No contato com Dona Lucilia, uma comunicação da graça oposta ao egoísmo, ao sentimentalismo e outros vícios existentes na alma revolucionária.
Pelo que tenho notado, a ação de Dona Lucilia junto a alguém move a alma a deixar a posição errada de egoísmo e a se dirigir a Nossa Senhora.
Atuação para aceitar o Segredo de Maria
A atuação dela incide sobre o temperamento especificamente, eliminando as afeições viciosas que o deformam inteiramente. Essa deformação faz com que concebamos como um horror tudo o que é contrário ao nosso apego. Mas mamãe desenvolve uma ação específica na alma por onde esta começa, de repente, a perceber quanto é atraente e afável aquilo do que ela tinha horror, e compreende a cegueira devido à qual considerava como delícia o que na realidade era horror, e como horrível o que de fato deveria ser a sua delícia.
Por exemplo, o apego de querer parecer rico. A pessoa arrasta esse horror, mas subitamente ela, que era louca pelo dinheiro, passa a sentir desafogo na separação do dinheiro. E tudo isso mamãe faz com respeito pela alma, com delicadeza, quase pedindo desculpas por entrar no subconsciente da pessoa e operar isso.
No Pai-Nosso, Deus quer ser chamado de Pai para que compreendamos, pelos bons pais da Terra, a paternidade d’Ele. Assim, uma mãe terrena que tenha tão plenamente realizado sua missão junto a um filho, compreende-se que continue a agir desse modo após sua morte, mas não só em benefício dele como também para toda a família de almas por ele fundada. Portanto, se Dona Lucilia foi para mim o símbolo de Nossa Senhora, é natural que o seja também para aqueles que me seguem. Mamãe atua de modo pré-dispositivo para a aceitação do “Segredo de Maria”1, esta graça especialíssima que age na vontade humana fazendo a alma progredir e se converter, e por cuja ação a pessoa não deixa de ser inteiramente livre, mas, sendo tão prodigamente iluminada e auxiliada, torna-se incapaz de escolher o erro e o pecado.
Primazia do amor materno
Quando Nossa Senhora, por razões misteriosas, obtém para alguém esta graça que trabalha a alma, transformando-a e fazendo-a florescer, dá-se com ela algo análogo ao que aconteceu com a água que, por sua intervenção, transmutou-se em vinho nas bodas de Caná. Maria Santíssima intercede junto a Nosso Senhor, o Qual, impossibilitado de recusar um pedido de sua Mãe, pronuncia sobre nossas almas uma palavra que as transforma no mais saboroso dos vinhos. Tais são as extraordinárias graças que podemos receber de Deus, se o pedirmos por intermédio de Maria.
Muito bonito é outro aspecto do “Segredo de Maria”, pois o vazio dentro do qual as coisas se precipitam deve ter como contrário a presença de Nossa Senhora. Pode-se imaginar em que espécie de vazio ficam os que não recebem essa graça da Mãe de Deus. Se eu não fosse filho d’Ela, teria um vazio na alma que seria irremediável. Essa graça é a da primazia do amor materno, gratuito, direto, pessoal, terno e desinteressado como nenhuma outra forma de amor é capaz. Mesmo o amor paterno não é o amor materno. Dou-lhes o exemplo.
Certo dia, em nossa residência, ouvi uma conversa de papai e mamãe que estavam no living.
Ela perguntava:
— João Paulo, você acha que Plinio gostaria de comer tal coisa hoje?
Ele não respondia de maneira satisfatória e ela insistia, querendo saber se papai não tinha observado ultimamente o que eu mais comia. Ela não queria me perguntar diretamente, pois havia percebido que me agradava a surpresa no jantar. Eu mesmo não tinha me dado conta disso até então, e ela já entendia o que só ali explicitei.
Papai disse para ela que fizesse qualquer coisa e me dissesse: “Aqui está o jantar, e se não gostar, vá para um restaurante…”
Só mãe é assim; outras relações não são desse modo. E ou se foi objeto de relações assim, ou não se compreende o princípio axiológico2.
A imagem mais terna do amor de Deus para conosco é essa. São coisas miúdas, mas nas quais está posta uma vida inteira!
Doçura cristã admirável
É preciso sentir coisas assim para se compreender Nosso Senhor Jesus Cristo e Nossa Senhora. Do contrário, fica-nos um vazio na alma que é depois preenchido por “cobras e lagartos”: sentimentalismos, invejas, revoltas, etc. Daí nascem egoísmos, dúvidas, desrespeitos.
Por vezes, é dado aos homens conhecerem reflexos desse modo, mas muitos os desprezam. Eu vi manifestações dela assim serem desprezadas… Ora, deveríamos ser sempre sensíveis a elas.
Ela sofria as rejeições sem desejos de vingança. Era de tal bondade que, ao pé da letra, tinha o procedimento evangélico que é imitar Nosso Senhor Jesus Cristo. E de uma doçura cristã admirável! Mas não imaginem que era doce apenas como mãe. Ela era assim para todo mundo, e especialmente como mãe.
Externamente, a vida de Dona Lucilia nada teve de extraordinário. Foi só a irradiação da sua alma. Quando recebi a graça no Coração de Jesus em frente à imagem de Nossa Senhora Auxiliadora3, compreendi o que era Maria Santíssima por comparação com ela. Mamãe era um caminho que me conduzia para lá. Ela havia preparado meu espírito para receber o sorriso de Maria Auxiliadora. Ela era como um pedaço de um espelho dentro do qual se reflete o Sol inteiro. Assim foi seu papel para minha devoção a Nossa Senhora.
Quando eu lia o “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem”, entrava um mundo de reminiscências implícitas a ela. Assim, compreendi-o a partir dela. A influência exercida por ela sobre mim era o começo de uma ação que Nossa Senhora desempenharia em minha vida. Mamãe foi, portanto, o vínculo, o elo para a devoção a Maria Santíssima.
A tal ponto que, quando analisei pela primeira vez a música natalina Stille Nacht, e senti que passava a conhecer melhor Nossa Senhora — pois Ela deveria ter experimentado, ao pé do Presépio, os sentimentos que este cântico inspira —, também pensei em mamãe.
Muito respeito, mas não intimidades
Dona Lucilia estabelece com cada um que dela se aproxima um vínculo pessoal, tomando-o como filho em linha de misericórdia especial, com respeito sem símile.
Ela me respeitava muito, até mesmo quando eu era criança. Brincava comigo como uma mãe faz, mas com grande respeito. Como eu me sentia bem assim, tratado com esse respeito! Por exemplo, quando vinha tomar minha temperatura. Como toda criança, de vez em quando eu adoecia e tinha febre. Apesar de me extasiar com ela, eu era impaciente quando queriam tomar minha temperatura, pois não gostava disso. Ela percebia, mas tendo que verificar se eu tinha febre, de longe já vinha com jeito. Depois, de modo calmo punha sua mão em minha testa… Isso aumentava meu respeito por ela e me fazia concluir: “Se nessa alma existe tanta capacidade de respeitar, como a respeitarei quando a conhecer inteiramente!”
Eu gostava do respeito mais do que do carinho.
Mamãe respeitava todos, considerando em cada um a idade, virtude, classe social, etc. Era assim, por exemplo, com um membro de nosso Movimento que vinha em casa tratar do expediente. Jamais diria a ele: “Espere um pouco que já lhe mando servir qualquer coisa…” Ela dizia: “O senhor aceitaria tomar chá agora?”
Por outro lado, não permitia intimidades. Diante de um bispo que nos visitava frequentemente, jamais o cumprimentava sentada. Levantava-se, osculava o anel e pedia-lhe permissão para oscular o Santo Lenho que ele trazia em sua cruz peitoral e lhe fora dado pelo Papa. Era este um tratamento bem apropriado para um bispo.
Quando eu via tudo isso em mamãe, deixava-me tocar profundamente, e depois vinha a análise truculenta: É assim que a Igreja ensina? Isso está de acordo com a boa Doutrina Católica?
Eu aderia à Igreja e analisava mamãe ponto por ponto, atentissimamente. Não era, entretanto, uma análise crítica ou cheia de suspeitas.
Recebida uma graça de comunicação com ela assim, preenchemos lacunas que existem em milhões de almas revolucionárias. Uma vez que a graça penetre nesses vazios, exorciza-os, retirando as serpentes do egoísmo, do sentimentalismo, etc.
(Extraído de conferências de 31/5/1971 e 21/5/1977)
1) Ver Revista Dr. Plinio n. 156, p. 25-26.
2) Termo derivado de “Axiologia”: ramo da Filosofia que estuda os “valores”, isto é, os motivos e as aspirações superiores e universais do homem, as condições e razões que dão rumo à sua existência, para os quais ele tende por insuprimível impulso da sua natureza.
3) Ver Revista Dr. Plinio n. 122, p. 18-23.
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