domingo, noviembre 24, 2024

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A perfeita felicidade

Por vezes, a primeira etapa da vida de uma pessoa parece ser a mais feliz de sua existência. Será que a vida consiste na procura inútil de uma felicidade que ficou para trás? Ora, Deus não poderia permitir que assim fosse, e nos faz ser visitados por uma felicidade provinda da alegria do esforço vitorioso, prenúncio da eterna bem-aventurança, que baixa sobre nós como uma estrela saída das maternais mãos de Maria.

Há um período inicial da vida do homem, ao menos para a grande maioria dos homens, que vai pouco mais ou menos do momento em que ele começa a conhecer o mundo externo até as primeiras desilusões com os seus amigos, quando estas não se dão dentro de sua própria casa.

Inesquecível felicidade da primeira etapa da vida

Nessa primeira etapa a vida há uma sequência contínua de felicidades, e as pessoas têm uma alegria da qual não se esquecem até o fim de sua existência. Quando chegam à extrema velhice, depois de terem passado pelas situações de alma as mais diferentes e, portanto, tendo alcançado às vezes os maiores triunfos, como também escorregado até o mais baixo das derrotas mais aflitivas, elas gostam de se lembrar daquela felicidade primeira, como se tivesse sido algo que, uma vez perdido, não se recupera mais. E isso era, para elas, o verdadeiro sentido da felicidade.

Por vezes, ainda na juventude, depois de o indivíduo percorrer os primeiros quatro ou cinco passos da vida, olha para trás e percebe que naquele período ele realmente era feliz, mas não sabia que o era. Parecia-lhe tão natural tudo correr bem, ele acomodava-se facilmente ao muito ou ao pouco que sua família possuía; oh, felicidade!

O sujeito avança um pouco na vida e percebe, de repente, que está cercado de preocupações, decepções, tem interrogações confusas, obscuras em relação ao futuro, sente carências, perplexidades e, ao mesmo tempo, uma vontade louca de viver. Mas, no meio de tudo isso, aquela felicidade sem mancha e sem nuvens do passado ficou para trás.

Para gozar bem a vida na Terra, a pergunta verdadeira seria: Como voltar àquela felicidade?

Por vezes, os maiores poetas, os homens que passaram por situações as mais emocionantes e agradáveis, quando falam do tempo de sua primeira infância se comovem.

Considerem a tragédia do homem que, pouco depois de ter dado uns passos iniciais numa grande estrada em busca de algo, percebe ter ficado para trás o que ele procurava, mas ele não pode voltar.

Napoleão não encontrou a felicidade na carreira gloriosa…

A Córsega é uma ilha que no século XVIII tinha sido incorporada à França. Havia lá a família Bonaparte a qual, perseguida por razões políticas, por ter participado de guerrilhas naquelas montanhas íngremes, teve que se mudar para a França, em condição pobre. Lá, o mais velho da família, Napoleão, por condescendência do rei, foi recebido como cadete na escola de oficiais.

Divulgação (CC3.0)
Retirada de Napoleão após sua derrota em Moscou

Ele, então, começou sua carreira que comportou tudo, teve uma ascensão contínua, passou por vitórias militares inebriantes, foi coroado imperador dos franceses, casou-se com uma arquiduquesa da casa imperial mais ilustre do mundo, a de Habsburg, presidiu congressos de imperadores, reis, príncipes, duques; aos seus pés as plateias eram de cabeças coroadas. Contava-se este caso: Em determinado palácio onde Napoleão se encontrava, foi dado um toque característico da entrada de um hóspede ilustre. Então um soldado perguntou para o outro:

– Mas quem está chegando?

– Ah! não é senão um rei…

Tantos eram os imperadores que iam lá, que não sendo um imperador, era zero.

Podemos imaginar quantas impressões alegres Napoleão teve na vida, com as quais ele nunca contara. Basta pensar, simplesmente, na data de sua coroação. Como aquilo havia de torná-lo radiante!

…nem na glória reconquistada, após terríveis reveses

Também as desgraças mais fulminantes o acometeram. Em 1814 ele caiu. Os russos, austríacos e prussianos invadiram a França, e ele foi deposto. Tão odiado a ponto de ter que caminhar para o Sul da França e ali tomar um pequeno navio que o conduziria a seu exílio, uma ilha pequena no Mediterrâneo, onde ele tinha o título ridículo de “Rei da Ilha de Elba”. E ele, para quem era bondade receber um rei, começou a anunciar que Sua Majestade, o Rei da Ilha de Elba, Napoleão Bonaparte receberia todas as pessoas de passagem pela ilha que quisessem conhecê-lo. E se transformou, assim, numa espécie de atração turística, para ter gente com quem conversar.

Em certo momento, as situações políticas lhe são favoráveis, há mil circunstâncias, e ele volta para a França. Em pouco tempo está em Paris, o Rei da Casa de Bourbon foge, e Napoleão retorna ao palácio, carregado por todos os seus fiéis, e ele é de novo o imperador dos franceses. Imaginem a ebriedade de dormir na cama que ele tinha deixado, servido novamente pelos cortesões no palácio que ele perdera.

Pois bem, ao cabo de cem dias, exatamente, ele sofre uma derrota em Waterloo e tem que fugir, desta vez para o Norte, onde ele toma um navio inglês, e escreve ao Rei da Inglaterra uma carta na qual ele diz: “Eu vim me refugiar junto ao mais generoso e maior dos meus adversários. Espero de vossa parte uma magnânima acolhida.”

Ao que o monarca inglês responde: “Pois não, você está preso!”

Ele vai para Santa Helena, uma ilha vulcânica no meio do Oceano Atlântico, num abandono, uma coisa tremenda! Abandonado pelos maiores amigos, ele sobe numa embarcação e se dirige ao exílio acompanhado de uma cortezinha de gente que ficara fiel a ele, que o segue para se pendurar nas abas do paletó do homem ilustre.

Trinta dias de viagem, durante a qual ele passa longas horas silencioso, vendo o mar passar. Às vezes, desce para a sala de jantar onde, nas horas das refeições, tem longas conversas com pessoas de terceira ordem, que tomam nota do que ele diz para, quando ele morrer, publicarem suas confidências para ganhar dinheiro.

Desembarcam em Santa Helena e, daí a pouco, dá uma espécie de câncer no estômago dele. No fim de sua vida, ele estava tão fraco que não tinha força para levantar as pálpebras, e assim morreu.

Em determinada altura de sua vida, ainda no auge de seu triunfo, perguntaram para ele:

– Qual foi o dia mais feliz de sua vida?

A resposta dele é famosa:

– O dia de minha Primeira Comunhão.

Divulgação (CC3.0)
Napoleão na Ilha de Santa Helena

Portanto, era a felicidade que ficara para trás.

Um prelúdio da felicidade futura

Mas, então, se é para caminhar cada vez mais se distanciando daquilo que nós procuramos com ebriedade, o que é a vida?

Uma vez que não posso evitar os dissabores, inquietações, desilusões, e encontro a fórmula da felicidade nas saudades dos primeiros passos de minha existência, devo compreender o seguinte: nesta vida, a felicidade é relativa.

Entretanto, Deus não seria Deus se fizesse dessa primeira felicidade originária apenas um sarcasmo: “Vive, Eu te dou uma lambiscada na taça inefável da felicidade e te solto no mar das dores. Anda.”

Não, Deus não faz isso. Ele dá ao homem uma promessa magnífica:

“Aquela felicidade que tiveste no início, meu filho, foi uma amostra da bem-aventurança eterna que terás no fim. Não é real que vais te afundando de infelicidade em infelicidade. Pelo contrário, a verdade é que, no fim do caminho, encontrarás a felicidade. Terás que passar pelos umbrais da morte, mas para além desta encontra-se a felicidade radiosa da qual Jesus Cristo goza no Céu. Tudo quanto foi felicidade em tua infância está para a que terás no futuro como a luz de um vaga-lume está para a de dez mil sóis reunidos. Não se pode ter ideia do que seja essa felicidade que te espera. Terás de caminhar e sofrer. Sofre com retidão e receberás esse prêmio. Caminha, afunda-te na dor, na dificuldade, com resignação e coragem, transpõe esse mar de tormentas e cai na sepultura; do outro lado será a aurora eterna! Não olha para teu passado como para a felicidade perdida. Olha para ele como a promessa da felicidade a ser adquirida.”

Gemendo sob o peso da cruz

Ao que alguém poderia responder:

“Senhor, como tudo isso é grandioso, como é magnífico! Permiti-me dizer: como é misericordioso, como é terrível! Uma tão longa caminhada durante a qual não encontro um oásis, uma gota de água cristalina, uma sombra, um pouco de grama verde, um coqueiro, e tenho que caminhar, caminhar, caminhar, partir do Mar Vermelho para chegar ao outro lado do oceano… Senhor, sei que é um oceano de delícias, pois Vós o afirmais. E dizeis mais: a delícia para mim sereis Vós, e eu creio, meu Deus. Mas, Senhor, tende pena de mim! Quero muito chegar lá, mas não tenho forças para atravessar esse deserto. Tanto mais que não se trata apenas de transpô-lo. Muito mais do que isso, é mister atravessá-lo direito. É a lei da minha cruz, ó meu Deus: carregar a vossa.

“Carregar a cruz de não pecar, de ser virtuoso, de cumprir os vossos santos e magníficos Mandamentos. Mas estes são como a felicidade: encantam-me, começo a cumpri-los e eles me pesam. E o peso é tão grande que às vezes, por minha culpa, caio e tenho a desgraça de Vos ofender… Em minha jovem idade, quando vejo Dr. Plinio com setenta e sete anos, imagino quanto tempo vou ter que andar nesse deserto!”

Um outro dirá a esse coitado:

– Então peça a Deus para morrer.

– Também não, – responderia o jovem – tenho medo de morrer. Meu Deus, tenho medo da vida, tenho medo da morte! Oh, tempo dourado, que ficou para trás, quando eu não pensava nisso! Dr. Plinio, o senhor não percebe que eu não tinha vontade de olhar de frente o que o senhor está me mostrando? E o senhor abre, à machadinha, minha cabeça e me conta o que eu tinha medo de ouvir! Agora o fato está consumado, vi que é isso mesmo, e o senhor não leva em conta o quanto eu procurava envolver-me em nuvens para não olhar de frente. O senhor sopra em cima da minha nuvem e estou eu diante desse quadro. Oh! Dr. Plinio, por que o senhor fez isso?

J.P. Beltran

O reencontro da felicidade primeira

Deus é Pai cheio de misericórdia e nos dá um meio de sentirmos, de vez em quando, ao longo do caminho, a felicidade que deixamos. Ela nos visita multiplicada por si mesma, como uma estrela que baixasse do céu para nos iluminar a via, e com a qual pudéssemos brincar.

É uma coisa que depende de nós. De tal maneira depende tanto de nós que se diria depender só de nós e não d’Ele. Mas depende tanto d’Ele que se diria depender só d’Ele e não nós.

Quando o homem, nesta vida, tem a consciência reta, cumpre os Mandamentos pela graça que recebe do Céu e sabe estar caminhando para o Céu no meio de mil dores, há momentos em que a estrela cai do céu e visita-o. É o momento em que a pessoa se sente pura, tem alegria de consciência por estar levando a vida que devia, e correspondendo às felicidades enunciadas por Nosso Senhor no Sermão das Bem-aventuranças. E, por um lado de sua alma, aquela felicidade inicial continua até a pessoa chegar aos bordos iluminados de toda felicidade, e então morre tranquila.

Não há quem, sendo católico praticante, pela graça de Deus e rogos de Maria, não tenha sentido a alegria de confessar-se e sair deste sacramento com a impressão de que sua alma ficou limpa, a absolvição pousou sobre ele e o reconciliou com Deus, e ele deixou o confessionário satisfeito, com o corpo e a alma mais leves. Às vezes dura pouco, embora a pessoa mantenha-se por muito tempo em estado de graça. Mas que sensação, que felicidade! Não é verdade que reencontramos aquela felicidade primeira?

Um grau a mais da felicidade: a do heroísmo!

Daí a pouco chega a tentação e começa a luta. Com a luta, tem-se a impressão de que a felicidade se afastou. E, realmente, muitas vezes a luta é terrível. Mas quando a luta passa, compreendemos que até durante a luta éramos felizes, porque tínhamos consciência de estar vencendo, sendo fiéis a Nossa Senhora, a Nosso Senhor e calcando o demônio aos pés.

Às felicidades da infância se junta uma nova que a infância não conhece: a felicidade da vitória, de ter feito o esforço e ter conseguido. A primeira infância não conhece isso. Tudo lhe cai na mão, sem esforço. A pessoa tinha a ilusão de ser aquilo felicidade precisamente porque não exigia esforço. Mas quando conhece a alegria do esforço vitorioso, compreende: “Eu subi um grau na felicidade. Tornei-me herói, venci pela primeira vez e respirei o ar puro dos píncaros. Ah, quero mais píncaros, porque quero vencer!”

Vencer antes e acima de tudo o pecado. É essencialmente o inimigo que devemos derrotar. Que tranquilidade e gáudio quando um homem pode dizer: “Atravessei tal provação, porém cumpri meu dever. Tentado por toda forma de impureza, de cólera, de abatimento, de covardia, por tudo, resisti e venci!”

Alguém poderia objetar: “Pobre miserável, você não venceu nada. Você não fez carreira. O que você venceu?”

A resposta é simples, e agora falo do meu caso concreto. Eu venci o meu pior inimigo: Plinio Corrêa de Oliveira. Porque cada um de nós tem dentro de si o seu pior inimigo, de quem se trata de desconfiar, pegá-lo pelo pescoço e derrotá-lo. E se Nossa Senhora me conceder a graça de vencer até o fim esse inimigo, afinal de contas, olhando para meu passado eu diria: Foi um caminho de dor; é uma esteira de luz!

Então, o que vem a ser a felicidade nesta perspectiva? É a lembrança fiel, de um gosto do Céu que eu, batizado, filho da Igreja, membro do Corpo Místico de Cristo, tive na origem de minha vida. E, no fundo, é essa a felicidade que eu procurei a vida inteira e me foi dada às gotas, de vez em quando, enquanto eu ia caminhando. Eram os oásis. No fim, vem o Céu.

Divulgação (CC3.0)
Os quatro líderes da Primeira Cruzada

Todo homem que sinceramente possa dizer isso de si mesmo e para quem foi mesmo assim, dele se poderá escrever na sua sepultura: “Aqui jaz anônimo. Foi feliz porque foi para o Céu.”

O mundo nos oferece conchas cheias de aflição

Considerem um ricaço que reformou sua casa dez vezes ao longo da vida e comparem com uma pessoa que possui uma casinha média e passou a vida inteira contente naquela casa. Quem é mais feliz: o que reformou a casa uma porção de vezes ou quem soube encontrar deleite numa casa que não precisou de reformas?

O mundo apresenta padrões de felicidade que são conchas cheias de aflição. Para ver, são lindas. Experimenta-se, é aquela amargura. Que desilusão, que coisa tremenda! Uma vida sem sentido, sem significado, que leva as pessoas a se perguntarem para o que estão vivendo e, por vezes, a praticarem o suicídio.

Nossa civilização tão rica, à qual se insiste em apresentar como sendo o mundo da felicidade, é a que conheceu em alto grau uma das manifestações mais impressionantes de infelicidade, algo privativo de nossa época: o suicídio de crianças.

Alegria que desce do Céu sobre aquele que cumpre o dever

Qual é, então, o mundo da felicidade?

Pensem nos cruzados partindo para a Terra Santa. Sobre uma relva bonita os corcéis começam a desfilar, como tudo é bonito! Mas, sobretudo, é bonito notar uma certa alegria daqueles cruzados que vão para onde? Para o perigo. Eles sabem que, com as embarcações frágeis daquele tempo, podem ir parar no fundo do Mediterrâneo, e o mar se torna para eles uma sepultura.

Quando o atravessam, do lado de lá encontram o calor tórrido do deserto, com o qual não estão habituados, uma natureza seca, árida, onde o perigo maometano os aguarda. Com isso, quantas e quantas vezes a morte sem médico, sem cirurgia, tremenda, no campo de batalha; horas de sede abrasadora, porque o sangue está escorrendo e o cruzado tem vontade de beber uma gota de água, mas não tem quem a dê, porque está sem socorro. Metido naquela armadura que ele vestiu por amor a Nosso Senhor Jesus Cristo, sobre a qual bate o Sol, desde a manhã até a tardinha, e ele está metido num forno.

Sabendo de tudo isso, como podem estar tão alegres na hora de partir? Há, entretanto, algo da felicidade da infância. É a alegria descida do Céu sobre o homem que está cumprindo o seu dever. Uma alegria de Anjo que não o abandona, nem sequer quando ele estiver, como num forno, dentro de sua própria couraça, exangue, morto de sede, mas lembrando-se de que Nosso Senhor, antes de expiar disse: “Tenho sede!” E na consideração de estar sofrendo o que Cristo sofreu, o cruzado tem o ósculo da graça na sua alma e morre em paz. Ah, isso é felicidade!

A perfeita alegria

Conta-se que estando São Francisco de Assis em viagem, em pleno inverno, junto com outro frade de sua Ordem, este lhe perguntou, atormentado pelo intenso frio.

– Pai, peço-te, da parte de Deus, que me digas: onde está a perfeita alegria?

Ao que o Santo respondeu:

– Quando chegarmos ao Convento, inteiramente molhados pela chuva e transidos de frio, cheios de lama e aflitos de fome, e batermos à porta, e o porteiro chegar irritado e disser: “Quem são vocês?” E nós dissermos: “Somos dois dos vossos irmãos”, e ele replicar: “Estão mentindo; são dois vagabundos. Fora daqui!” E nos deixar sob a neve e a chuva, com frio e fome até à noite; se então suportarmos tal injúria e crueldade sem nos perturbarmos nem murmurarmos contra ele, nisso está a perfeita alegria.

E acrescentava São Francisco:

– E se ainda, constrangidos pela fome e pelo frio, voltarmos a bater à porta durante a noite e pedirmos, pelo amor de Deus e com muitas lágrimas, que nos abra e nos deixe entrar, e ele mais escandalizado disser: “Vagabundos importunos, pagar-lhes-ei como merecem.” E sair com um bastão, nos agarrar pelo capuz, nos atirar ao chão, nos arrastar pela neve e nos bater; e suportarmos todas essas coisas pacientemente, pensando nos sofrimentos de Cristo; ó irmão Leão, nisso está a perfeita alegria!

A meu ver São Francisco fez uma grande descoberta. Quer dizer, na hora em que renunciamos a tudo por Nossa Senhora e vamos para a frente, em certo momento baixa sobre nós a perfeita felicidade.

Como uma estrela vinda das maternais mãos de Nossa Senhora

Se do alto píncaro franciscano é lícito descer para a vida corrente de nossos dias, conto um pequeno episódio para concluir estas reflexões.

Eu tinha mais ou menos vinte anos quando passei por uma série de provações espirituais tremendas, como eu nunca pensei que sofreria em minha vida.

Passados seis meses de tormento, certa manhã, na São Paulinho de então, com o movimento ainda pequeno, os primeiros bondes, os primeiros automóveis começavam a circular, eu estava esperando um bonde que me levaria à Avenida Paulista, numa esquina de onde eu podia ver a imagem de Nossa Senhora no alto da cúpula da Igreja da Imaculada Conceição.

Arquivo Revista
Dr. Plinio durante seu serviço militar

De repente, começo a notar uma coisa assim: “Que luz particularmente bonita hoje! Como isso aqui está cheio de passarinhos que cantam! Essa aurora quer dizer alguma coisa… Está mais bonita até do que o costume, não pensei que auroras fossem bonitas assim. Que bem-estar sinto em mim, não posso compreender o que é isso. Tenho até a impressão de que o meu infortúnio está passando. Estou começando a sentir uma alegria como nunca senti na minha vida, ela me enche a alma, mas não sei explicá-la.”

Isso durou algumas horas, mas logo após o infortúnio se reapresentou com garra de ferro.

Dali a alguns dias, em meio à batalha, abro um livro de leitura espiritual e começo a ler. Aquilo me inundou de felicidade novamente, mas muito mais definida do que aquela que experimentara dias antes. A partir de certo momento iniciou-se para mim um período de uns seis meses durante os quais sentia uma felicidade indizível e contínua. Eu vivia, então, no meio da alegria, da satisfação, e me sentia, por assim dizer, no Céu. Assim, depois de ter dito a mim mesmo: “Não pensei ser possível tanto sofrimento”, passei a pensar o seguinte: “Não pensei que se pudesse ser tão feliz nesta Terra.”

Atravessemos, pois, todos os infortúnios, e vamos para a frente, e encontraremos a verdadeira felicidade dos primeiros passos da vida reapresentando-se, de vez em quando, como uma estrela que Nossa Senhora deixa cair de suas maternais mãos para as nossas, para nos dar um certo gáudio que Ela, melhor do que ninguém, gradua para cada um, pois sendo nossa Mãe, sabe o que nos é necessário. A cada felicidade dessas nós devemos oscular e dizer, como a Santíssima Virgem: “Magnificat anima mea Dominum”; e pensar: “Ó Céu, eu caminho em direção a ti!”

(Extraído de conferência de 26/7/1986)

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