A vida é uma batalha para cada homem, na qual todos, cedo ou tarde, deparam-se com circunstâncias onde um auxílio faz-se necessário… Assim foi também com Dr. Plinio! Em meio às dificuldades de sua jovem idade, tinha ele o socorro de sua bondosa mãe, que foi para ele um reflexo da proteção que podia sempre esperar de Nossa Senhora.
Minha união com Dona Lucilia não se devia exclusivamente ao fato de ela ser minha mãe, mas, sobretudo, por desde pequeno eu notar nela o paradigma, o ponto de confluência de todos os atributos que eu procurava encontrar em alguém.
Naturalmente, isso não se punha de modo tão explícito, mas era um movimento normal, como em qualquer criança que vai selecionando seus afetos, dando-se a uma pessoa mais do que a outras.
Eu compreendi que sendo mamãe tão afetuosa, bondosa e benevolente para comigo, incomparavelmente acima dela estava Nossa Senhora, a Mãe de misericórdia.
Diante da injustiça, argumentos lógicos
Desde pequeno eu filosofava… Nossa Senhora deu-me profundo senso lógico, pelo qual muito facilmente eu fazia correlação entre os raciocínios.
Ao ver que uma coisa não era boa, eu dizia: “Isso não está direito!”, e dava uma série de argumentos. Mas por outro lado, diante do menor obstáculo, eu desmoronava, por não ter as forças necessárias para vencê-lo.
Lembro-me, por exemplo, de um fato ocorrido quando eu tinha três anos de idade. Eu estava com minha mãe numa pensão em São Vicente, para fazer um tratamento, pois devido a um enorme retardamento no andar, os médicos recomendaram-me o banho de mar, dizendo que a luta contra as ondas far-me-ia vencer esse inconveniente.
O dono da pensão onde nos encontrávamos era um alemão que, evidentemente, gostava muito de cerveja, e com frequência até passava dos limites… Às vezes se embriagava literalmente e, nessas horas, mamãe ficava com certo medo, pois meu pai estava ausente. Mas ela se impunha muito e eu não me incomodava com o alemão.
Em certo dia de chuva, enquanto mamãe dormia após o almoço, ele tomou uma considerável dose de cerveja, e sem razão alguma me levou para fora, colocando-me sentado no meio do jardim.
Quando minha mãe acordou, vendo que eu não me encontrava por ali, começou a procurar-me, e depois de muito buscar sem resultado foi até o jardim e lá se deparou comigo sentado, tomando chuva. Ela me apanhou, levando-me para dentro de casa.
Este fatinho, embora comum, indica o primeiro passo na manifestação de um modo de ser e uma mentalidade.
Sentado debaixo da chuva, eu não entrava na casa e dardejava um argumento no meio do choro. Entretanto, não me queixava por estar na chuva nem pedia para falar com mamãe — o que seria natural! — mas analisava a retidão ou a não retidão daquilo que o bêbado fizera comigo e, como cheguei à conclusão de que aquilo não estava certo, queixava-me por ver um princípio violado.
Qualquer outra criança sairia logo da chuva e entraria para a casa, ao invés de ficar ali argumentando. E, caso lhe perguntassem por que entrou para casa, ela simplesmente responderia: “Porque está chovendo!”
Assim começa a batalha de minha vida…
Ao entrar para o Colégio São Luís, eu percebi que lá alguns meninos tinham uma formação muito diferente da minha, e pensei: “Logo começará o desentendimento… Para continuar a ser uma pessoa boa e conforme Nosso Senhor Jesus Cristo — como devo ser — preciso ser um homem que leva as coisas até suas últimas consequências.
“É necessário que eu esteja disposto a uma luta que se estenderá pela vida inteira, na qual eu preciso entrar com tudo quanto eu tenho; devo reformar-me, e ser o homem da lógica total no pensamento e na ação.
“Mais: não basta apenas ser assim; é preciso fazer que os outros percebam isso; para tal é necessário saber agradar, mas também saber meter medo pelo argumento, pela voz, pela presença.”
Assim começou a batalha de minha vida.
Se mamãe é tão bondosa e complacente para comigo, quanto não será Nossa Senhora?
No entanto, isso que é muito bonito dizer, não era tão fácil de fazer. Pois, chegada a hora de pôr isso em prática, ao par da compreensão da enormidade da luta que eu deveria travar, eu percebia minhas fraquezas diante dela… Veio-me, então, a graça de compreender a misericórdia e o amor materno de Nossa Senhora.
Eu compreendi que sendo mamãe tão afetuosa, bondosa e benevolente para comigo, incomparavelmente acima dela estava Nossa Senhora, a Mãe de misericórdia.
“Maria Santíssima tem para comigo parcialidades como o tem mamãe, Ela é no Céu uma Advogada como a que eu tenho na Terra. Mamãe me arranja tudo, tem para mim todas as soluções, me acompanha em todas as ocasiões; quanto mais não fará por mim Nossa Senhora?”
Assim, minha devoção a Nossa Senhora tomava uma força extraordinária.
(Extraído de conferência 22/10/1971)