Leandro Souza
Presepio - Sede Contemplação Marial

Na noite de Natal é normal que, reunidas junto ao Santo Presépio, as famílias pensem nas graças recebidas ao longo do ano que vai findando e nas perspectivas descortinadas diante delas para o ano novo que se aproxima.

Cristo Nosso Senhor é o centro da História. N’Ele se encontram o passado, o presente e o futuro. É, portanto, justo que essas cogitações aflorem, entre tantas outras, ao espírito daqueles que procuram ser fiéis à Santa Igreja Católica Apostólica Romana nesta nossa sociedade tão conturbada.

De todo lado vemos corrupção, confusão e ruína, no que há matéria abundante para nos sentirmos carentes da proteção divina e a peçamos com toda devoção ao Menino Jesus, por meio de José e de Maria Santíssima, cuja intercessão junto a Ele tem um valor tão decisivo.

Contudo, não podemos celebrar esta magna Festa como se fosse um ano qualquer. Nosso Natal deve ser como numa casa de família onde a mãe encontra-se gravemente enferma e padecendo dores atrozes. Compreende-se que se monte uma árvore de Natal, e haja um movimento de piedade e de alegria a propósito de data tão augusta. Mas isso tudo deve ser dominado pela lembrança da mãe doente, projetando uma espécie de luz violácea sobre as festividades.

É bem essa a atmosfera que deve haver em nossas comemorações natalinas, por razões tão bem conhecidas por todos nós. Devemos, pois, carregar a dor de nossa Santa Mãe, a Igreja, durante este Natal, e sabermos ter um espírito de reparação nos atos de piedade oferecidos por nós nesta ocasião.

Nossa Senhora, com certeza, desde o primeiro instante reparava junto ao Menino Jesus todos os sofrimentos que Ele haveria de padecer. Ao contrário do que se costuma pensar – ou seja, que as tristezas são inconvenientes para o Natal –, aquela noite sacrossanta teve tristezas.

Ora, nas atuais circunstâncias não ter esse pesar pela situação da Santa Igreja é inconcebível. Então, o cálice da dor está sendo sorvido até a última gota, e nós, em vez de meditarmos nos cálices com fel, pensamos apenas nas taças com champanhe? Como uma alma verdadeiramente católica pode ser assim?!

Porém, uma confiança inabalável deve acompanhar essa tristeza. Não nos deixemos apavorar pelos vagalhões que sacodem o mundo moderno. Uma palavra do Divino Mestre pode impor limites à tormenta e salvar os que estão com Ele na barca.

Depois de ter ordenado aos ventos e às águas revoltas do Lago de Genesaré que se aplacassem, por certo Jesus pôde ouvir de seus discípulos este comentário que terá alegrado o seu Sagrado Coração: “Qualis est hic, quia et venti et mare obœdiunt ei?” – “Quem é este a quem até os ventos e os mares obedecem?” (Mt 8, 27).

Não haverá ventos que a Providência Divina não reduza ao silêncio, nem mares que Ela não contenha nos devidos limites, na medida em que isto seja para a maior glória de Deus e salvação das almas.

De nossa parte, devemos pedir ao Menino Jesus a graça de prestarmos à Causa da Civilização Cristã todos os serviços necessários para conter os vagalhões da imoralidade e da corrupção contemporânea.*

* Cf. Conferências de 20/12/1965 e 30/11/1990.