Na conjuntura em que se encontram a Santa Igreja e o mundo, a comemoração dos 700 anos da canonização de São Tomás de Aquino, a 18 de julho, nos convida a meditar nestas palavras de Dr. Plinio, cujo ensinamento se torna ainda mais atual hoje do que quando foram escritas.
Muitos católicos presumem ter senso católico apenas porque estudaram de modo superficial a doutrina da Igreja, de tal maneira que, supondo conhecê-la e professá-la integralmente, em uma multidão de circunstâncias agem, sentem e pensam como pagãos.
Como é lamentável que em questões candentes certos católicos sejam tão cegos que, incapazes de raciocinar sadia e seguramente tomando por base os princípios de sua Fé, sintam uma atração quase invencível pelo erro, o qual abraçam com ardor e sofreguidão.
Quão lamentável é o fato de, a todo momento, almas católicas assimilarem ideias erradas, manifestando muito mais avidez do erro que da verdade, do mal que do bem! E quão doloroso é vê-las, na sua arrogância, se arvorarem em guias das massas, cegos que conduzem outros cegos ao abismo!
São Tomás de Aquino foi um grande luzeiro posto por Deus no meio de sua Igreja, a fim de esclarecer, confortar e animar as almas pelos séculos afora para que mais galhardamente resistissem às investidas da heresia. Enfrentando com sua inteligência possante e sua piedade ardente todos os problemas que em seu tempo estavam franqueados à investigação da mente humana, percorreu ele as mais áridas, obscuras e traiçoeiras regiões do conhecimento, com uma simplicidade, uma clareza e uma energia verdadeiramente sobrenaturais.
Sua doutrina se conservou sempre tão pura, que a Santa Igreja a aponta como fonte indispensável de toda a vida intelectual autenticamente católica. Seu senso católico foi prodigioso!
Todos sabemos como é nosso dever amar a pureza e qual a magnífica promessa com que a galardoou o Senhor no Sermão das bem-aventuranças.
Entretanto, se há uma pureza que, segundo nosso estado, devemos conservar íntegra em nosso corpo e em nosso coração, existe também uma pureza virginal da inteligência que precisamos cultivar ciosamente e que, sem dúvida, agrada de um modo incomensurável a Nosso Senhor.
É a pureza da inteligência genuinamente católica, templo vivo e imaculado do Espírito Santo, que nunca sentiu atração e nem deu apoio a qualquer doutrina herética, que detesta a heresia com todo o vigor indignado com o qual as almas puras detestam a luxúria, e que se preserva de toda e qualquer adesão a um pensamento estranho ao da Igreja, com o mesmo cuidado com que as almas castas sabem manter longe de si todas as impressões impuras.
Disse Nosso Senhor ser Ele a vinha e nós os sarmentos. Quanto mais unidos estivermos à vinha, tanto maior será a seiva que teremos em nós. O mesmo se pode dizer a respeito da Santa Igreja: Ela é a vinha e nós os sarmentos; e quanto mais unidos a ela estivermos, tanto mais presente em nós estará a seiva.
Ora, permanecemos unidos à Igreja na medida em que a ela estiver vinculado o nosso pensamento; e tanto mais intensa será nossa vida espiritual, quanto mais completo for nosso senso católico.
Que, na festa do grande Doutor, nosso senso católico encontre o apoio de graças sempre mais vigorosas, e que essas graças recebam de nossa vontade uma cooperação sempre mais entusiástica.*
* Cf. O Legionário n. 391 de 10/3/1940 e n. 471 de 21/9/1941.