Camões cantou as glórias de Portugal, condensando nos Lusíadas sua visão da epopéia de seu povo. Wagner, em composições ribombantes, exaltou a raça germânica. Poetas e compositores teceram loas a heróis e heroínas, reis, batalhas, eras históricas, e até a revoluções.
Já Dr. Plinio voltou-se de maneira intensa, mas não exclusiva, a louvar a Deus, Nossa Senhora, a Igreja e a Civilização Cristã. Ele, que sempre negou ter o dom da poesia, na realidade não era dele desprovido, extravasavasando-o numa prosa plena de pulchrum.
“No Véu [da Verônica]”, escreveu ele numa de suas Vias-Sacras*, “a representação da Face divina foi feita como num quadro. Na Santa Igreja Católica, Apostólica, Romana ela é feita como num espelho. Em suas instituições, em sua doutrina, em suas leis, em sua unidade, em sua universalidade, em sua insuperável catolicidade, a Igreja é um verdadeiro espelho no qual se reflete nosso Divino Salvador. Mais ainda, Ela é o próprio Corpo Místico de Cristo”.
Aqui temos um exemplo característico. Embora as palavras deste trecho não estejam organizadas em versos, a cadência das idéias forma um certo poema, de beleza talvez superior à da simples métrica. A obra pliniana desse tipo se estende por centenas de milhares de páginas.
Vejamos como ele continua a desenvolver o pensamento acima, sobre a 6ª Estação da Via-Sacra:
“E nós, todos nós, temos a graça de pertencer à Igreja, de sermos pedras vivas da Igreja! Como devemos agradecer este favor! Não nos esqueçamos, porém, de que ‘noblesse oblige’. Pertencer à Igreja é coisa muito alta e muito árdua. Devemos pensar como a Igreja pensa, sentir como a Igreja sente, agir como a Igreja quer que procedamos em todas as circunstâncias de nossa vida. Isto supõe um senso católico real, uma pureza de costumes autêntica e completa, uma piedade profunda e sincera. Em outros termos, supõe o sacrifício de uma existência inteira”.
Esses termos portam vida, entusiasmo, amor profundo e sincero. Não se trata de recurso literário. Para exprimir-se desse modo, Dr. Plinio necessitava tão-só deixar falar seu coração de católico, fonte inesgotável de explicitações, raciocínios, metáforas, figuras, que externavam o enlevo e a veneração pelos grandes amores de sua vida.
Número após número, nossa revista dá testemunho disto. Na presente edição, o leitor poderá ver Dr. Plinio levantar os olhos para a divina sublimidade do Coração de Jesus; chamar os leigos católicos à responsabilidade na construção de uma sociedade segundo Deus; sublinhar todo o bem que, ao longo dos séculos, a Igreja fez à humanidade; e comentar a marca católica presente nas obras artísticas, quando elas são trabalhadas por almas de fé. Ademais, em outro trecho da obra “Dona Lucília”, de autoria de João S. Clá Dias, pode-se distinguir a indispensável contribuição da mãe de Dr. Plinio na formação de sua mentalidade.
Estando ele agora na eternidade, nada impede rogarmos, por seu intermédio, graças ardentes de amor a Deus, a Nossa Senhora, à Santa Igreja e à Civilização Cristã. Desse modo, crescendo nesses amores, possamos receber a recompensa descrita por ele, ao encerrar o comentário àcitada 6ª Estação da Via-Sacra:
“E qual é o prêmio? Christianus alter Christus. Eu serei de modo exímio uma reprodução do próprio Cristo. A semelhança de Cristo se imprimirá, viva e sagrada, em minha própria alma”.
* Artpress, São Paulo, 1994, 4ª edição