Não há como negar que na economia da Redenção do gênero humano a Virgem Maria ocupa um lugar especial. Como afirma Santo Efrém, Deus quis que, assim como o gênero humano caiu por meio de Eva, a primeira mulher, por meio de Maria, a nova mulher, tivesse o homem a graça da salvação.
Nos Evangelhos, em toda a vida de Nosso Senhor Jesus Cristo, os fatos mais importantes, aqueles que mais de perto se relacionavam com a restauração da humanidade, não se fizeram sem a intervenção de Nossa Senhora.
Nas bodas de Caná, o milagre que determinou a Fé dos Apóstolos, não se fez sem a intercessão de Maria. Ora, os Apóstolos foram as primícias da obra de Jesus Cristo e os fundamentos da evangelização do mundo todo.
Mais tarde, quando se consumou, na Cruz, a obra da Redenção, lá estava a “Mulher” a cuja guarda, na pessoa de São João, confiava Jesus Cristo todos os homens.
Estes fatos levaram os Santos Padres e os Doutores da Igreja a bem considerarem em Nossa Senhora a Maternidade Divina e as consequências que daí decorrem. Se realmente Maria foi especialmente escolhida por Deus para Mãe de seu Divino Filho, se para esse fim a Bondade Divina preparou-A com privilégios inefáveis, como o singularíssimo da Imaculada Conceição, era natural que à Virgem Maria reservasse o Altíssimo uma situação especial e profunda na restauração do gênero humano.
Eco de todos os Santos Padres e do sentimento comum dos católicos, o Bem-aventurado Grignion de Montfort escrevia: “Toda a Terra está cheia de sua (de Maria) glória, especialmente entre os povos cristãos, muitos dos quais A tomam por tutelar e protetora nos seus reinos, províncias, dioceses e cidades; muitas igrejas consagradas a Deus o são em seu nome; nenhuma igreja sem um altar em sua honra; nenhuma nação em que não haja um lugar com uma de suas imagens milagrosas, no qual todos os males são curados e obtida toda sorte de bens; tantas congregações e confrarias em sua honra; tantas Ordens religiosas com seu nome e sob sua proteção; tantos religiosos e sorores de todas as Congregações que publicam seus louvores e anunciam suas misericórdias. Não há criança que não A louve balbuciando a Ave-Maria; não há pecador que, por mais endurecido, não tenha n’Ela uma cintila de confiança; não há mesmo diabo nos infernos que, temendo-A, não A respeite.”1
De fato, não há graça concedida pela Misericórdia de Deus que não o seja através das mãos de Maria. No Antigo Testamento eram os merecimentos de Nossa Senhora que, previstos, moviam a Bondade Divina a distribuir suas graças aos patriarcas e aos fiéis do povo eleito. Hoje, no Céu, é Ela a dispensadora dos benefícios que de lá descem para este vale de lágrimas. É precisamente neste fato que se encerra a mediação de todas as graças, consagrada pela Igreja a 31 de maio.
O domínio, pois, da Mediação de Maria Santíssima se estende a todas as graças conquistadas por Jesus Cristo. Segue-se desse fato toda a importância e moral necessidade da devoção à Virgem Santíssima para o fiel no difícil caminho do Paraíso. Se é verdade que a Virgem Maria, nos extremos de seu carinho maternal, intercede junto a seu Divino Filho por todos os homens, não há a menor dúvida de que sua proteção se exerce de modo tanto mais especial quanto mais terna for a devoção que o fiel alimente para com a Virgem Santíssima.
Aliás, que nome mereceria o cristão que não tivesse para com a Mãe de Jesus Cristo acendrado amor e filial ternura? Seria verdadeiro católico quem não desse a Maria o culto a que tem direito pela excelência singular com que A distinguiu a omnipotência da graça de Deus?2
1) Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem, n. 9.
2) O Legionário n. 350, 28/5/1939.