Hanlu Cao (CC3.0)
Palácio de Frederiksborg, Dinamarca

Uma obra de arte não é cristã pelo fato de estar coberta de símbolos de nossa santa Religião, como um homem não se faz frade por vestir burel. É preciso que seja católica a alma que na obra de arte palpita, para que esta se possa dizer genuinamente cristã.

Pelas altas janelas, guarnecidas de vitrais, entra uma luz abundante, mas suave, que se reflete no soalho, no metal polido das armaduras e das panóplias, no bronze e no cristal dos imensos candelabros, e parece atingir a custo as nervuras e pinturas do teto.

Jan Helebrant (CC3.0)
Castelo Lednice, República Checa

Grubernst (CC3.0)

GO69 (CC3.0)
Castelo de Champs-sur-Marne, França
henrivzq (CC3.0)
Castelo de Chapultepec, México
Herbert Frank (CC3.0)
Castelo Žleby, República Checa

Recolhimento, gravidade, equilíbrio e força

As colunas, fortes e delicadas, se abrem ao alto como imensas palmeiras que protegessem a sala com sua ramagem de pedra, de linhas coerentes, nítidas e suaves. A sala é fortemente impregnada de um ambiente peculiar, que convida a um repouso sem ócio nem dissipação, um repouso todo feito de recolhimento, gravidade, equilíbrio e força.

As armaduras, os veados empalhados enriquecem o ambiente com o eco das proezas praticadas na caça e na guerra. O lambri de madeira trabalhada quebra com sua delicadeza e aconchego o que a austeridade da pedra talvez tivesse de excessivo. Ao fundo, sobre uma peanha, a imagem de um Santo atrai o pensamento para o Céu.

Sem dúvida, salas assim espelham uma mentalidade que poderá agradar a uns, desagradar quiçá a outros, mas que de um modo ou de outro soube dispor admiravelmente das cores e das formas para se exprimir. São salas de uso civil quotidiano. Apresentam o ambiente em que o espírito de nossos maiores se sentia à vontade para viver a vida corrente.

Gabriel K.
Pedro Morais
Gabriel K.
Gabriel K.

Flávio Lourenço
São Luís IX

Expressão arquetípica da alma cristã

A Sainte-Chapelle de Paris, construída no século XIII por São Luís IX, Rei de França, para conter alguns espinhos da coroa de Nosso Senhor Jesus Cristo, exprime a mesma mentalidade, não enquanto entregue à vida diária, mas enquanto voltada para a prece.

A nota de delicadeza atinge o sublime. Nem por isto a força, o equilíbrio, a gravidade e o recolhimento perdem algo da sua plenitude. Eclesiásticos, artistas, peregrinos de todos os séculos têm visto na Sainte-Chapelle, no ambiente que nela palpita, na mentalidade expressa em suas linhas, suas cores, suas formas, sua configuração geral, a expressão arquetípica da alma cristã.

Cristã é a sala como cristã é a capela. E isto não só pelo efeito das imagens e símbolos religiosos que ali se encontram, como pelo ambiente que ali se respira, pela mentalidade que fica subjacente a este ambiente.

De onde se chega a uma noção mais ampla. Uma obra de arte não é cristã pelo simples fato de estar coberta de símbolos de nossa santa Religião, como um homem não se faz frade pelo simples fato de vestir burel.

É preciso que seja católica a alma que na obra de arte palpita, para que esta se possa dizer genuinamente cristã. E o ambiente cristão não é susceptível de impregnar apenas um edifício destinado ao culto, mas qualquer local que tenha em sua configuração a marca inconfundível com que a alma cristã exprime tudo quanto faz.

(Extraído de Catolicismo n. 24, dezembro de 1952)