domingo, noviembre 24, 2024

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Da Encarnação à Co-Redenção

Poder-se-ia perguntar qual o papel de Nossa Senhora na geração dos homens para a vida sobrenatural e que analogia tem isso com suas relações com a Santíssima Trindade.

Sou propenso a interpretar as palavras do Arcanjo São Gabriel “Ave, cheia de graça” como querendo dizer não só que em Maria não cabiam mais graças, mas que todas as graças criadas foram postas n’Ela.

Haveria, assim, um curso contínuo de fatos por onde Deus vai dando, através d’Ela, a todos os homens as graças a eles destinadas. Aliás, é o que está contemplado na verdade de Fé da Mediação Universal de Maria. Eis porque Ela é simbolizada por aquela chuva que caiu a pedido do Profeta Elias.

Para a obtenção dessas graças Nossa Senhora teria tido um papel extraordinário, único, inconfundível, análogo ao desempenhado na Encarnação, nas relações d’Ela com o Pai Eterno, com o Espírito Santo e com o Verbo.

A meu ver, isso se relaciona com a verdade da Co-Redenção de Maria, porque Nosso Senhor conquistou a graça para nós redimindo. Logo, por ser a Co-Redentora, Ela a terá conseguido para nós, em união com Ele, redimindo também.

Ao contrário da Anunciação e dos mistérios cheios de paz a ela ligados, na Co-Redenção entra a parte da dor. São Gabriel deve ter revelado à Santíssima Virgem um desponsório com a dor, e tudo quanto o Espírito Santo inspira aos homens a respeito, por meio, a propósito da dor, e de sua necessidade por causa dos pecados original e atuais.

Nisso o holocausto manifesta todo o seu poder fecundo, ao mesmo tempo sublime e misterioso. Da dor e da morte, que são tão terríveis, desprende-se um lírio. Assim, os mistérios da concepção de Jesus, tão jubilosos, apresentam um lado de seriedade, heroísmo, holocausto, castigo e dor, que constitui o pendant dentro da ordem do universo e das perfeições que Deus quis mostrar aos homens. Ele não é capaz de dor, mas as criaturas d’Ele são, e o Verbo Encarnado foi.

Para fazer brilhar este valor da dor em todo o seu fulgor, em reparação a Deus negado, pisado, posto de lado, era conveniente que Nosso Senhor sofresse tudo quanto sofreu. Mas Ele sabia que o gênero humano não aceitaria beber a taça toda da dor. Então, sua Santíssima Mãe a sorveu inteira por todos os homens. Ao fazer isso, a dor se tornou fecunda e geradora.

Creio que isso foi sendo revelado progressivamente a Maria, e atingiu um auge ao pé da Cruz quando, depois de tudo, ainda viu um soldado abrir o flanco do Filho d’Ela. Com aquele golpe que, como toda a Paixão, foi consentido pela Mãe Dolorosa, e com o qual só Ela sofreu, pois Ele já estava morto, a Igreja nasceu.

Portanto, também na dor Ela é medianeira, porque naquele “sim” Maria aceitou a dor, e sua tarefa ficou completa. Naquele “sim” nós nascemos para a graça.

Penso que tanto na Encarnação quanto junto à Cruz o Espírito Santo deu a Nossa Senhora o conhecimento de todos os homens que seriam criados e o desejo de Se oferecer por eles, em união com seu Divino Filho. No momento em que o Redentor disse “Consummatum est”, o gládio de dor acabou de transpassá-La.*

* Cf. Conferência de 10/8/1984.

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