jueves, noviembre 21, 2024

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Fátima: divisor de águas

O elemento essencial das mensagens de Nossa Senhora em Fátima consiste em abrir os olhos dos homens para a gravidade da crise universal de nossos dias, em lhes ensinar sua explicação à luz dos planos da Providência Divina e em indicar os meios necessários para evitar a catástrofe. É a própria história de nossa época e, mais do que isto, o seu futuro, que nos são ensinados pela Santíssima Virgem.

Não há uma só aparição em que não se insista sobre este fato: os pecados da humanidade se tornaram de um peso insuportável na balança da justiça divina. Eis a causa recôndita de todas as misérias e desordens contemporâneas. Os castigos mais terríveis ameaçam a humanidade e, para que não sobrevenham, é preciso que os homens se convertam. O pensamento constante de todas as mensagens é este: o mundo está a braços com uma terrível crise religiosa e moral; os pecados cometidos são incontáveis e constituem a verdadeira causa da desolação universal. O modo mais acertado para remediar seus efeitos consiste na oração e na reparação.

Nossa Senhora desceu à Terra a fim de atrair para esse imenso panorama o zelo das almas. Ela quer piedade, quer reparação, mas baseia seu desejo numa visão imensa dos grandes interesses de Deus em toda a vastidão da Terra.

Diante desse panorama, o mundo de hoje vai se dividindo cada vez mais em duas famílias de almas. Uma considera que a humanidade é presa de um feixe de erros e de iniquidades que começaram na esfera religiosa e cultural com o Humanismo, a Renascença e a pseudo-Reforma protestante, agravaram-se com o iluminismo e o racionalismo, e culminaram na esfera política com a Revolução Francesa. Do terreno político passaram para o campo social e econômico, no século XIX, com o socialismo utópico e com o socialismo dito científico.

Ao mesmo tempo, sobretudo a partir da Grande Guerra, a moralidade se pôs a declinar com rapidez espantosa no Ocidente, preparando-o para a capitulação ante o comunismo.

Para as incontáveis almas que compartem esse modo de pensar, a mensagem de Fátima é tudo quanto há de mais coerente com a doutrina católica e com a realidade dos fatos.

Há outra família de almas para a qual os problemas do mundo contemporâneo pouca ou nenhuma relação têm com a impiedade e a imoralidade. Nascem eles exclusivamente de equívocos involuntários que uma boa difusão doutrinária e um conhecimento objetivo da realidade podem dissipar. Esses equívocos resultam, aliás, de carências econômicas. Filhos da fome, morrerão quando no mundo não houver mais fome. Com o auxílio da ciência e da técnica, a crise da humanidade se resolverá. Ademais, não havendo o fator culpa como nota tônica das catástrofes e dos perigos em meio aos quais nos debatemos, a noção de um castigo universal se torna incompreensível.

Entre uma e outra família de almas há muitas gamas. Na medida em que qualquer das correntes intermediárias se aproxima de um dos polos, para ela vai se tornando compreensível ou incompreensível a mensagem de Fátima. Esta se encontra, pois, neste sentido, como um verdadeiro divisor de águas das mentalidades contemporâneas.

Dar-se-ão todos os acontecimentos previstos em Fátima? É a pergunta que a humanidade contemporânea faz. Em princípio, não há como duvidar, pois o fato de uma parte das profecias já se haver realizado com impressionante precisão prova o caráter sobrenatural delas. Provado tal caráter, não há como pôr em dúvida que a mensagem celeste se cumprirá até o fim.

Desde que não se operou no orbe a imensa transformação espiritual pedida na Cova da Iria, vamos cada vez mais caminhando para o abismo. E, à medida que caminhamos, aquela transformação se vai tornando sempre mais improvável.

O que importa é, pois, rezar, sofrer e agir para que a humanidade se converta. E isto com redobrado empenho, porque senão o castigo está às portas.

Para obviar o castigo, obter a conversão dos homens e caminhar no meio das hecatombes que tão gravemente nos ameaçam, o que podemos fazer? Nossa Senhora no-lo indica: o afervoramento na devoção a Ela – para o que Se revestiu dos atributos próprios às invocações de Rainha do Rosário, Mãe Dolorosa e Nossa Senhora do Carmo –, a oração e a penitência. Outrossim, insistiu a Virgem de Fátima de modo muitíssimo especial sobre a devoção ao seu Imaculado Coração.

Que nosso espírito se detenha na consideração das perspectivas últimas da mensagem de Fátima. Para além da tristeza e das punições supremamente prováveis para as quais caminhamos, temos diante de nós os clarões sacrais da aurora do Reino de Maria: “Por fim o meu Imaculado Coração triunfará.”*

* Cf. Catolicismo n. 29 e 197, maio de 1953 e de 1967.

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