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Soldados do Senhor Deus dos exércitos

A fortaleza se exprime na vida humana de um modo mais sensível na carreira militar. Dos vários exércitos contemporâneos, nenhum levou as qualidades militares mais longe do que o exército alemão do tempo do Kaiser. Seus membros estavam impregnados da ideia de holocausto na defesa de um princípio, fazendo com que não medissem riscos nem cansaços.

Segundo a Doutrina Católica, tudo quanto há de nobre e de belo no mundo é um reflexo de Deus. Portanto, o Criador possui todas as perfeições em grau supremo, de um modo inimaginável, mas inteligível.

Gabriel K.
Cristo, o Rei – Igreja das Bodas de Caná, Kafr Kanna, Israel

Mais ainda, não se pode dizer que Deus tenha determinada perfeição, pois Ele é substancialmente aquela perfeição. Por exemplo, Ele não possui o mais alto grau de bondade apenas, mas é a Bondade! Todos os graus e formas de bondade existentes nos Anjos e nos homens não constituem senão participações criadas da Bondade infinita e incriada que é Deus.

Assim, alguém que dissesse: “O Senhor expulsou os demônios do Céu e, portanto, é muito forte”, diria uma verdade, mas não a verdade inteira na sua expressão mais enérgica. Esta consistiria em afirmar: “Deus expulsou os demônios do Céu porque Ele é a própria Fortaleza.” E todas as fortalezas que há na Terra são participações criadas da divina Fortaleza.

Tive oportunidade de comentar esta virtude simbolizada em um ente irracional, como é o leão1. Entretanto, pediram-me para tratar a respeito dessa perfeição divina espelhada nos homens. Para isso julgo mais adequado analisar fotografias, embora haja o inconveniente de estas apresentarem elementos infectados de Revolução.

Qualidades militares dignas de atenção e análise

A meu ver, a fortaleza se exprime na vida humana de um modo mais sensível na carreira militar. E parece-me que, dos vários exércitos contemporâneos – ao menos da época da fotografia –, nenhum levou as qualidades militares mais longe do que o exército alemão do tempo do Kaiser. Não por possuir o monopólio a esse respeito, mas por ter atingido um grau que, no gênero próprio, não foi superado e, enquanto tal, resulta muito digno de atenção e de análise da nossa parte.

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É bem evidente que esse exército apresenta defeitos que o tornam objetável sob vários pontos de vista. O primeiro deles consiste no seu caráter protestante-prussiano. A Alemanha da época do Kaiser estava dominada não mais pela Casa d’Áustria, como fora antes – ou seja, por uma dinastia católica, paterna, altamente culta, distinta e nobre –, mas por uma dinastia estritamente militar, um tanto “sargentona”, protestante, com tudo aquilo que existe de rígido, inflexível, hirto e agressivo no Protestantismo.

Estas notas prejudicam em algo – aliás, não pouco – os aspectos do exército alemão que pretendo comentar. Mas, para não estar sempre repetindo, deixo isso dito na introdução, a fim de depois apresentar os lados positivos que nos interessam, nos quais exatamente se pode ver alguma semelhança com Deus.

O mundo sem militares ficaria irrespirável

As fotografias que vou comentar datam de pouco antes da Primeira Guerra Mundial e, portanto, do período em que a Alemanha kaiseriana havia chegado ao seu apogeu.

Quando estive na Alemanha era tão menino – tinha quatro anos – que não me lembro de nada a esse respeito. A única recordação militar que conservo da viagem à Europa em minha infância não procede da Alemanha, mas de Paris. Estávamos hospedados num hotel cujas janelas davam para o Arco do Triunfo e, enquanto brincava no chão do quarto, de repente ouvi sons de clarins. Não sei o que aquela clarinada determinou em mim, mas tive um verdadeiro frisson e fui correndo para a janela. Vi então um piquete de dragões de cavalaria que passava, com a couraça, elmo de metal com aquela crina atrás e montados em cavalos grandes, que avançavam quase em passo de parada.

Fiquei maravilhado! Nascia em mim o militarista. Não sou militar, mas militarista ao último ponto, admiro muito a carreira militar. A meu ver, o mundo sem militares ficaria irrespirável pois, para a harmonia do espírito humano, é preciso haver magníficos exércitos na Terra. Eles constroem mais em tempos de paz pelo seu exemplo do que destroem em tempo de guerra.

Passemos aos comentários, nos quais procurarei seguir o seguinte método: descrição do quadro, análise das virtudes nele representadas e uma referência metafísica a Deus nosso Senhor, Autor dessas virtudes.

Personificação do brio e garbo de seu exército

Uma das fotografias nos mostra o Imperador da Alemanha, Guilherme II, comandante supremo das forças armadas, passando o bastão de comando a um general durante uma parada.

Em primeiro lugar, faço notar o uniforme. O Kaiser está vestido como um general de cavalaria. Na cabeça, porta um elmo de aço encimado por um penacho branco. Ao soprar o vento, essas penas esvoaçam mais ou menos como se fossem as asas de um pássaro. Quando não há vento, elas descem e formam uma espécie de triângulo muito bonito sobre o elmo.

As dragonas eram peças de rigor nos exércitos daquele tempo, destinadas a acentuar a impressão de varonilidade do corpo do militar, aumentando-lhe os ombros.

Guilherme II tem o peito constelado por numerosas condecorações. De seu lado pende uma espada, e veem-se também as botas de cavalaria. Ele monta um cavalo de primeiríssima categoria, em cujo dorso há uma cela esplêndida, belamente bordada.

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O general está fardado mais ou menos como o Kaiser, mas se percebe nele uma condecoração especial: uma faixa que lhe toma todo o corpo, a qual fazia parte do uniforme dos generais de maior graduação do exército alemão daquele tempo.

Na atitude do Kaiser notamos, antes de tudo, o perfeito domínio do cavalo – um animal fogoso –, que ele monta com completo desembaraço. Guilherme II está sentado no cavalo como sobre uma cadeira; todo o seu corpo apresenta uma postura de firmeza e segurança. Vê-se nele o estilo marcial de um homem cônscio de que domina o exército talvez mais poderoso do mundo e de que personifica, portanto, o brio e o garbo desse exército.

O Kaiser encontra-se na flor da idade para um oficial superior, quer dizer, ele deve ter mais ou menos uns quarenta a quarenta e cinco anos. O general já é um pouco mais velho e pesadão, representando menos bem o garbo militar sob este ponto de vista. Porém, o exército alemão tem nele a figura de um guerreiro supremo: calmo, seguro, varonil, digno e disposto a tocar as coisas para a frente.

Desejo de quebrar os resíduos da preguiça

Outra fotografia nos permite ver os soldados de infantaria fazendo manobras e marchando com o famoso passo de ganso do exército prussiano, que se comunicou a todo o exército alemão e também a alguns exércitos sul-americanos. Consiste em marchar levantando a perna até a altura da cintura para exprimir resolução, ausência de preguiça. O homem preguiçoso arrasta os pés, quase não os levanta; o soldado de infantaria resoluto, disposto a lutar de toda maneira, que transpõe a pé distâncias enormes, levanta a perna quase até o inconcebível, manifestando seus desejos de violentar e quebrar completamente os resíduos da preguiça que sempre existem numa criatura humana.

Por outro lado, vê-se os batalhões rigorosamente alinhados, e as filas que vão se sucedendo com a decisão de lutar e de matar. As baionetas emergem do alto dos fuzis portados por soldados revestidos de uniformes escuros e calças brancas. Quem vê um regimento tem a impressão de uma máquina de disciplina, de energia, de impacto férreo, disposta a tudo para vencer e diante da qual nada pode resistir. É exatamente o estilo do militarismo alemão, bem diferente do militarismo espanhol, mais afeito à guerra de emboscada, por meio da qual os soldados da Espanha expulsaram de seu território o maior exército do tempo, o de Napoleão, organizado segundo os modelos que mais tarde o exército do Kaiser haveria de seguir.

Podemos imaginar o efeito que causavam milhares de homens desfilando horas seguidas diante do público eletrizado. A população se sentia representada naqueles homens que personificavam o espírito militar alemão; e o desejo de grandeza, de proeza, de ousadia, o gosto de organização e disciplina, que distingue os alemães, estavam ali muito bem expressos. O que encanta toda essa gente é a ideia de eventualmente até morrer, numa suprema manifestação de força e coragem.

Uma das mais altas situações que a vida humana pode oferecer

A próxima fotografia mostra aquele que, a meu ver, é um dos mais bonitos regimentos do exército alemão. Os soldados têm sobre o elmo de metal uma águia, emblema do Império Germânico. Ela representa a força no mundo dos pássaros e, portanto, simboliza o domínio. Tratam-se de soldados de cavalaria que vestem um uniforme branco com grandes botas, as quais vão até acima do joelho, e portam uma espada.

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Em outro batalhão, constituído de oficiais e que deve ser a guarda pessoal do Imperador, nota-se uma peça do vestuário, uma espécie de dolman, na qual figura um sol que, por sua vez, representa o domínio entre os astros. É o astro-rei, como a águia é o pássaro-rei.

O alinhamento das fileiras é impecável, corretíssimo, indicando cuidado, disciplina. Nenhum soldado aparece numa atitude preguiçosa, com ar de quem tem pressa de cessar esse exercício. Todos estão contentes, felizes de representar o papel do guerreiro. Por quê? Pela beleza da luta e da força em si, pelo pulchrum do holocausto do homem que esgota toda a sua vida no momento em que realiza isto e pode dizer: “Eu morri no ápice da minha fortaleza.”

Vemos em outra fotografia uma revista às tropas. Os destacamentos estão parados e o Kaiser, seguido de seu Estado-Maior, vai percorrendo os regimentos. Uma vez mais se faz notar o alinhamento impecável.

A atitude dos soldados é de quem se deixa inspecionar com entusiasmo. A do Kaiser e de seu séquito, por sua vez, é de quem compreende a nobreza que há em comandar. Também eles estão alegres porque comandar a guerra significa comandar a epopeia e a proeza, realizar as qualidades de homem numa das mais altas situações que a vida humana pode oferecer.

A ideia de holocausto na defesa de um princípio

Em outra fotografia podemos ver uma carga de cavalaria. Trata-se de um exercício que se prepara para a guerra. Os oficiais e os soldados cavalgam a todo galope, de sabre na mão e bradando, para atacarem, no caso concreto, um adversário imaginário. Mas é uma linda imagem da guerra.

Nas vésperas da Primeira Guerra Mundial, não se tinha feito ainda a experiência de que, com armas de fogo muito evoluídas, o uniforme brilhante tornava o soldado um alvo a longo alcance. De maneira que nessa época os soldados ainda usavam lindos uniformes, os quais lhes davam consciência da importância de seu métier.

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Qual é a fonte do entusiasmo com que eles avançam? Todos compreendem como é belo andar a cavalo, dominar um corcel fogoso e, sobretudo, quanto é belo estimulá-lo a atacar, ter uma força que se joga de encontro ao adversário para o derrubar, quanto é belo matar e morrer na defesa da boa causa! Esta ideia de holocausto, de destruição do adversário e de si mesmo na defesa de um princípio, fazia com que esses homens não medissem riscos nem cansaços. Para viver esses momentos de apogeu, eles sacrificavam tudo.

Um mundo metafísico, de valores absolutos, que nos aproxima do Céu

Em uma das fotografias, vê-se a figura primorosa de um velho general conversando com o Kaiser. Um homem cuja barba é toda branca, e se nota o cabelo branco aparecer por debaixo do capacete. Apesar da avançada idade, porém, ele está teso, reto.

Chamo a atenção para o elmo. Ele é brilhante, luzidio, possui uma guarnição dourada que vai até o queixo, e não tem penacho nem águia, mas uma ponta que dá a ideia de que, à mingua de outra coisa, o soldado alemão avançará fazendo o papel do touro contra o toureiro, e lutará até a última resistência.

O general está numa atitude que inspira, não o respeito que se tem por um idoso, mas o respeito devido a um militar. Vê-se que, se aparecer um adversário, esse ancião pega a espada e sai para combater. É um homem válido para qualquer coisa. A firmeza e a altivez militares encontram-se esplendidamente representadas nessa fotografia.

Podemos observar uma vez mais o passo de ganso no desfile dos estandartes do Império, no qual cada soldado conduz uma insígnia diversa correspondente a um dos vários regimentos. Além da variedade e beleza dos estandartes de gala – todos bordados, riquíssimos –, contemplamos também a diferença dos elmos: um em forma de cone truncado, outro com ponta, outro ainda com penacho.

Notem com que garbo e entusiasmo eles marcham. Cada um dá a sensação de estar carregando nas mãos a honra do próprio regimento, e conduz a bandeira como quem porta um princípio, um ideal, e o leva para a luta.

Eles não olham para o público. Representam um papel para um mundo imaginário, metafísico, de valores absolutos, que está além do nosso. É o mundo feito de ideias, de princípios, que já nos aproxima do Céu e de Deus.

A Escritura atribui ao Altíssimo o título de “Senhor Deus dos exércitos”, quer dizer, o Deus de toda força, o qual paira acima dos exércitos que defendem o bem e faz vencer aqueles que Ele quer proteger. Tem-se a impressão de que esses homens estão imbuídos da grandeza de serem soldados do Senhor Deus dos exércitos.

(Continua no próximo número)

(Extraído de conferência de 12/1/1973)

1) Ver Revista Dr. Plinio n. 251 e 252, p. 30-35.

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