jueves, noviembre 21, 2024

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Luta perpétua entre bons e maus

Existe um empenhado duelo pessoal entre Jesus Cristo e satanás, cujas origens explicam o estado de luta perpétua e incompatibilidade irredutível entre bons e maus em todos os períodos da História.

Os historiadores nos dão um quadro do estado lastimável do mundo pagão, na ocasião do advento do Verbo Encarnado. Em resumo, havia no mundo romano uma classe de régulos totalitários, que fazia trabalhar um povo de escravos, e uma plebe de mendigos que não podia trabalhar, dada a concorrência do mesmo braço escravo.

Um tal estado de coisas conduzia naturalmente ao socialismo, e foi no mais crasso socialismo do gênero demagógico que terminou o cesarismo pagão do Império Romano.

Duas naturezas distintas se unem para formar uma única Pessoa

Contra essa escravidão do pecado clamava a consciência dos homens que não se deixaram levar pelo pai da mentira. Em seu longo cativeiro, os justos suspiravam pelo dia da Redenção. E se elevavam aos Céus as suas vozes, bem como a dos profetas, suplicando e anunciando o advento do Esperado das nações, do Salvador que nasceria de uma Virgem, Aquela que haveria de esmagar a cabeça da serpente infernal.

A presença de Nosso Senhor Jesus Cristo enche toda a História da humanidade pelas promessas, pela união do povo fiel com o seu Criador, como domina o mundo depois de sua vinda através da Igreja, seu Corpo Místico. N’Ele, a Religião é uma através de todas as idades: “Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e para todo o sempre” (Hb 13, 8).

Nessa união substancial e indissolúvel das naturezas divina e humana em unidade de Pessoa divina vemos o cumprimento da promessa da Redenção. Eis a distinção bem marcada entre o infinito e o finito. Há em Jesus Cristo duas naturezas distintas: a divina e a humana. Como Filho de Deus, é consubstancial a Deus, e é Deus verdadeiro. Como Filho da Santíssima Virgem, é verdadeiro Homem. Mas essas duas naturezas distintas se unem, sem se confundir, para formar uma única Pessoa, o Verbo Encarnado, Nosso Senhor Jesus Cristo. Eis o mistério da Encarnação, segundo o qual, como natureza, Jesus Cristo é Deus e Homem, e como Pessoa é inteira e inseparavelmente Filho de Deus, inteiramente e inseparavelmente Filho do homem.

Diz Santo Agostinho que o homem estava duplamente morto com o pecado de Adão, pela morte do corpo, quando a alma o desampara, e pela morte da alma, quando Deus a desampara. É esta a “morte segunda” referida por São João no Apocalipse, que caberá “aos covardes, aos incrédulos, aos ímpios, aos homicidas, aos impuros, aos idólatras, e a todos os mentirosos” (cf. Ap 21, 8).

Flávio Lourenço
Jesus sendo despojado de sua túnica – Museu da Semana Santa, Medina de Rioseco, Espanha

E é dessa morte que nos veio salvar o “Primogênito dentre os mortos” (Cl 1, 18), no dizer de São Paulo, e “libertar os que, em virtude do terror à morte, passaram a vida toda como escravos”. “Convinha, portanto, que em tudo Se tornasse semelhante aos irmãos, a fim de ser junto de Deus um Pontífice misericordioso e fiel para expiar assim os pecados do povo. Pois tendo Ele mesmo padecido com as tentações, está em condições de valer aos que se acham tentados” (Hb 2, 15.17-18).

Incompatibilidade irredutível entre bons e maus

Dir-se-ia, portanto, que com a vinda do Messias e Redentor do mundo uma nova era de paz e de concórdia estaria reservada para a humanidade. E quem pode negar que na vigência do Novo Testamento, na Lei da graça, haja havido uma efusão muito maior da misericórdia divina, sobretudo pela ação dos Sacramentos da Nova Lei, num dos quais o Salvador do mundo Se oferece pessoalmente para a santificação das almas?

Mas nem por isso deixou de existir a luta entre as duas cidades. Diz São Tomás que assim como Jesus Cristo é o superior e cabeça dos bons, satanás é o caudilho dos anjos rebeldes. Logo, acrescenta o Doutor Angélico, é certo que como consequência desta oposição existe um empenhado duelo pessoal entre Jesus Cristo, Chefe dos bons, e satanás, caudilho dos maus, cujas origens explicam o estado de luta perpétua e incompatibilidade irredutível entre bons e maus em todos os períodos da História.

Por isso, afirma São João que o Verbo eterno “veio aos que eram seus, mas os seus não O receberam” (Jo 1, 11).

Arquivo Revista
Dr. Plinio na década de 1940

Eis porque os sectários, representantes do pai da mentira, O perseguiram, O prenderam, O açoitaram, O coroaram de espinhos, O crucificaram. Eis porque a multidão de Jerusalém – essa mesma no meio da qual havia um grande número de beneficiados e testemunhas de seus milagres –, instigada pelos fariseus, herodianos e saduceus, prefere Barrabás a Jesus Cristo; ao Justo, o revolucionário, o sedicioso, o conspirador, o assassino. Eis porque, desde os seus primeiros dias de vida, a Igreja se vê a braços com as heresias e os cismas. E já São Pedro, em sua segunda epístola, se refere à abominação e dureza de coração daqueles que “melhor lhes fora não terem jamais conhecido o caminho da justiça, do que, depois de conhecê-lo, voltar as costas ao santo Mandamento que receberam” (2Pd 2, 21).

Deus Se utiliza do mal para realizar seus desígnios

Longe, porém, desta luta nos acabrunhar, deve ela servir de estímulo ao nosso zelo. Já dizia São Paulo aos Coríntios ser preciso que até haja heresias, para que os que são de uma virtude provada se manifestem (cf. 1Cor 11, 19).

Aliás, ao mostrar como Deus Se utiliza do próprio mal para realizar seus desígnios, diz o autor da Cidade de Deus que muitas coisas pertencentes à Fé Católica, quando os hereges, com sua cautelosa e astuta inquietude, as perturbam, desassossegam, então, para poder defendê-las diante desses inimigos, os filhos de Deus as consideram com mais atenção, percebendo-as com mais claridade, pregando-as com maior vigor e constância, e a dúvida ou controvérsia que excita o contrário serve de ocasião propícia para aprender.

Aí está a razão pela qual devemos enfrentar esses erros e evitar que se propaguem à custa de nossa passividade. Aí está porque os seus fomentadores detestam os debates à luz do dia, preferindo rastejar-se nas sombras. Aí está porque não nos abalamos com a exuberante coleção de apodos com que somos mimoseados. Acusados de comunistas quando está em prestígio o fascismo, acusados de fascistas quando o comunismo é o modelo do dia. Sejam nosso conforto as exortações do Apóstolo das gentes aos coríntios e nos mostremos “com as armas da justiça ofensivas e defensivas, entre a glória e a ignomínia, entre a infâmia e o bom nome; tidos como sedutores, embora homens de verdade; por desconhecidos, embora conhecidos; por moribundos, embora estejamos vivos; por castigados, mas não amortecidos; por tristes, estando sempre alegres; por pobres, mas enriquecendo a muitos; como não tendo nada, mas tudo possuindo” (Cf. 2Cor 6, 7-10).

(Extraído de O Legionário n. 700, 6/1/1946)

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