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Lampejos do Céu

Na grande batalha pela salvação das almas, também os seres irracionais devem ser utilizados como eficaz recurso contra o mal.

Todo homem encontra em si e nos outros diversas tendências: as que levam para o mal são inimigas do homem, as que conduzem ao bem são amigas.

Senthi Aathavan Senthilverl(CC3.0)
Plinio entre seus companheiros do Colégio São Luís, em 1921

Diversos fautores e batalhadores dentro de uma mesma luta

Um apóstolo que deseja exercer sua missão de salvar as almas e levá-las ao Céu deve agir de maneira a continuamente estimular nos outros as tendências e convicções boas, para induzi-los ao bem e, com isso, alcançar seu objetivo. Ao mesmo tempo, ele sabe que há neles, tendências más que os levarão a fazer o contrário do que ele deseja. Todo homem em relação ao outro tem um amigo e um inimigo potencial. Amigo potencial, se sua ação for tal que o outro siga o que ele diz. Inimigo, quando o outro não segue seu bom conselho e se faz hostil.

A todo momento nos deparamos com isso. Eu na minha remota e longínqua vida colegial presenciei fatos assim. Entrando para o colégio e começando a dar o exemplo do bem, ondas de ódio crescem ao nosso redor e nos circundam. Por quê? Porque está se agindo no sentido do bem. Mas quando se sabe pegar o mal com jeito e desferir-lhe bem o golpe, ele se acovarda, se retira e, às vezes, entrega os pontos.

Fazer apostolado tem como elemento fundamental e primeiro um certo discernimento e compreensão da alma humana, pelo qual se sabe ajudar o outro. Nesse sentido, cada homem é como uma cidade fortificada e sitiada por adversários que o atacam sem cessar. Qual é a nossa defesa e qual o ataque?

Hendra Suroboyo (CC3.0)Alan D. Wilson (CC3.0)Giles Laurent (CC3.0)

O homem, a todo momento, é tentado a fazer mal e corre o risco de cair em pecado e transformar-se num filho das trevas. De outro lado, um filho das trevas, a todo momento, tem a possibilidade de ser tocado pela graça e converter-se. Há uma espécie de encontro de uns que querem subir, de outros que querem descer; de uns que ajudam outros a subirem e combatem os que querem fazê-los descer, e de outros que, pelo contrário, combatem os que querem fazer subir e ajudam a descer… Isso forma uma espécie de batalha incessante, colossal, fabulosa, na qual Deus, de um modo curioso e admirável, dispôs que não só os homens fossem os primeiros fautores e batalhadores, mas que até os seres irracionais ou sem vida ora ajudassem na salvação dos homens, ora os prejudicassem. Dou um exemplo.

Pavões e faisões na luta da Contra-Revolução

Em nosso século todo propenso à vulgaridade, à banalidade, à igualdade, existe uma tendência inegável a não admirar tudo quanto seja muito bonito.

Imaginemos que alguém criasse pavões num local como o jardim da Sede do Reino de Maria, na Rua Maranhão. Os pavões haveriam de passear pelo parque durante certas horas do dia. Eles não entendem nada nem sabem que existem, mas passeariam, arrastando aquela cauda e mostrando-a como se estivessem diante de um auditório ou de um teatro para vê-los. É um verdadeiro leque que, qual joia de pena, faz de cada pavão uma joalheria ambulante, uma imagem do principado, da nobreza. Este que criasse pavões na Sede do Reino de Maria não estaria fazendo um apostolado que, sem dúvida nenhuma, haveria de fazer algum bem?

Ouvi dizer que há nas cercanias de São Paulo uma espécie de chácara na qual um senhor, alemão ou suíço-alemão, cria faisões. Disseram-me que são muito belos. De fato, há algo mais bonito que uma variedade enorme de magníficos faisões? Diversas vezes fiz o projeto de visitar esse lugar pelo simples gosto em admirá-los, pensando comigo mesmo: “Como isto é diferente do mundo revolucionário! Olhando para os faisões, como amo mais a Contra-Revolução e como odeio mais a Revolução!”

Na Terra, um gole das maravilhas celestes

O cisne! Há animal mais distinto e mais aristocrático do que ele? Quando ele desliza sobre as águas, dá-nos a impressão de que se locomove sem esforço, o que é próprio ao nobre: não se esforçar, mas fazer-se servir.

Ele tem patas, aliás feias, porque não foram feitas para serem mostradas. As vulgaridades os nobres as têm; no entanto, devem escondê-las por obrigação, a fim de que neles só refulja o pulchrum, o bonum, o verum, o sanctum.

Lembro-me, em menino, contemplando os cisnes que havia nuns tanques do Jardim da Luz. Eu me encantava com o modo de eles se deslocarem, mas também como ficavam parados, com ar de bicho que não tem necessidade de movimento, bastando-se a si próprio, o que é aristocrático.

Daí a pouco, sem fazer barulho, agitavam com as patas a massa da água de modo discreto e agradável, deslizando tão deliciosamente sobre a água que eu pensava: “Pobres de nós, homens, que temos de nadar… Como seria gostoso estar deitado na água e deslizar como um cisne.”

Em certo momento, eu tinha a impressão de que um olhava para a água com uma atenção especial, vendo um bicho comestível. O que era? Miséria das criaturas: o cisne, rei das águas, ia comer um verme nojento que se desprendera do lodo e encontrava-se ali, flutuando sobre as águas. É a humilhação das criaturas muito grandes que, por vontade de Deus, passam por coisas dessas, para nos ensinar os altos e baixos de todas as situações.

Nós nos deixamos arrastar por essas descrições e dir-se-ia que perdemos um tempo precioso. No entanto, não é mal que mencionemos algumas vezes coisas que não sejam sobre sofrer ou padecer, mas algo que seja um pouquinho o beber um gole de algo como que celeste nesta Terra.

FC (CC3.0)

Por isso, menciono mais um objeto de enlevo da minha infância e da de muitos homens: as borboletas prateadas, azuis e verdes que existem em certos jardins e matas brasileiras, e que me encantavam em extremo. Quando eu procurava pegar alguma, ela levava um primeiro susto, depois se levantava diante de mim como que dizendo: “Pirralho, você pensa que pode me pegar? Veja…!” E voava elegante e graciosa.

Um recurso a ser utilizado contra os maus

É ou não é verdade que estas e outras maravilhas despertam em nossa alma o desejo do maravilhoso, o desejo do Céu? E que uma pessoa que tenha vivido apenas entre prédios de apartamentos de cimento, nos centros hiperpopulosos de megalópoles modernas, se nunca viu as maravilhas que descrevo, não sabe o que procura, quando diz que busca o Céu?

Por causa disso, a Revolução elimina esses seres o quanto pode, tira do convívio humano, não fala a respeito deles. Se tentarmos conversar com qualquer pessoa sobre cisne, pavão, borboleta e coisas do gênero, a conversa morre logo, porque elas gostam de tratar a respeito de mecânica, motores, objetos que fazem barulhos, coisas que dão dinheiro e diminuem o homem. O que Deus pôs na natureza para fazer parte da enorme batalha contra os maus, os bons não sabem que devem utilizar. E o resultado é que um dos recursos dessa batalha fica perdido, como, por exemplo, utilizar essas criaturas em toda a medida do possível.

Quantos recursos assim poderíamos mencionar!

(Extraído de conferência de 30/7/1993)

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