Nós, católicos, podemos ser humilhados, espezinhados, calcados aos pés, mas sabemos que raiará o dia do Reino de Maria, e que os homens do futuro invejarão as humilhações pelas quais passamos.
Um tema muito bonito é Nosso Senhor na tríplice qualidade de Rei, Pontífice e Profeta.
Rei, Sacerdote e Profeta
Rei é aquele que está no alto de uma certa ordem e a governa, a ordem lhe obedece. Nosso Senhor Jesus Cristo, como Homem-Deus, é Rei de toda a humanidade e de toda a Criação. Como tal é Ele quem manda na História dos homens. Ele quis dar aos homens a faculdade de fazerem o bem e o mal, o poder de agirem contra ou a favor do Direito. De maneira que, quando os homens fazem o mal, eles vão contra a vontade divina, mas Deus quis que eles tivessem essa faculdade, para depois exercer a Justiça sobre eles.
Então, Nosso Senhor Jesus Cristo é Rei até quando os homens se revoltam contra Ele, porque foi Ele quem os dotou dessa liberdade. No fundo, no zigue-zague de toda a História, Ele faz acontecer o que Ele quer. Assim como Nosso Senhor é o Rei da História, é também Rei de todo o universo, do curso dos astros, de tudo quanto se passa na natureza.
Jesus Cristo é Sacerdote porque oferece a Deus toda a Criação no auge da qual Ele está, mas, sobretudo, porque é o Redentor do gênero humano. Ele é Vítima e Sacerdote, pois Se ofereceu a Si próprio para expiar por toda a humanidade. Ele é, pois, Sumo Sacerdote, o Pontífice que possui um pontificado universal. Os outros pontífices, o clero, são pontífices por participação d’Ele. O Pontífice é Ele.
Ele é o Profeta porque predisse o que faria e realizou sua profecia. Os outros profetas previram coisas que outros se incumbiram de cumprir, eles não cumpriram. Jesus previu e fez. Portanto é profeta numa plenitude especialíssima do termo.
Os homens do futuro invejarão as humilhações pelas quais passamos
A cada passo da sua Paixão, com a majestade infinita d’Ele, ao mesmo tempo em que estava sendo escarnecido, humilhado, sentindo todas as dores morais e físicas da situação em que Se encontrava, tendo ciência de que seria morto, sabia também que aquilo tudo seria objeto de uma glória como nunca ninguém teve; uma glória rainha e mestra de todas as outras glórias.
Então, enquanto estava com a coroa de espinhos, com a túnica, o manto e o cetro de irrisão e, portanto, no auge do desprezo e do abandono da parte de todo o mundo, Nosso Senhor sabia que um dia viria onde o poder d’Ele seria tão grande que os maiores reis da Terra se desvaneceriam diante da ideia de poder pôr no respectivo cetro um fragmentozinho daquela cana que servia de cetro de irrisão. Se não se tivesse perdido aquela cana, ter-se-iam construído catedrais para guardar fragmentos dela.
Aquela túnica de bobo tinha diversos significados místicos, teológicos, sobre os quais os maiores espíritos haveriam de escrever enlevados, certos de não chegarem até o fundo do tema. E aquela coroa de espinhos haveria de ser de tal maneira venerada que o maior rei da Cristandade, no seu tempo, São Luís IX, haveria de construir uma Sainte-Chapelle para abrigar um dos espinhos dessa coroa.
Nosso Senhor Jesus Cristo conhecia tudo isso e, do fundo de sua dor e de sua humilhação, carregava a majestade da vitória que haveria de vir.
Mutatis mutandis, com todos nós, católicos, é assim também. Podemos ser humilhados, espezinhados, calcados aos pés, mas sabemos que raiará o dia do Reino de Maria, e que os homens do futuro invejarão as humilhações pelas quais passamos. Quando as pessoas se lembrarem de um jovem casto, atravessando essas cidades impuras, pregando o nome de Nossa Senhora, cortando essas poluições, se ajoelharão ao pensar nisso.
Portanto, na nossa situação devemos carregar com dignidade suprema, como Nosso Senhor carregou, os emblemas da irrisão, da humilhação e do ódio que caem em cima de nós.
(Extraído de conferência de 26/11/1982)