domingo, noviembre 24, 2024

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III – O lance profético

Então escrevi e publiquei o livro Em Defesa da Ação Católica um pouco como kamikaze, indo de encontro ao colosso que eu divisava, certo de que tudo explodiria, mas ao menos muitas pessoas ficariam assustadas e o gelo que viria depois haveria de brecar o movimento da Ação Católica.

Persuasão, alertas, estudos…

Foi uma dificuldade imensa persuadir disso meus primeiros irmãos no Movimento Católico, porque este se afigurava a um manso lago azul. Já era difícil falar em conjuração anticristã fora dos meios católicos, quanto mais mostrar que isso existia nos ambientes sacrossantos, na cidade de Deus, a Igreja Católica, e que ali teria entrado uma coisa imunda como essa.

Arquivo Revista
Dr. Plinio com membros do grupo do Legionário, na sede da Rua Martim Francisco, em março de 1945

Para a redação do livro foi preciso ler os documentos pontifícios. Mandei vir a coleção da Bonne Presse, desde Leão XIII até Pio XI, inclusive.

Assim, ao mesmo tempo em que eu lia os documentos pontifícios a serem usados no livro, ia colhendo os fatos e falando com os mais íntimos para provar a eles que o problema existia. Dirigi-me a inúmeros. E apenas tiveram a glória de estar nas primeiras horas, ao meu lado, aqueles que vieram a ser o elemento inicial do grupo do Legionário. Os outros tinham medo, fugiam, se dispersavam. Somente esse punhado permaneceu fiel, mas com quantas explicáveis e dolorosas vacilações…

Na tranquilidade da praia de Santos

Quando fiquei com a doutrina toda na cabeça, resolvi passar um mês em Santos para redigir o livro. Eu não poderia redigi-lo em São Paulo, porque, embora o grupo do Legionário fosse pequeno, todos tinham necessidade de se apoiarem em mim porque era uma luta nova. Isso consumia um tempo enorme e, para escrever um livro, não podia ser assim.

Alguns apontamentos tomados por Dr. Plinio ao longo de seus estudos sobre os documentos pontifícios

Pensei, então, em ir a um lugar próximo, agradável – e agradável para mim é sinônimo de mar –, onde eu pudesse trabalhar com tranquilidade, mas dispusesse de ligações telefônicas muito fáceis com minha mãe em São Paulo. Eu tinha muito pouco dinheiro e, por isso, decidi ir a Santos, onde a viagem e os telefonemas são baratos, e hospedar-me num bom hotel que ficava perto do cais. Chamava-se Hotel Santos, que é uma velha tapera hoje, desabitada, apenas infestada, creio eu, pelos fantasmas noturnos da corrupção santista ou visitada pelos Anjos que presidiram a confecção do Em Defesa da Ação Católica.

Próximo ao hotel, havia um braço de mar onde se desenrolava uma cena muito pitoresca: o movimento das docas, os navios estrangeiros que chegavam ou partiam, um trem que percorria as docas de ponta a ponta levando os trabalhadores e as mercadorias descarregadas das embar cações, tudo isso me distraía. Santos era a principal praça de café do Brasil naquele tempo e aquele hotel era muito bom para os negociantes que chegavam à cidade. Não havia nada de mundano, mas possuía salões grandes, confortáveis onde eu podia sossegadamente trabalhar.

Marc Ferrez(CC3.0)
Vista panorâmica do porto de Santos

Submetendo a obra à análise de eclesiásticos

Terminada a redação, submeti o livro à revisão de quatro censores eclesiásticos: Mons. Mayer, Pe. Sigaud, Pe. Mariaux e Pe. Dainese, que não encontraram nada objetável do ponto de vista doutrinário.

A cópia enviada ao Pe. Dainese voltou do Rio de Janeiro tendo uma folha avulsa dentro com os seguintes dizeres manuscritos: “Livro admirável, de uma utilidade incomparável para a Igreja no momento atual…” E tecia outros elogios, mas sem se comprometer, pois não assinava nem dizia referir-se ao meu livro.

Mostrei ainda a dois beneditinos, meus amigos, D. Paulo Pedrosa, antigo pároco da Igreja de Santa Cecília, e D. Teodoro Kok1, e os convidei para jantarem em minha casa a fim de confabularmos sobre o que achavam do livro.

Arquivo Revista / ACMSP (PF-05-03-22)
Pe. Geraldo de Proença Sigaud, SVD, D. Paulo Pedrosa, OSB e D. Teodoro Kok, OSB

D. Teodoro disse-me que não via nada contra a Doutrina Católica, exceto um ponto no qual eu dizia que os Exercícios Espirituais constituíam o modo próprio de meditar para todos os fiéis. Segundo ele, isso era um exagero. Eu lhe disse que ele não havia reparado, pois a tinta da máquina de escrever estava meio apagada, mas aquela afirmação encontrava-se toda entre aspas, pois era uma citação de uma encíclica de Pio XI. Tendo visto as aspas, reconsiderou:

— Não está aqui quem falou.

Menciono a participação desses dois beneditinos na revisão do livro mostrando a cordialidade com que eu os tratava, para se compreender a gravidade das acusações feitas logo depois2.

Inspetoria Salesiana de São Paulo
Núncio Apostólico D. Benedetto Aloisi Masella. Ao lado: fac-símiles de seu prefácio ao livro Em Defesa da Ação Católica

Acontece que D. Pedrosa tinha uma orientação profundamente oposta à minha, mas era coisa virtual e implícita nele. Não revelava claramente. Os atritos entre ele e mim tinham sido muito numerosos durante todo o tempo em que ele era assistente eclesiástico da Associação de Jornalistas Católicos. É preciso dizer que eu o estimava sinceramente e o tratei com a maior consideração com que se possa tratar uma pessoa. Nunca realizei, como presidente da Ação Católica, um ato sem consul tá-lo, embora eu não tivesse a mínima obrigação, pois ele era assistente eclesiástico de um setor e eu presidente da Junta Arquidiocesana. Lembro-me de que, quando os mal-entendidos entre nós estavam muito grandes, com algumas intrigas pelo meio, combinei com ele e D. Teodoro que nunca um de nós tomaria atitude contra o outro sem antes avisar e consultar para ver se a divergência podia ser desfeita.

Obtenção do prefácio, conversas com um hábil jesuíta

Entretanto, eu me dava bem conta de que a publicação do livro seria um estouro do outro mundo e corresponderia à obra de um kamikaze. Eu destruiria o adversário, mas me destruiria também. Era, portanto, uma autoimolação.

Marquei um encontro com o Pe. Dainese e lhe disse:

— Pe. Dainese, não tenho a menor dúvida de que esse livro vá ser uma explosão e que com essa explosão eu me liquido. Estou disposto a essa liquidação se for em condições de representar uma bomba para o adversário. Porque, eu me liquidar em vão, não. Liquidar-me em proveito de nossa Causa, com toda a alegria. Esse livro só sairá se tiver um prefácio do Núncio Apostólico. Sem isso, o livro não sai.

— Oh, mas com um prefácio do Núncio Apostólico, onde é que se viu…

— É assim. Se não for, não sai.

Divulgação
D. José Gaspar no Palácio Episcopal

— Eu não sei, preciso falar com o Sr. Núncio.

Algum tempo depois, encontramo-nos no Rio, na linda casa de retiros que os jesuítas tinham na Gávea. Ele era homem inteligente, mas nervoso. Era preciso saber tratá-lo, conversar muito com ele, distraí-lo, diverti-lo; quando ele estava no ponto, entrava-se com a questão.

A certa altura da conversa, ele me disse:

— O Núncio prometeu o prefácio.

— Está perfeito, Pe. Dainese.

Fiquei mais uns dois ou três dias no Rio. Em outro encontro, na Gávea, estávamos andando, um ao lado do outro, quando ele ponderou:

— Sabe de uma coisa? Eu achava melhor não haver prefácio do Núncio. Porque com esse prefácio ninguém poderá escrever contra seu livro e seria muito melhor que saísse um estouro, e que todo mundo escrevesse contra.

— Pe. Dainese, a coisa é sim ou não. Ou sai com o prefácio do Núncio ou não sai nada. Essa história de dizer que sai um estouro… Vão começar por fazer uma campanha de silêncio seguida de difamação oral contra mim, dizendo que meu livro não vai ter saída. Enquanto que com um prefácio do Núncio o livro tem saída. Eu me incumbo disso.

— Bem, se o senhor quer, então chega o prefácio.

É preciso dizer que o Pe. Dainese era um dos jesuítas mais pitorescos que conheci, muito parecido fisicamente com Santo Inácio de Loyola. Sutil, baixinho, com aquela vivacidade e capacidade de estar por toda parte, de se meter por tudo, de observar tu do, e aquele brilho que muitas vezes as pessoas bem pequenas têm. Dava a impressão do jesuíta da escola clássica, do tempo de Santo Inácio, jeitoso, cavador. Afinal, conseguiu o prefácio.

Manifestações de amizade e os dois prefácios do Núncio Apostólico

Por ocasião do Congresso Eucarístico Nacional de 19423, o Núncio esteve em São Paulo e fomos fazer uma reportagem com ele. Em determinado momento, ele nos disse:

— Eu gosto muito do Legionário. Deem-me um número do jornal que eu quero ser fotografado lendo um exemplar.

Era um modo de fazer propaganda do Legionário e nos dar prestígio.

Depois me disse que estava disposto a conceder o prefácio para o meu livro, de acordo com o pedido do Pe. Dainese, e para isso precisava lê-lo. Levei uma cópia datilografada para ele. Era um dossiê grande, ele segurou e disse:

— Oh, mas quanta dedicação escrever tudo isso!

E levou o livro para ler.

Passado certo tempo, chega-me pelo correio um envelope da Nunciatura com o prefácio do Núncio acompanhado de uma carta do Pe. Dainese onde ele dizia: “O Sr. Núncio tomou conhecimento de seu livro e manda-lhe este prefácio…”

Um prefácio curtinho e pouco expressivo, de quem quer empurrar as castanhas para dentro do fogo, mas sem queimar os dedos.

Telefonei para o Rio de Janeiro:

— Pe. Dainese, recebi o prefácio do Núncio, mas o achei muito pouco significativo, e não me dá o apoio de que eu precisava.

— Mas foi o que eu consegui.

— Lamento, mas então o livro não vai sair. Porque, ou o livro contém um bom apoio do Núncio ou não há condições para publicá-lo, pois seria um sacrifício inútil.

— Então não sei o que fazer. Mande-me de volta o prefácio.

Eu mandei e dali a uns tantos dias chegou-me um novo prefácio contendo o mínimo, mas todo o indispensável para ser um apoio.

Acrescentei o prefácio ao dossiê e pensei: “Agora é o momento de falar ao Arcebispo. Não posso publicar esse livro como presidente da Ação Católica sem consultá-lo.”

Licença para o “imprimatur”, encontro com D. José Gaspar

Pedi imediatamente uma audiência a D. José Gaspar e comuniquei-lhe meu desejo de ter o imprimatur dele para meu livro, uma vez que já possuía o prefácio do Núncio Apostólico.

Ele perguntou quando e por que eu o tinha escrito. Respondi:

— Fiquei tão preocupado com o destino de nossa querida Ação Católica, desde o momento em que foi preciso pôr fora aquelas diretorias eivadas de erro, que resolvi escrever este livro aproveitando as horas livres. De modo que representa um trabalho árduo. Eu cito centenas de documentos pontifícios. Quando expus a ideia ao Sr. Núncio, ele se interessou e deu o prefácio que eu pedi. Aqui está o prefácio.

Evidentemente, dei-lhe uma cópia, tendo muito bem guardado o original.

— Mas então o senhor escreveu este livro! Muito bem!

— Sim, e peço a V. Ex.ª licença para publicar o livro enquanto Presidente da Junta Arquidiocesana da Ação Católica.

Ele, muito amável, disse:

— Está bem.

Ficou tudo combinado e eu saí.

Arquivo Revista
Pe. Mayer ao lado de Dr. Plinio e mais alguns membros do Legionário

O Côn. Sílvio, mordomo do Palácio Arquiepiscopal, contou-me que na noite em que meu livro deu entrada no Palácio, o Arcebispo passou-a em claro e o Cônego notou que D. José andou muito. De manhã, encontrou o dossiê de meu livro aberto.

Um livro “mal escrito”… intervenção da Nunciatura

No dia seguinte, D. José me chamou e tivemos um outro encontro.

Recebeu-me mais amável do que nunca, dizendo ter lido o livro com o enorme interesse que consagrava à Ação Católica, e ficava bem provada minha grande dedicação por ter expendido, em meio a todas as minhas ocupações, tanto esforço para escrevê-lo. Mas a amizade por ele devotada a mim o levava a dizer que estava muito mal redigido. Além de confuso, pois não se entendia bem o que queria dizer, tinha um português muito ruim. E o pior era que o livro padecia de excesso de ideias. Por isso, ele achava não ser possível publicá-lo naquelas condições. E continuou:

— Eu arranjei um doutor – não me disse o nome – que vai passar o livro por uma reforma completa: suprimir muitas ideias, pôr aquilo num estilo claro, aproveitando o essencial. Então, o senhor e eu juntos, com as correções desse professor de português, vamos remanipulando, fazendo um livro que esteja verdadeiramente bem, e o senhor poderá publicar em seu nome.

Ora, é a maior injúria que se pode fazer ao autor de um livro. Mas tudo dito muito amavelmente.

Logo a mim, professor universitário com mais de trinta anos de idade, que tinha sido deputado, alguém dizer que meu livro estava confuso e inapresentável do ponto de vista do português, era uma coisa muito singular. Eu era considerado um dos professores mais claros da Faculdade de Direito. Meus artigos eram claríssimos. Algum tempo antes, o próprio D. José Gaspar, comentando com o Pe. Mayer um artigo meu do Legionário, havia dito: “Quando a gente lê os artigos do Plinio, desanima de escrever. Porque é tanta clareza, que depois tem-se medo de escrever uma coisa que fique confusa.”

Por que logo aquele livro haveria de estar obscuro?

Eu disse:

— O que V. Ex.ª me diz me enche de surpresa, pois sou professor universitário há anos, escrevo correntemente, por exemplo, no Legionário, e me faço entender por todo o mundo. De modo que eu não compreendo, mas a opinião de V. Ex.ª é muito abalizada. Eu não a contradigo, apenas fico tomado de uma apreensão: esse processo que V. Ex.ª me propõe, quanto tempo tomará?

— Vamos fazer uma coisa: eu vou lendo aos pouquinhos e pondo umas notas. Está bem?

Tal era a ação de presença dele que eu me retirei da sala contente, sem perceber a cilada em que caíra. Saí pela Rua São Luís em direção à da Consolação e quando cheguei ao fim da grade do Palácio, parece que a ação de presença se desfez. Então pensei: “Meu Deus! Estou liquidado. Este negócio nunca mais sai.”

Telefonei ao Pe. Dainese explicando-lhe as razões pelas quais o livro tinha encalhado. Mas, tomado de perplexidade diante da situação, escrevi-lhe uma carta contando pormenorizadamente o que estava acontecendo e pedindo a ele que falasse com o Núncio.

Dias depois, chegava ao Palácio São Luís uma carta da Nunciatura mandando o Arcebispo entregar o livro à imprensa para ser publicado como estava.

D. José Gaspar chamou Mons. Mayer e disse:

— Mayer, eu estive vendo aqui este livro. Vamos mandar publicá-lo. Você leu o livro?

— Sim, Sr. Arcebispo.

— Bem, se você leu, então dê o imprimatur.

— Pois não.

ACMSP (AF-01-01-14)
Dr. Plinio durante o Congresso Eucarístico Diocesano em Taubaté, em maio de 1942

Mons. Mayer redigiu o imprimatur: “De mandato Ecmi. ac Revmi. DD. Archiepiscopi Metropolitani4 Mons. Antônio de Castro Mayer, Vigário Geral.” Entregou-me e mandei o livro para a tipografia do Coração de Maria para ser impresso. Dentro de algumas semanas me eram entregues os primeiros exemplares.

Distribuição dos primeiros exemplares

O diretor da Editora, um padre espanhol chamado Anastácio Vasquez5, amigo nosso, contou que ele próprio sofreu várias ameaças da parte do pessoal da Ação Católica para não publicar o livro.

Era uma edição de dois mil exemplares, que custou 5 contos. Naquele tempo era muito dinheiro e, sobretudo, o único depositado em banco que eu possuía. O doloroso era que, sendo eu responsável pela subsistência de meus pais, se houvesse alguma doença, eu não tinha dinheiro para resolver a situação. Mas confiei em Nossa Senhora e paguei o livro.

Tão logo recebi os primeiros exemplares, tomei o cuidado de não os distribuir nas livrarias, mas guardei-os trancados em nossa sede. Eu via que o nosso adversário estava muito firmemente colocado em seus postos de comando e que, portanto, haveria de desenvolver uma reação no sentido de abafar tudo.

Eu tinha mandado tirar uns cem ou duzentos exemplares com capa dura, um papel melhor para oferecer às pessoas mais seletas, mais distintas. E ofereci ao Núncio Apostólico, a D. José Gaspar, ao Tristão de Ataíde e aos sacerdotes que obtiveram o prefácio.

Em seguida, tomei a iniciativa de distribuir o livro, primeiro a todos os bispos que supunha simpatizarem conosco, ou por terem manifestado essa simpatia ou por possuírem uma orientação parecida com a nossa.

Primeiras vitórias, cartas de aprovação

O Brasil é muito vasto e naquele tempo essa vastidão se fazia sentir ainda muito mais pela escassez de meios de comunicação. Por isso, era difícil que bispos residentes em regiões mais longínquas tivessem conhecimento do que se passava em São Paulo nesse caso da Ação Católica. Recebiam um livro com uma dedicatória muito amável, prefaciado pelo Núncio Apostólico, imprimatur da Cúria Metropolitana de São Paulo, de autoria do Presidente da Ação Católica e me mandavam lindas cartas de aprovação.

Assim, eu não disse uma palavra sobre o livro até receber uma boa quantidade de respostas, porque ainda não havia campanha difamatória contra ele. Este se espalhava e os bispos enviavam cartas a favor.

Eu comecei a receber pilhas de cartas dos bispos me felicitando pela publicação. Quando julguei ter recebido todas as respostas que haveriam de chegar, soltei o livro pelas livrarias, onde ele teve uma saída frenética.

O burburinho foi medonho e, quando ele começou a ferver, o Legionário passou a publicar as cartas de aprovação. O adversário constatou que, ao entrar na luta, já estava com as mãos amarradas.

Com a publicação das cartas de elogio, foi uma onda. Todo mundo se atirou em cima do livro. Até então eram só vitórias.

Ousado lance cujo efeito repercutiu em todo o Brasil

Não tardei a sentir a contraofensiva do adversário. Um dos primeiros indícios foram as reações de desacordo daqueles a quem eu mandei o livro e não me responderam. Descortesia, claro. Desaprovação, sem dúvida. Vontade de não se comprometer, é evidente. Atitudes de medo da parte de pessoas que, apesar de simpatizarem com o livro, não tinham coragem de descer até a arena para lutar comigo.

Cartas de elogio enviadas por bispos do Brasil parabenizando Dr. Plinio pelo livro Em Defesa da Ação Católica

De outro lado, de algumas livrarias católicas começaram a telefonar dizendo que não queriam continuar a vender o livro. Evidentemente, era ordem dada para não venderem.

Não obstante, o livro continuava a fazer seu caminho. Era exatamente o que eu queria e, portanto, no total me parecia que o lance avançava bem. Mas eu não deixava de fazer reflexões que iam muito além…

Arrebentar uma coisa dessas na arquidiocese de São Paulo que, ao lado da do Rio de Janeiro, era a mais importante do Brasil, significava um fato gravíssimo dentro dos meios católicos.

Ora, passando-se em São Paulo, interessava ao Brasil inteiro; logo, era natural que por todo o país se fizesse pressão, insistência e se manifestasse o desejo de que o caso fosse elucidado. O que não fosse isso revelava entre os bons uma moleza, uma falta de vontade de lutar – para dizer tudo em uma palavra só –, uma indiferença em relação ao destino da Igreja que me apavorava.

E eu pensava com os meus botões: “Por onde anda a Igreja no Brasil? Onde está a dedicação? Onde o entusiasmo? Onde o desejo de defendê-la? Eu não percebo.”

Mais ainda: se eu tinha razão, não era uma atitude facultativa minha ter tomado a posição que tomei. Se eu notava que todos aqueles que deveriam velar pela Igreja naquele impasse não estavam velando, era minha obrigação fazê-lo. Por isso, desci à liça.

(Continua no próximo número)

1) Nome adotado na Ordem Beneditina por Svend Kok, antigo companheiro de Dr. Plinio na Congregação Mariana de Santa Cecília.

2) Sobre isso, ver narração no próximo número.

3) IV Congresso Eucarístico Nacional, realizado de 3 a 7 de setembro.

4) Do latim: “Por mandato do Excelentíssimo e Reverendíssimo Senhor Arcebispo Metropolitano.”

5) Pe. Anastácio Vasquez Alonso (*1895 – †1958).

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