Ao tomar conhecimento de um dos contos de Andersen, Dr. Plinio faz uma analogia com a vida de todo contrarrevolucionário: como um patinho feio dentro do mundo, na verdade, é um belo cisne aos olhos de Deus.
O tema que temos a tratar é algo muito inesperado. Deram-me, em francês, a história do Patinho Feio. Eu não conhecia esse conto que está resumido com precisão francesa, não tendo um pormenor inútil. O livro tem também ilustrações muito curiosas.
Símbolo do contrarrevolucio-nário dentro do mundo revolucionário
O Patinho Feio é uma narração de Andersen1, um gênio da Dinamarca.
É impressionante, mas embora eu não saiba que intenção esse homem teve ao inventar o caso, até nos pormenores a fábula parece ser uma espécie de parábola para mostrar ao contrarrevolucionário o erro que ele comete ao se envergonhar de ser íntegro. Uma coisa fantástica! Os mais insignificantes pormenores da narração concorrem para dar essa ideia e fazem dela, neste sentido, um primor, um verdadeiro mimo.
Passemos à narração.
O verão está no seu pico mais forte. A mamãe pato está no seu ninho, está chocando seus ovos. De repente ela ouve um ruído ligeiro, as cascas dos ovos estão quebradas, delas saem os mais bonitos patinhos do mundo. Todos adoráveis, amarelos e cheios de penugem. Todos, exceto um.
Começa aí a solidão do contrarrevolucionário. Só ele não tem penu gem, não é amarelo, é o feio dentro do mundo revolucionário.
Ele não só é mais gordo do que os outros, mas tem também uma cor cinzenta feia. Mamãe pato se lamenta: “Que mal fiz eu ao Céu para ter um filho tão feio?”
Que mal fiz eu ao Céu para ter um filho contrarrevolucionário?
Quanto aos seus irmãos e irmãs, eles se recusam de um modo malvado a brincar com o patinho.
É ou não é verdade que acontece esse isolamento no recreio, nas brincadeiras, porque os outros são revolucionários?
O pobre patinho se sente muito infeliz. Sempre só, pois seus irmãos o rejeitam e os animais da fazenda igualmente o expulsam gritando: “Vá embora, feinho, nós não queremos saber de você!”
É ou não é o contrarrevolucionário perseguido pelos revolucionários? “Ninguém o quer porque você não como os outros. Nós não queremos saber de você porque você é diferente! Você não tem o jeito de todos, você escapa à regra geral.”
Desprezado pelos seus, o patinho sai à procura de alguém como ele
Ele decidiu partir, mas não sabia para onde.
Ele queria simplesmente deixar o inferno em que vivia. “Aqui na fazenda eu estou demais, ninguém gosta de mim!”, pensava ele tristemente.
Hélas! O mundo fora não era melhor! Ele encontrou um cachorro que o perseguiu. Apavorado, ele se refugiou atrás de um tronco de árvore. E, fugindo, chegou diante de uma choupana mal arranjada. Ela era habitada por uma mulher velha, pelo seu gato sábio e sua galinha. Essa galinha era feia, tinha patas baixas e sua dona a tinha chamado, por isso, Patas Curtas, mas ela punha ovos de ouro. A velha tinha bom coração e adotou o patinho feio.
Não parece ser a situação do contrarrevolucionário que encontra, de vez em quando, um velho esmolambado que tenha pena dele? Ou seja, é uma velha que se compadece e faz para com ele alguma coisa boa.
Mas o gato estava ciumento. “Você sabe, pelo menos, fazer as costas abauladas como eu sei?”, miou ele com desprezo.
É aquele modo de o gato fazer um movimento com as costas.
“Você sabe ao menos pôr um ovo? Cacarejou a galinha. E o pobre patinho feio não sabia nem pôr ovos nem fazer aquelas costas do gato.
É como um menino que não sabe dizer palavrão e não faz nenhuma das aventuras da Revolução. Então, ele fica desapontado.
Assim que a velha saiu, o gato deu um arranhão no patinho e a galinha lhe deu uma bicada. Com lágrimas nos olhos, ele foi obrigado a deixar aquele lugar.
Vejam, a vocação começará a despontar aí.
“Deve existir em algum lugar do mundo um pássaro que seja como eu!”, pensou ele. E andou longamente pelo mundo à procura de outros iguais.
Impressionante! É o contrarrevolucionário à procura de iguais, andando pelo mundo até encontrar finalmente outros que sejam como ele.
Os pormenores, a evolução da história é tão parecida com a de um bom menino contrarrevolucionário, é algo que quase não se sabe o que dizer.
Quando tudo parece perdido, chega a hora da Providência
Ele tinha crescido, nem por isso tinha ficado mais bonito e ele sequer se parecia mais com um pato. Ele era cada vez mais diferente de tudo.
Um dia, fazia um frio enorme, um homem o encontrou no gelo. Ele estava completamente enregelado e quase morto. O homem quebrou o gelo com precaução e o colocou debaixo de sua capa.
É a Providência que encontra o futuro contrarrevolucionário isolado, enregelado, quase morto.
Vejam o resultado.
Ele o levou para sua mulher, que o colocou numa banheira bem cheia, dentro de uma linda cesta. De manhã, as crianças chegaram para brincar com ele. Assustado, porque sempre a vida tinha sido ruim para com ele, caiu dentro de uma leiteira.
Quer dizer, ele nem acreditava que alguém pudesse ser bom para com ele. Então caiu dentro de uma leiteira.
À vista de tanto leite estragado, a mãe de família também se zangou. Ela gritou injúrias contra ele e pegou num objeto para espancá-lo. Aterrorizado, o patinho saiu correndo para evitar os golpes. E o inverno para ele correu lenta e tristemente.
No começo da primavera seguinte, ele chegou diante de um lago onde lindos cisnes nadavam graciosamente.
Quando ele os viu, não pôde conter as lágrimas. “Como deve ser agradável ser tão belo!”, pensou ele. E ele então se meteu dentro da água. Ele tinha ficado um cisne lindo.
Ao longo de suas desventuras, ele tinha ficado um cisne lindo, um perfeito contrarrevolucionário.
Como ele estava alegre de ser belo e, sobretudo, de ter enfim encontrado irmãos.
Está terminada a história do Patinho Feio.
Eu nunca pensei que um conto de Andersen pudesse dar uma conferência. Vejam como é um mimo e, com pequenas adaptações, pode ser tomado como a história do trajeto do contrarrevolucionário até ele perceber a sua verdadeira beleza espiritual, compreender que a Revolução é o mundo dos patos e que ele é um cisne, e na companhia dos cisnes perceber que existe um direito à vida para ele.
Consideremos tudo o que Nossa Senhora fez por nós. Temos nisso mais um pequeno elemento para amarmos mais a fundo a nossa vocação.
(Extraído de conferência de 27/12/1968)
1) Hans Christian Andersen, escritor e poeta de histórias infantis, *1805 – †1875.