jueves, noviembre 21, 2024

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Incondicional desejo de fazer o bem

Dona Lucilia possuía um afeto penetrante, envolvente, constante, com modos de afabilidade sumamente curativos para cada circunstância. Eis um motivo intenso para se ter uma confiança especial nela e em seu poder impetratório junto de Deus.

Compreende-se que uma alma reta, virtuosa, tendo ido para o Céu, pedindo a Deus, receba da bondade d’Ele tesouros enormes para distribuir aos outros, proporcionados à vontade que teve na Terra de fazer o bem.

Poder impetratório de fazer o bem

A vontade de Dona Lucilia de fazer o bem era enorme, torrencial! Eu não sei a quem ela não o tenha feito, dando um bom conselho, uma diretriz, uma orientação, um afago, uma esmola, ajeitando uma situação. Daí deduzo que no Céu ela deve pedir isso ardentíssimamente e deve ter um poder impetratório muito grande nesse sentido. Não quero com isto fazer comparação dela com outras almas que estão no Céu.

É um pouquinho como se eu considerasse o Bem-Aventurado Urbano II, que teve o desejo ardente de fazer a Cruzada. No Céu, o poder impetratório dele para todos que conduzem lutas do tipo das Cruzadas é especial. O que ele quis na Terra, no Céu lhe é dado em abundância.

Mamãe quis fazer o bem com muita amplitude e com uma espécie de incondicionalidade: a pessoa podia estar animada em relação a ela ou com as intenções mais pífias, mais frias, mais indiferentes, mais ingratas. O desejo dela de fazer o bem era o mesmo.

De outro lado, uma compaixão! Ela sentia em si a dor dos que estavam sofrendo e, fosse qual fosse a circunstância, ela tinha jeito para dizer uma palavra, para introduzir um afeto, de um modo tão extraordinário que tudo isso eu considero, a justo título, lhe seja dado realizar ago ra. Isso é um motivo intenso para nós termos uma confiança especial nela, pelo seu vínculo conosco.

Afeto envolvente e penetrante

Qual é o ponto mais sensível para mim do benefício que ela pode nos fazer e que eu acredito que ela faz, indiscutivelmente, se pedirmos?

Dela eu recebi, como filho, toda espécie de benefícios. Ao menos os que a limitação dos recursos dela permitia fazer, ela levava até o extremo. Ela era muito prudente: fazer dívida, nunca; estar com conta atrasada, nunca; mas, com o pouco que ela possuía, sabia fazer aquilo render para que nos comprouvesse – a minha irmã e a mim – ao último ponto.

Danilo I.
Papa Urbano II convocando a Cruzada – Basílica de Nossa Senhora de Luján, Buenos Aires

Eu me lembro, por exemplo, que, não tendo dinheiro para comprar certos brinquedos para nós e apesar de doente do fígado, ela às vezes passava até meia-noite – horário muito tardio para aquele tempo – ou até uma ou duas horas da madrugada, cortando umas figurinhas de dançarinas, de boizinhos, de bichos, coisas assim, em papel crepom, de acordo com modelos, e depois ela mesma os pintava fazendo, com uma espécie de pó de mica, uma cintura prateada, uma coroa dourada, e depois dava para nós brincarmos.

Ela ficava até tarde fazendo isso sozinha, todo mundo dormindo. Nessa hora ela não estava rezando, mas trabalhando pelos filhos, com compreensão e elaboração de brinquedos que levavam a fazer bem à alma, extraordinárias!

Isso tudo ia num ponto: é que eu sentia nela um afeto envolvente, penetrante, não no sentido de um dardo, mas de um perfume, de um aroma; penetrante e estável, que nunca tinha a menor diminuição de afeto, conforme o dia ou a hora, conforme as circunstâncias ou as condições do fígado. Era sempre o mesmo “meio-dia”, nunca havia alteração. E amparando-me em todas as condições. Fizesse eu a ela o que fizesse, eu podia contar com ela até o fim.

Reflexo da infinita bondade de Deus

Não é fácil imaginar até que ponto isso estabiliza, faz bem à alma, areja, – para usar um verbo que não existe – “desintumora”, ou seja, cura o tumor de uma certa solidão da alma de quem nunca encontrou uma coisa assim e para a qual a vida acaba sendo uma coisa anti-axiológica.

Agradava-me muito ver como isso não ficava nela. Ela dava muito valor a que a quiséssemos bem, mas se não a quiséssemos, a atitude dela era a mesma, de um lado. De outro lado, ficar com rancor, com um ponto dolorido, absolutamente não. A confiança que se podia ter nela era como um eixo do mundo.

Todos sabem quanto é raro encontrar isso. Desde a primeira infância, sendo carregado nos braços, com penetração de criança, perceber isso é um benefício que não tem palavras. Creio que, se lhe pedirmos, ela nos faz sentir isso com toda a seriedade, toda a solidez.

Eu percebia que a fonte disso não estava nela, mas no Sagrado Coração de Jesus, por meio de Nossa Senhora. Portanto, a fonte estava no Absoluto, em Deus mesmo. E era como que apalpar a própria bondade infinita de Deus. Isso era muito benfazejo.

Arquivo Revista
Dr. Plinio em 1987

Creio que, no ponto de partida de grande número de defeitos e de crises espirituais, coisas que uma pes soa possa ter, no fundo há essa sensação de isolamento parcial ou total. A verdade é que, quando um estilhaço está quebrado, o conjunto não vale nada. Isso ou é completo ou não é nada.

Isso foi o que me levou a colocá-la, desde pequeno, acima de todas as pessoas, abaixo de Deus, nos devidos termos abaixo da Igreja, das pessoas que constituem a direção da Igreja que, evidentemente, eu colocava no mais alto ponto de minha admiração e confiança. Ela mesma me fazia ver assim, porque ela soprava para lá, não se punha como termo final.

Relações baseadas no Sagrado Coração de Jesus

Creio ser uma experiência para se fazer, pois toda a alma se abre com uma outra concepção para a vida e para uma outra ideia do que poderia ser o Reino de Maria. Porque no Reino de Maria as verdadeiras relações de afeto serão baseadas no Sagrado Coração de Jesus, no Sapiencial Coração de Maria. São relações muito mais próximas disso do que podemos imaginar e que se fazem sentir de um modo ou de outro em todas as articulações da vida, fazendo-nos entender como existirão no Reino de Maria certas situações que, fora desse clima, imaginaríamos incompreensíveis.

Enfim, para todo esse gênero de coisas ela teria atendimento, teria compreensões, teria explicações, com modos de afabilidade sumamente curativos para cada circunstância.

Outro ponto: ela não gostava que se caçoasse das pessoas – crianças são levadas a caçoar. A tendência dela era de intervir com compaixão e dizer: “Coitado! Veja, tem isto, tem aquilo.” Ela sabia mostrar um lado por onde se compreendia que não se devia caçoar daquela pessoa.

Flávio Lourenço

Por natureza, Rosée, eu e a nossa prima, tínhamos línguas afiadíssimas e os comentários fazíamos na presença dela. Ela ia ouvindo e conversando, como uma mãe faz com seus filhos. Quando chegava uma caçoada mais pontuda – e eu era dos líderes da ponta – dizia:

— Filhão, não é assim, você também pense tal coisa.

— Mas, mamãe, porque tem isso e aquilo…

— Mas veja tal coisa…

Outro aspecto era a melodia da voz dela… Não era própria para cantar num teatro, mas era cheia de afabilidade, por assim dizer, retórica, de uma conversa individual. Uma coisa extraordinária!

Tudo isto deve nos propiciar confiança no sermos atendidos. Também outro ponto: se assim era ela, como será Nossa Senhora? Se nós tivéssemos conhecido Nossa Senhora…! Aí a “Salve Regina”, o “Lembrai-Vos” e tantas outras orações tomam todo seu valor, todo seu sabor, toda sua força de confiança!

(Extraído de conferência de 25/4/1987)

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