Cabe-me dizer uma palavra a respeito de um filho da Santa Igreja, filho meu também. Como fazê-lo?
No que se refere à Santa Igreja Católica Apostólica Romana, enalteço-a com desembaraço, prodigalizando-lhe louvores como uma fonte entrega suas águas.
Elogio pessoal, eu soube fazer a alguém… com uma fluência e truculência tão grandes que, literalmente, eu massacrava mamãe de carinhos. Em uma forma cheia de respeito – é claro! –, mas muito caseira, doméstica, personalizada. Depois disso meus lábios pouco se abriram para elogiar, a não ser aquilo que fosse conexo com a Santa Igreja.
Assim, no fundo e no centro de todos os elogios: a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Ora, como enunciar um elogio de varão a varão, indicando um beneplácito completo, sem as efusões a que a delicadeza feminina convida – em se tratando de uma mãe – e sem aquelas manifestações que a grandeza da Igreja impõe e desata inteiramente na alma? Faço uso de uma metáfora.
Imaginem um sinaleiro de farol. Em determinado ponto de seu horizonte visual o mar costuma se encapelar, e o sinaleiro deve percorrer continuamente com a luz essa zona de risco. Ele passa anos projetando-a ali e ajudando a que façam a travessia perigosa todos aqueles que queiram dar importância à sua luz e olhar para ela. Esses têm o destino dos prudentes; outros terão o destino dos imprudentes.
Essa luz, entretanto, apesar de manobrada com firmeza, agilidade e normalidade pelas mãos do sinaleiro, começa a não bastar, porque a tempestade se alarga. E a zona encapelada é tão vasta que o sinal não pode assestar para novas vastidões revoltas sem deixar de iluminar a vastidão primeira.
Nessa soma aflitiva de vastidões, o que faz o sinaleiro que não quer de nenhum modo abandonar o lugar ao qual tanto ele se dedicou, mas que sente a necessidade de passar sua luz sobre outras superfícies? Ele reza, mas não vê solução.
Uma bela noite, ao deparar-se com o problema, ele manobra o farol para aqui, lá e acolá, até que, em certo momento, conclui: “Não há remédio! Vou desguarnecer a frente, a zona que habitualmente iluminava, e passarei esta luz a um horizonte muito maior. Nossa Senhora, Mãe de misericórdia, proverá como entender”.
No entanto, ao virar a posição do farol, ele percebe que a luz não apenas se desloca, mas como que se desdobra. Assestada para um e outro lado, ela se estende, sem, contudo, deixar o ponto originário. Atento, mas propenso às explicações inteiramente razoáveis, o sinaleiro fica, no começo, surpreso. “Não será uma ilusão minha? Será bem isso que está se passando?”
Por fim, ele percebe que é real: Nossa Senhora está desdobrando a luz. Na zona primeva a mesma luz brilha, porque o desdobramento é um fruto da graça, é uma bondade d’Ela.
Essa metáfora traduz bem o que eu sinto quando vejo o crescimento de tudo quanto no Grupo faz o meu “transcaríssimo” João Clá, sobre o qual não posso deixar de dizer uma palavra para encarecer a importância de seu papel, de sua dedicação, dos talentos com os quais Nossa Senhora o dotou. O João é, de algum modo, um desdobramento meu; ele produz sobre os outros um efeito análogo ao que eu noto que produzo, inclusive sobre ele.
Eu aprecio enormemente esse dédoublement, reputo-o muito bom e autêntico, e não me sinto roubado com isso, mas engrandecido, porque é uma defluência minha no João. Acho muito bonito ver como as coisas são transmissíveis.
Não quero dizer que só a obra do João cresça. Mas como ela cresce! Como Nossa Senhora põe a luz em atividades e tarefas nas quais eu não teria tempo de agir, de tal maneira que, quando vejo o que se passa, penso: “Se eu tivesse trabalhado e as coisas corressem assim, me sentiria inteiramente atendido”. Ele se desdobra, se esbalda e eu fico num papel mais suave e agradável.
Por meio de Nossa Senhora é que nos vem de Deus toda graça perfeita e todo dom inteiro; é, pois, também por meio d’Ela que eu agradeço a Ele. Mas assim como devemos saber agradecer antes de tudo àqueles que estão acima de nós e alegrar-nos em ter superiores, assim também, para quem dirige algo, é uma verdadeira alegria ter filhos bons e súditos exatos, que deem exemplo a todos os outros.
Eu não poderia dizer mais. Um dia todos apreciarão inteira e cabalmente o papel único do João na evolução de minha obra!