longo desse tempo, tudo quanto afligia Nossa Senhora em Fátima, e do que Ela se queixou no procedimento do mundo contemporâneo, não só não melhorou, mas piorou espetacularmente.

O castigo já começou com o que está ocorrendo com a Igreja…

Quando temos em vista que nos encontramos, portanto, na pista do castigo, não podemos deixar de entender que essa fabulosa crise que se desenrola na Igreja está na linha desse castigo. Porque, quando consideramos uma entidade como a Igreja, que está sendo castigada – pois o que está ocorrendo com a Igreja é, segundo toda a evidência, um castigo –, e vemos que a Santíssima Virgem prometeu uma punição ao mundo, do qual essa entidade é o eixo, entendemos que, atingindo o eixo, a punição atinge toda a circunferência e, portanto, essa crise que lavra dentro da Igreja está compreendida, implícita ou explicitamente, nos castigos profetizados em Fátima.

Agora, poderíamos nos perguntar se esta situação dentro da Igreja não foi realmente prenunciada em Fátima.

Se Nossa Senhora tivesse prenunciado em Fátima o castigo da Igreja, é certo que isso teria sido mantido secreto. Ora, há um segredo que ainda está sendo mantido, o que leva a crer ser esse um dos elementos do segredo. A Santíssima Virgem deve ter dito coisas muito duras a respeito do futuro da Igreja e do clero. E porque não se deu importância a isso, naturalmente aconteceu o que Ela prometeu.

…e virá também a punição do mundo

Então, em vista disso, não podemos considerar que os castigos preditos por Nossa Senhora em Fátima estão por se realizar, mas nós devemos julgar que já começaram a acontecer. Quer dizer, é um sistema de castigos, um processo punitivo que já se desencadeou. E tendo se desencadeado, é muito mais provável admitir que ele chegue até o fim do que pare.

A Igreja é o centro do gênero humano, uma sociedade espiritual, o que há de mais elevado entre os homens; e toda a História gira em torno dela. A Igreja é o que Nossa Senhora mais ama na Terra. A salubridade da Igreja é a condição para a salubridade de todas as coisas morais e espirituais nesta Terra.

Destaco estes dois traços: o que a Santíssima Virgem mais ama na Terra é a Igreja, primeiro traço. Segundo: a salubridade da Igreja é condição para a salubridade de todas as coisas da Terra.

Ora, se considero o primeiro traço, vejo que Nossa Senhora castigou aquilo que Ela mais ama. Será que Ela poupará todo o resto, que também não está se emendando? Se o castigo começou na parte mais nobre e que menos deveria recear, que é a Igreja, não tem todas as razões para temer esse castigo a parte mais vil, se esta persevera no mal?

Então, o castigo da Igreja nos faz ver que seria muito de espantar se não viesse a punição para o mundo.

O segundo aspecto da questão é a salubridade da Igreja, como condição da sanidade de tudo. Ora, a Igreja está insalubre como nunca na História. É possível que o mundo não seja contaminado com essa insalubridade?

Portanto, precisamos ver já em curso todos os castigos profetizados por Nossa Senhora. Isso deve nos levar a preparar as nossas almas para crer na mensagem de Fátima.

Processo punitivo que está chegando ao seu paroxismo

Eu repito esquematicamente o raciocínio.

Primeiro ponto: a mensagem de Fátima é uma profecia. Não é uma profecia oficial, como foi a dos profetas do Antigo Testamento, do Apocalipse, mas é uma profecia autêntica com todas as características de uma profecia: a denúncia de um estado altamente censurável, um convite amoroso a abandonar esse estado, uma ameaça e, mais do que isso, a previsão de um castigo caso esse estado de coisas não seja abandonado.

Segundo ponto: essa profecia, no que ela tem de público, não fala de um castigo à Igreja, ou pelo menos não trata de um modo frisante, saliente, de um castigo à Igreja, mas sim de um castigo para o gênero humano. Fala a certa altura que o Papa vai ter muito de sofrer, porém não diz diretamente que os sofrimentos do Papa são por causa dos pecados da Igreja.

Mas a profecia tem um aspecto secreto, um segredo. Ora, nós vemos que a Igreja foi e está sendo duramente castigada. Nossa Senhora não terá falado desse castigo da Igreja? Naturalmente sim. Pois quem fala de castigo para o mundo, é normal que fale do pior desse castigo que é o castigo para a Igreja. Logo é sumamente provável, tudo leva a crer que o castigo da Igreja seja um dos elementos da profecia de Fátima.

Se isto é verdade, a profecia de Fátima não está para se cumprir, mas já começou a se realizar. Sendo assim, devemos nos perguntar se há razões para esperar que esse processo punitivo se detenha.

Então, a resposta é: se esse processo está chegando, quase se diria, a seu termo, ao seu paroxismo em relação à parte mais amada e mais nobre, por que não chegará também ao seu paroxismo em relação à parte menos nobre e menos amada, que é a sociedade civil? Enormemente amada, mas menos do que a Igreja. Tanto mais que a sociedade civil não se emendou. Ela persevera no pecado.

Vicente Torres
Cúpula da Basílica de São Pedro – Vaticano, Itália

Depois, quando a Igreja está insalubre, o mundo se torna insalubre. E esta insalubridade do orbe chegou a tal ponto que tem de trazer uma convulsão suprema para o mundo. Portanto, nós devemos dizer que começou já na Igreja e, por causa disso, estão postas as causas por onde é inevitável que atinja a sociedade civil. Então, não é só dizer que o castigo já começou, mas começou na sua raiz. E quem golpeia a raiz, golpeia a árvore toda. É assim que nós devemos ver a profecia de Fátima.

Alegria porque afinal de contas o Reino de Maria vai chegar

Alguém poderá dizer: “Dr. Plinio, o que eu não compreendo é o seguinte. Dia de Nossa Senhora de Fátima é dia de nossa Mãe, dia da ternura, do afeto. Ao invés de tratar da ternura e do afeto d’Ela, o senhor nos mostra Nossa Senhora numa análise seca da profecia d’Ela, para tirar algo que nos atormenta, que nos estremece. É esta a festa de uma mãe?”

Eu afirmo o seguinte: qual é o modo de festejar um profeta a não ser por um ato de fé na sua profecia? Foi por amor que a Santíssima Virgem revelou tudo isso. Ela nos dá a possibilidade de admirar os altos desígnios de Deus, de contemplá-Lo enquanto Regedor de toda a História, como Autor de todos os movimentos que se fazem na História, inclusive enquanto Ele permite o mal, para daí tirar para Si sua maior glória. Há, portanto, mil razões que não cabem numa conferência, para nos enlevarmos com isso e adorarmos a Deus.

Mas, uma vez que Nossa Senhora falou, não há melhor ato de reconhecimento às palavras amorosas d’Ela do que procurarmos entender essas palavras e tomá-las a sério. E por isso uma comemoração séria do dia de Fátima é uma análise séria da profecia.

Oxalá, a Santíssima Virgem, na alma de cada um de nós, dê as graças por onde isso frutifique naquela espécie de alegria, de entusiasmo, de desprendimento que a certeza da realização da profecia dá. Porque há uma graça própria a essa realização por onde ela não atormenta, não apavora, nem sequer é recebida com uma fria indiferença, mas enche de alegria. É uma forma de zelo pela Lei e pela glória de Deus, por onde se tem um alívio de ver que, afinal de contas, o Deus das vinganças está se aproximando e vai vencer, e que o Reino de Maria vai chegar. É a única forma de alegria que enche a alma do contrarrevolucionário que abnegou completamente a si mesmo.

É essa alegria que eu desejo a todos nesta data. Vamos rezar a ladainha do Imaculado Coração de Maria, uma vez que Nossa Senhora, numa de suas aparições, manifestou-Se com o Coração à mostra, circundado de espinhos.

(Extraído de conferência de 13/5/1969)

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