Na Ladainha de todos os Santos existe uma invocação que diz: Ut mentes nostras ad cælestia desideria erigas, te rogamus audi nos – “Para que eleveis as nossas almas aos desejos das coisas celestes, nós vos rogamos, ouvi-nos.”
O que é esse desejo? Fundamentalmente é o anseio de ir para o Céu. Mas, por mais nobre e santo que seja esse anseio, não basta para definir por inteiro o conceito contido nessa invocação.
Na Terra nós temos coisas que são figuras das celestes, e é preciso amar essas figuras para, de fato, dizermos que temos apetência das coisas do Céu, pois as terrenas nos foram dadas para aprendermos a amar as celestiais.
Entretanto, o desejo das coisas celestes tem como corolário necessário o ódio implacável, militante, contínuo, meticuloso, inflexível contra tudo aquilo que, na Terra, seja contrário às realidades celestes. Sem um ódio ao Inferno não existe verdadeiro amor ao Céu, portanto, sem um ódio às coisas que na Terra são à maneira do Inferno, não existe verdadeiro amor às criaturas terrenas conformes ao Céu.
Quais são as coisas à maneira do Céu? Eu indico uma que engloba todas: o Reino de Maria. E à maneira do Inferno? A Revolução. A Contra-Revolução é o movimento que nos deve levar a derrotar a Revolução e a estabelecer na Terra o Reino de Maria, o qual é a imagem do Céu na Terra.
Na medida em que o conjunto dos povos se deixe embeber pela ação santificadora da Igreja, ele constitui a cidade de Deus, que é um noviciado do Céu. A condição fundamental para a Terra ser esse seminário do Céu e, em consequência, as coisas terrenas serem utilizadas habitualmente para a salvação das almas, é a excelência das condições em que esteja a Igreja Católica, de maneira a estar ela na sua plena saúde.
Contudo, isso não basta. É preciso haver também uma boa ordem da sociedade temporal, inspirada, suscitada e guiada pela Igreja, pois, estando em ordem a sociedade espiritual, a temporal é conformada de molde a levar as almas para o Céu. Então a vida terrena torna-se uma imagem do Céu.
As ordens espiritual e temporal organizadas segundo a Doutrina Católica constituem a ordenação perfeita deste mundo. Quando falamos do Reino de Maria, é a isso que nos referimos.
Assim sendo, o que devemos pedir a Nossa Senhora? Que eleve as nossas almas, obtendo para elas uma operação do Espírito Santo por meio da qual nós amemos muito e cada vez mais o ideal do Reino de Maria e desejemos a implantação desse Reino. E para que esse desejo seja vivo, tenhamos ódio à atual ordem revolucionária das coisas.
Esse é o verdadeiro sintoma de que as nossas almas foram elevadas ao desejo das coisas celestes e que, portanto, caminham para o Céu, Reino Eterno, perfeito, imperecedouro, de Nossa Senhora, o qual nós aprendemos a amar amando o Reino de Maria na Terra.*
* Cf. Conferências de 30/12/1965 e 5/1/1993.