sábado, noviembre 23, 2024

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Revolução A e Revolução B

Os livros de História utilizados nas escolas apresentam um amontoado de datas, nomes e fatos, sem a menor conexão entre si. Essa concepção superficial insinua a ideia de que a Causa católica está perdida. Mas Dr. Plinio, analisando os acontecimentos que têm sua origem em 1303 e se prolongam até nossos dias, mostra que eles constituem uma só e grande Revolução, com duas etapas que se entrelaçam: a Revolução A e a Revolução B

Iniciemos o estudo de um problema concernente à Revolução e à Contra-Revolução, analisando a situação da Igreja no século XIII, ou seja, no tempo de São Luís IX.

Um continente homogeneamente católico

É fácil verificar que a Igreja dispunha, então, de todos os elementos para assegurar sua influência sobre a humanidade.

Em primeiro lugar, estava revestida de todos os direitos jurídico-legais necessários ao exercício de sua missão. O Papa era considerado a primeira pessoa nessa espécie de grande confederação de nações que constituía a Cristandade. E até o mais alto monarca da Terra, o Imperador do Sacro Império Romano-Alemão, achava-se colocado abaixo do Soberano Pontífice, como executor de seus desígnios em matéria temporal. Era o supremo detentor do gládio temporal que se devia mover sob a inspiração e direção da Igreja.

Alphonse de Neuville (CC3.0)
Atentado de Agnani

Além disso, a Igreja tinha, com o poder das chaves e a disciplina intelectual do tempo, os meios para exercer largamente uma benéfica influência de mestra infalível sobre todas as inteligências; possuía fontes imensas de renda e tinha, enfim, tudo aquilo que pode assegurar um poder.

De outro lado, se formos verificar a posição dos inimigos da Igreja no século XIII, veremos que estavam na mais completa humilhação. O último surto de heresia, o dos albigenses, acabava de ser esmagado. Os focos remanescentes eram clandestinos. Os judeus, que representavam um elemento estranho dentro da Cristandade, estavam circunscritos aos guetos.

Dentro deste imenso quadro, devemos ainda acrescentar que na Europa a legislação, tanto quanto possível, impedia todas as formas de mal e promovia todas as modalidades de bem. Encontramo-nos, portanto, diante de uma situação magnífica, num continente homogeneamente católico.

Do veneno devemos tirar o contraveneno

Em 25 de agosto de 1270, morre São Luís IX. Trinta e três anos depois, em 7 de setembro de 1303, houve o atentado de Agnani, verdadeiro marco inicial deste processo que se desenrola até nossos dias, visando a derrocada desse estado de coisas que, no entanto, parecia tão firmemente estabelecido.

Perguntamo-nos para que serviram todas essas garantias e regalias se com elas tudo acabou ruindo, como se não existissem; e também, como principiou essa decomposição, como foi possível que, do ápice de São Luís IX, chegássemos até o ponto em que hoje nos encontramos. E isso de um modo mais ou menos inexorável, cada grande etapa da História não fazendo outra coisa senão assinalar um enorme desabamento dentro do edifício da Idade Média.

Considerando esse período da História, chega-se a ter a impressão de que uma espécie de “azar” – para empregar uma expressão profana – se abateu sobre as hostes católicas. A bem dizer, tudo se passa para nossa derrota; a partir de 1303, somos quase constantemente os grandes derrotados. E hoje choramos juntos os restos dessa civilização antiga que tanto amamos, mais ou menos como um judeu lamentando-se junto ao famoso muro que era uma espécie de embasamento do Templo de Jerusalém.

Como foi possível chegarmos até este estado de coisas? Existe um meio de voltar atrás, não fazendo retroceder os ponteiros da História, mas readquirindo o espírito e a mentalidade da Filosofia que impregnou a sociedade medieval? Tratar-se-ia de restaurar, dentro de condições renovadas, a influência de certos princípios eternos e universais.

Quando vemos que o domínio desses princípios vai caindo, interessa-nos saber de que maneira vieram eles a perder toda a influência que exerciam.

Isto porque, conhecendo o modo pelo qual se processou essa queda, poderemos, em seguida, extrair a vacina adequada para o mal: do veneno tiraremos o contraveneno. Investigando qual foi o mecanismo do declínio, poderemos estudar o meio pelo qual se poderá de novo ascender.

Uma arte mil vezes mais perigosa que a bomba de hidrogênio

Assim, encontramo-nos no âmago de nossas questões, porque exatamente o que queremos fazer é dar um impulso em sentido contrário ao processo histórico que descrevemos. E diante desse movimento da direita para a esquerda, que chamamos de Revolução, queremos gerar um outro, da esquerda para a direita, a Contra-Revolução.

Revolução não significa, aqui, luta à mão armada, mas sim uma subversão da ordem, feita, em parte, com movimentos à mão armada e, em parte, com acontecimentos intelectuais, religiosos, políticos, sociais.

A Contra-Revolução não será, portanto, uma luta à mão armada, mas um movimento oposto à Revolução, ou seja, deverá ser toda uma cruzada de ideias, de princípios, de transformação de instituições, de doutrinas, etc.

Antes de entrarmos concretamente na nossa matéria, especifiquemos mais claramente o que desejamos encontrar e formular neste estudo.

É preciso considerar inicialmente que a mola propulsora de todas as coisas que acontecem no mundo é a mente humana, e quem adquire o seu governo conquista, consequentemente, o governo dos acontecimentos humanos.

Royal Collection (CC3.0)
Lutero em 1857 – Coleção Real Britânica

Uma vez que toda ação do homem procede do seu intelecto, quem governa este acaba por dirigir a ação; e há uma técnica mediante a qual se chega a formar a mentalidade de milhões e milhões de pessoas, e até de gerações inteiras. Foi o uso dessa técnica que proporcionou aos conspiradores revolucionários, no século XIII, as armas necessárias para produzir, lentamente, a desagregação da Civilização Cristã.

Há uma misteriosa arte de destruir e de construir, de manipular as ideias e a opinião mundial, arte mil vezes mais perigosa que a bomba de hidrogênio.

Quando refazemos os grandes processos históricos, encontramo-nos claramente diante do emprego de um método. O presente estudo tem por finalidade precisamente detectar os princípios desse método e ver se é possível, mediante uma análise dos fatos históricos, encontrar os fundamentos da arte de destruir e, consequentemente, os da arte de construir.

Superficialidade dos livros de História utilizados nas escolas

Os livros de História Universal, ao menos os que comumente correm pelas escolas, colocam-nos diante de uma concepção muito falha dos acontecimentos. Esses manuaizinhos superficiais em que todos já estudamos nos apresentam um amontoado de datas, nomes e fatos, sem a menor conexão entre si.

Limitam-se a dizer as coisas no estilo seguinte: Em 1270 morreu São Luís, Rei da França. Em 1303 houve uma briga: um Papa, que pelas narrações históricas não se sabe se foi muito briguento ou não, Bonifácio VIII, andou às voltas com um Rei da França, chamado Felipe IV, o Belo. Este enviou uns emissários a Agnani, uma pequena cidade da Itália onde estava o Papa, os quais provocaram um incidente, chegando até, segundo alguns, a esbofetear o Sumo Pontífice.

Um homem pragmático ficaria um pouco constrangido com todas essas coisas. Esbofeteamentos, Papas que brigam, são coisas muito desagradáveis; tiram a tranquilidade e impedem que se ganhe dinheiro…

Após esses acontecimentos, passam-se calmamente os séculos XIV e XV. Tranquilamente, chega-se ao século XVI e, então, nova explosão.

Em 1517, a questão das indulgências foi o rastilho para a eclosão da Reforma Protestante. Surge o caso de Lutero, que rompe com Roma. Esses acontecimentos se prolongam por um período de aproximadamente cinquenta anos. Felizmente, porém, faz-se novamente a paz. E durante mais ou menos três séculos, há tranquilidade. Segue-se a Revolução Francesa, em 1789. No século XIX, entretanto, a História transcorre calmamente. Porém, em 1917, um novo susto para o homem pragmático: a queda do czarismo.

De lá para cá esse tipo de homem superficial tem ganho muito dinheiro, tem ido ao cinema, tem se divertido bastante, e tem tido alguns sustos na Europa.

O Brasil tem sido o paraíso dos pragmáticos. Aqui se tem vivido mais tranquilamente. Tem havido algumas revoluções incruentas, umas crises sociais em que se aumentam os salários, sobem os preços e tudo acaba mais ou menos na mesma. Chegamos assim aos dias de hoje, sombrios, mas que têm, aos olhos do homem pragmático, como que um parapeito aberto para o futuro.

Assim, de acordo com a instrução comumente dada nas escolas, os séculos XIV e XV são séculos de paz. Há um acontecimento aqui, outro acolá, mas entre eles há grandes períodos de calma. Não há uma continuidade histórica entre os fatos. Um não causou o outro. São inteiramente desconexos e semelhantes a uma pessoa saudável que, de vez em quando, fica resfriada. Ela nem leva isto em consideração; não há nexo entre um resfriado e outro.

Divulgação (CC3.0)
Execução de Luís XVI

Ideia de que a Causa católica está perdida

Essa concepção superficial justifica a ideia de que a Causa católica está perdida. Segundo este ponto de vista, ela parece ter como que uma imensa falta de sorte. Inicialmente a Igreja tinha quase tudo em suas mãos. Houve depois uma tola desavença entre um Papa e dois sicários, em que estes acabam por esbofetear o Soberano Pontífice. Os reis aprendem a lição e, sistematicamente, começam a desrespeitar os Papas.

Os monarcas fazem, assim, o primeiro movimento republicano que houve na História, ao quererem livrar-se da autoridade do Papa, proclamando aquilo que poderíamos chamar de uma “república” de reis. Seria este o primeiro acontecimento. Como resultado, o Papa vem a perder todo o domínio que antes exercia sobre os reis da Europa, ficando ainda, no entanto, como senhor espiritual da Igreja.

Séculos depois surge um frade rancoroso que, por causa de uma simples questão de indulgências, promove uma briga, em consequência da qual o Sumo Pontífice perde, de uma só vez, a terça parte da Europa. Mas, afinal, restam ainda os países católicos.

No entanto, por desgraça, aparece um rei tolo num país extraordinariamente vivaz; ele não sabe administrar, a corte gasta demais, até que o bom povo se levanta, canta a Marselhesa, degola o rei, acaba com os nobres e a Igreja vai de roldão. Proíbe-se à Igreja Católica, não se sabe bem por quê, de realizar as suas funções, estabelece-se o ateísmo, adora-se a deusa Razão, erige-se o Estado laico, e quase todos os nações católicas, seguindo o exemplo, adotam a fórmula da separação entre a Igreja e o Estado. A Igreja, por causa de um rei tolo, acabou perdendo o domínio em quase todos os países católicos. De lá para cá permite-se apenas que ela exista.

A cena se repete. Num país que nem é católico, a Rússia, um czar, reprodução fiel de Luís XVI, tem contra si um movimento que estabelece o ateísmo. Depois disso, a Igreja é perseguida em todos os países do mundo. Desta maneira, maior falta de sorte não poderia haver.

Resumindo esta concepção superficial da História, temos as seguintes etapas, nas quais a Igreja perde:

1ª) O domínio sobre os reis por causa de dois sicários.

2ª) O domínio sobre as nações nórdicas, na Europa, pela intervenção de um frade rancoroso.

3ª) O domínio sobre os Estados católicos devido a um rei tolo e a uns conspiradores facínoras.

4ª) O direito de existir devido a um judeu filósofo economista, Marx, e a uns celerados russos.

Assim, a partir de 1303, a História é o relato dos azares da Igreja Católica Apostólica Romana; de onde se segue um complexo de desânimo.

Duas categorias de fenômenos bem definidos

Para podermos proceder à crítica desta concepção superficial da História, passemos à distinção que se deve fazer entre Revolução A e Revolução B.

Divulgação (CC3.0)
Manifestação durante a Revolução Russa, em 1917

Ao analisarmos este amontoado de fatos, que têm sua origem em 1303 e se prolongam até nossos dias, notamos que eles constituem uma só e grande Revolução.

Podem, no entanto, decompor-se em duas categorias de fenômenos bem definidos. Temos de um lado um conjunto de golpes de Estado, de revoltas, de transformações cruentas das instituições, de golpes políticos, todos eles transformando sucessivamente o mundo. A Revolução Francesa, por exemplo, teve essas características: houve golpes políticos, reformas de instituições e emprego da força. O mesmo se poderia dizer do Protestantismo e da Revolução Russa.

Há, pois, um plano B, no qual os acontecimentos políticos vão operando a Revolução. Mas, por detrás e acima deste plano, temos um outro que é o das ideias.

Em toda a História podemos observar que, antecedendo e prenunciando as conspirações, os golpes de estado e as reformas políticas, houve sempre profundas transformações na mentalidade humana.

Houve assim uma profunda mudança de mentalidades, seguida de uma crise de ideias e de uma preparação de ambiente tal que bastou um frade rancoroso rebelar-se para separar da Cristandade, da Igreja Católica, nações inteiras da Europa.

Delimitando os campos, temos, então, dois grupos de fenômenos paralelos, duas categorias de fatos que se alternam. De um lado, uma Revolução tipo A feita nos estados de espírito e nas ideias; e, de outro, uma Revolução tipo B que transforma violentamente as instituições e os costumes para ajustá-los aos estados de espírito anteriormente criados. Fixamos, assim, ao longo da História duas linhas que se trançam e formam a Revolução A e a Revolução B.

Lei do fogo de artifício

Para facilitar a compreensão desses dois tipos de Revolução podemos empregar como imagem o fogo de artifício. Usaremos esta expressão para fixação das ideias, uma vez que estamos codificando aqui os princípios da Revolução e da Contra-Revolução. Temos todo o interesse em dar a cada um desses princípios um nome para que possamos, em nossas reuniões e conversas, nos entender claramente sobre eles. Isto é mais ou menos o que se faz em Medicina: há nomes para indicar lugares determinados de cada parte do corpo humano, a fim de que os médicos possam mutuamente entender-se. Vamos, portanto, dar um nome a cada um desses princípios.

Chamemos, pois, o princípio que vai ser enunciado de “lei do fogo de artifício”. Consideremos um desses fogos muito comuns em festas juninas. Eles produzem duas, três ou mais deflagrações com certos intervalos de tempo. Há inicialmente uma explosão, depois o rastilho corre, atinge outro bolsão de pólvora e produz-se nova explosão. E assim, sucessivamente, temos um momento de explosão e um tempo em que o fogo corre pela pólvora.

Voltando ao caso da Revolução, podemos dizer que a lei que a presidiu foi a do rastilho de pólvora. Cada uma das explosões revolucionárias foi precedida de um rastilho; este rastilho foi a Revolução A; a explosão foi a Revolução B; desta passa-se para uma nova Revolução A e depois para outra Revolução B. É sempre o mesmo fenômeno que se repete: explosão-rastilho, explosão-rastilho, e assim sucessivamente.

Makia Minich (CC3.0)

Este princípio nos leva a uma pergunta que, por sua vez, nos conduz a uma outra imagem e a um outro princípio. Como foi que os protestantes conseguiram que o Protestantismo se espalhasse rapidamente? Como o conseguiram os revolucionários da Revolução Francesa? Como o consegue o Comunismo?

Como atear fogo a uma floresta verdejante

Podemos fazer uma comparação com uma floresta. Suponhamos que alguém tivesse desejo de atear fogo a uma floresta verdejante, uma plantação de eucaliptos, por exemplo, à beira de uma estrada de ferro. Se um diretor da ferrovia conhecesse tal desejo, provavelmente sorriria. Todos os dias, pensaria ele, passam por lá trens que soltam milhares de fagulhas e, apesar disso, nunca houve o menor incêndio; agora essa pessoa, com um fósforo, quer atear fogo à floresta toda?! O indivíduo não diria nada e, durante duas, três, vinte noites, mandaria homens aplicarem nessas árvores misteriosas injeções que as secariam. Finalmente, um dia, atearia fogo a uma delas. Em breve tudo estaria ardendo, apesar de se ter usado somente um fósforo.

Assim também as revoluções são determinadas por uma combustibilidade anterior que possibilita o incêndio produzido pelas ideias revolucionárias em certos ambientes.

As dificuldades na expansão de nossas ideias resultam precisamente da carência de combustibilidade; elas pegam fogo em alguns, mas a outros elas irritam.

Este princípio nos conduz à ideia de que houve possibilidade de atear fogo na floresta porque as árvores se tornaram combustíveis; portanto, o ponto de partida da Revolução foi um acontecimento qualquer que determinou a combustibilidade do organismo social. E foi devido a essa combustibilidade inicial que esse organismo, já fadado, por assim dizer, à morte enquanto não expurgasse o veneno, passou a ser incendiado, sucessivamente, pelas hostes revolucionárias.

John Newman (CC3.0)

Temos, então, a resposta à nossa pergunta. As ideias da Revolução Francesa ocasionaram o incêndio que produziram porque o ambiente estava preparado com toda uma estrutura de princípios, concepções e hábitos mentais, mesmo antes da ação dos revolucionários preparadores próximos dessa Revolução, de tal modo que bastou iniciar-se a campanha revolucionária para a Revolução começar a andar. Como vemos, houve um fato indispensável, anterior à chegada do propagandista revolucionário, e que foi justamente a preparação do ambiente, a fim de que a ideia se propagasse e os homens se deixassem empolgar.

Se queremos suprimir um efeito devemos extinguir a causa que o produz

Como exemplo do exposto é elucidativo o caso, narrado por Jan Valtin, de um porto belga que tinha um partido comunista florescente, o qual, pouco depois, veio a se extinguir completamente. Investigadas as razões, constatou-se um fato curioso.

Arquivo Revista
Dr. Plinio em 1958

O bairro suspeito da cidade estava localizado perto do cais e da zona operária, e foi obrigado a transferir-se para o ponto oposto devido a um regulamento da polícia que visava certas obras públicas. Com o deslocamento de algumas mulheres para outro local, o partido comunista perdeu o eleitorado daquela zona: eram essas pecadoras públicas que faziam a Revolução A; os comunistas, de seu lado, realizavam a Revolução B.

Vemos por este fato como os males se juntam, e como, neste caso concreto, a primeira medida para se acabar com o Comunismo não consistia na promoção de obras sociais, nem na elaboração de dialéticas improdutivas, mas em remover o bairro suspeito. De nada adianta pregar belas teorias sobre o direito de propriedade a um homem que leva uma vida imoral. Antes de mais nada, ele começaria por não se interessar.

Este pequeno acontecimento mostra como a Revolução A precede a Revolução B. Percorrendo a História da Civilização, verificamos que todas as revoluções B não foram senão o paroxismo de revoluções A.

Podemos nos reportar a uma experiência quotidiana. Se as praias do Rio de Janeiro ficassem desertas, se as ruas de São Paulo permanecessem isentas de todos os anúncios imorais e de todas as mulheres com vestidos indecentes que nelas pululam, se a pureza dos costumes dominasse completamente nas grandes cidades, não teria a Revolução Comunista perdido o seu mais precioso campo de expansão?

Se fossem fechadas as boates, os antros, as casas de jogatinas e, ao lado disso, as famílias adquirissem um sábio horror a essas coisas; se suprimíssemos, enfim, todos os focos de corrupção da cidade, podemos afirmar que não seria muito perigoso termos professores ensinando o Socialismo, ou agitadores propagando o Comunismo. Eles seriam enxotados pela indignação geral. Tudo isso, no entanto, existe, pulula, porque faltam pessoas que argumentem contra isso.

Diz um princípio filosófico que, quando se quer suprimir um efeito, deve-se antes extinguir a causa de onde ele provém. Se queremos, pois, extinguir a Revolução, combatamos tudo quanto constitui a Revolução A. A Revolução B se tornará, como consequência, impossível por si mesma.

(Continua no próximo número)

(Extraído de conferência de 15/10/1958)

1) Jan Valtin, pseudônimo de Richard Julius Hermann Krebs (*1905 – †1951). Comunista alemão que atuou em sindicatos de marinheiros e portuários. Enquanto escritor, redigiu suas obras entre as décadas de 1930 e 1940.

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