jueves, noviembre 21, 2024

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VI – Diante das incertezas, confiança posta em Nossa Senhora das Vitórias

No desenrolar da Constituinte, Dr. Plinio sentiu o pesado fardo da vida: de um lado, mal-estar físico; de outro, grande preocupação com o comprometimento de seu apostolado e de sua atuação como líder católico. O cerco e a conspiração não pouparam o jovem deputado.

Em pouco tempo, fui ameaçado de agressão física se eu continuasse a lutar pela Religião Católica Apostólica Romana, pela Civilização Cristã, pelo Reino de Maria; não liguei, e a agressão não veio.

Recebi ameaças de ultraje, de difamação, de calúnia, de ser posto de lado e jogado ao chão do panorama de onde eu estava tão alto, que a nação inteira olhava para mim. E aos poucos fui notando que o vazio ao meu redor aumentava cada vez mais.

Incógnita com relação à LEC

À medida que iam sendo votadas as emendas da Constituição, a Assembleia Constituinte ia chegando ao seu fim. Fora aprovado um artigo segundo o qual, seis meses depois de votada a Constituição, ela se dissolveria. Começaram então uma série de trabalhos e manobras em torno de mim, e o problema foi ficando cada vez mais agudo debaixo de dois pontos de vista.

Primeiro, do ponto de vista da Causa Católica. Eu notava um silêncio a respeito do que seria da Liga Eleitoral Católica. Seriam eleitos outros deputados católicos ou se fecharia a Liga, voltando tudo ao que era antes?

Segundo: qual seria o meu futuro? Se houvesse eleição para deputados católicos, meu nome estaria incluído nessa lista? Quais seriam as possibilidades para me candidatar como deputado?

Se eu não estivesse incluído, seria para mim uma diminuição de prestígio muito grande, o que significaria a miséria e, com esta, a perda do prestígio entre os congregados marianos. De maneira que ficava comprometido todo o impulso que eu vinha dando ao Movimento Católico no sentido de torná-lo contrarrevolucionário e de eu realizar os ideais que tinha a favor da Igreja. Eram meu apostolado e a possibilidade de eu sobreviver que ficavam comprometidos.

Ninguém me dizia uma palavra. Eu ia almoçar com D. Leme, silêncio. Conversava com Mons. Gastão Pinto, silêncio. Visitava D. Duarte, silêncio. Com o Tristão de Ataíde, silêncio completo também. Não ficava bem eu perguntar algo sobre o assunto, porque daria a impressão de um tipo oportunista, louco atrás de cargos. Eu ficava sem saber como me mover.

Situação econômica precária

A questão financeira se tornava para mim particularmente aguda por uma razão: minha avó materna possuía um bom patrimônio do qual minha mãe herdaria uma parte, o que a deixaria muito amparada contra qualquer preocupação material. Entretanto, parentes meus fizeram maus negócios com este patrimônio, e minha avó perdeu a fortuna; ela faleceu durante o meu mandato. Assim, tudo dependia de eu conseguir um emprego e fazer-me reeleger deputado. Se eu não tivesse as duas coisas, ficaríamos reduzidos à miséria. Ora, o vazio feito em torno de mim me provava que eu não conseguiria cargo nenhum.

Durante o meu período como deputado, tinha conseguido do Governador Armando de Salles Oliveira duas cátedras como professor de História da Civilização, num curso preparatório no Colégio Universitário da Faculdade de Direito de São Paulo. Era um cargo muito bom, honroso, microrrendoso naquele tempo, que me deveria ser concedido porque eu era deputado católico, conhecido como tendo cultura.

Divulgação (CC3.0)
Acima, Governador Armando de Salles Oliveira. À esquerda, prédio da Faculdade de Direito de São Paulo

Divulgação (CC3.0)

Com isto eu conseguia um pouco de dinheiro para não morrer de fome. Ora, eu tinha em mãos apenas um decreto me nomeando; não sabia se, de fato, me entregariam o cargo. Acontecendo qualquer imprevisto, eu estava na penúria. E, portanto, para mim era: ou ficar deputado ou cair num risco de miséria próxima.

Eu sempre numa luta medonha para sobrenadar.

Ao mesmo tempo em que isso se dava, eu começava a perceber na Assembleia Constituinte manejos para reduzir nosso mandato de deputado de quatro anos, como era normal, para um só. Portanto, aquele espaço cômodo em que eu teria um ordenado bom, garantido, para procurar um emprego ou então subir a um posto mais alto na política, isso, de repente se cortava! Eu comecei a ter preocupações, porque não via saída para essa situação. Por outro lado, percebia ser uma coincidência permitida e querida pela Providência.

Meticulosa e árdua batalha para manter o desapego

Deus exigia de mim um desapego duríssimo. Não era a situação de um homem que tem o chão firme debaixo dos pés e desiste de uma coisa melhor. Era aceitar, se fosse preciso, a vergonha de deixar de ser deputado e rumar para um fracasso, para uma catástrofe, passar ao grau zero. Eu percebia bem a dificuldade da minha situação.

Porque para eu ser advogado, advogaria de acordo com a Doutrina Católica e teria muito poucos clientes. Ora, não sendo advogado, o que eu seria? Uma situação dificílima.

Pois bem, eu sustentava ainda uma batalha interior que não era tanto contra um rugido da vaidade, mas era uma luta meticulosa, de todos os momentos, contra uma pluralidade de formas de vaidade que tentavam pegar-me a todo instante. Um pouco que cedesse, entraria em minha alma o apego, e dificilmente eu teria forças necessárias para enfrentar a hipótese de uma miséria.

Ora, eu percebia que, a qualquer momento, poderia acontecer alguma crise política, uma revolução, por onde, de repente, meu mandato cessasse. Poderia receber um ultimato: “Ou você se vende ao adversário, ou nas próximas eleições não será reeleito.”

A pergunta aguda era esta: “Você terá ou não coragem de aceitar tudo e não ficar um homem que abandone a Causa Católica para ser um mero político?” Era a alternativa.

Eu deveria tomar uma firme resolução. Aliás, o grosso de minha preparação para deputado foi esta batalha para conservar o desapego interior, o qual começou a ser posto à prova logo que eu cheguei ao Rio de Janeiro.

Pavorosa e inexplicável nevralgia

Um pormenor prosaico e concreto veio amargurar-me ainda mais nesse período de dissabores e preocupações, de cercos de toda ordem.

Flávio Lourenço
Jó escarnecido por sua família – Museu Federic Marés, Barcelona

Como eu era pessoa muito saudável, tinha um sono regular; era só deitar-me que dormia, e com abundância, a noite inteira e pela manhã adentro, o quanto eu quisesse. Isso me ajudava a repousar e a carregar o fardo da vida.

Ora, começou-me a atacar uma série de nevralgias horríveis, durante a noite, do lado direito do rosto; começava pelos dentes e se tornava aguda quando se fixava à maneira de um prego metido dentro do osso da articulação. Eu acordava, sentava-me na cama, punha dois travesseiros para aguentarem o peso de minha cabeça, e ficava horas debruçado sobre eles, ou andando de um lado para outro, sem conseguir dormir.

Fui ao dentista, não era nada. Fui a médicos, suspeitas: “Câncer no cérebro.” Não era brincadeira essa perspectiva. Recomendaram-me que tirasse radiografias do crânio. Graças a Deus, estava tudo perfeito, não tinha nada. Ninguém sabia o que era, mas eu sabia que doía barbaramente.

Não havia analgésicos bons como hoje; eu tomava uma homeopatia, cujo formato era de uma bola vermelha, chamada Paullinia sorbilis, a qual não me fazia efeito algum.

O tempo passava, até que o Sol esfuziante do Rio de Janeiro começava a entrar pelas frestas da veneziana; a rua se movia, o dia para todo mundo nascia e eu ali, naquela dor, e ao mesmo tempo, naquela preocupação. Os problemas eram um cravo no espírito; aquela dor, um cravo na carne.

No final adormecia um pouco, tinha umas duas horas para dormir e sair correndo para o encontro com os deputados, no qual se preparava a reunião da tarde. Eu não dormia quase nada.

Era tudo que caía por cima de mim. Uma indisposição física violenta, sobre os incômodos morais gravíssimos como eram aqueles nos quais eu me encontrava e que me tornavam a vida difícil, uma coisa tremenda!

Dissolução da Liga Eleitoral Católica

Ora, o cerco se definiu ainda mais.

Um dia eu estava no meu hotel no Rio de Janeiro, era um domingo e não me lembro por que não tinha ido a São Paulo. Tocou o telefone interno e disseram-me que o Sr. Wagner Dutra, secretário do Alceu, estava ali e queria falar comigo.

Eu desci, entramos numa das saletas do hotel, começamos a conversar. Pensei que ele fosse transmitir algum recado do Tristão, mas a conversa foi se espichando, num regime de certa liberdade, entre vários assuntos.

Eu percebi que ele queria que eu tratasse a respeito de algo, mas eu não tinha o que tratar com ele; não tinha confiança nele. Em certo momento, ele me olhou bem de frente, dentro dos olhos, e me disse:

Divulgação (CC3.0)
Igreja de Santo Inácio

— Plinio – ele era um homem mais ou menos de minha idade – qual vai ser seu futuro?

— O futuro de qualquer filho de Deus. Eu pretendo viver.

— Você não tem planos? O que você pretende fazer de sua vida, depois que deixar de ser deputado?

Ora, isso é uma conversa que se faz entre amigos. Mas entre pessoas que se conhecem por alto, perguntar quais são os planos econômicos de futuro, logo de uma vez, era uma pergunta muito esquisita, que não se fazia. Eu dei uma resposta evasiva, dando a impressão de um homem despreocupado do ponto de vista econômico. O que não era verdade, eu estava preocupadíssimo. Ele me disse:

— Você sabe que a LEC não vai se reconstituir?

Era o primeiro ruído que me chegava aos ouvidos. Eu disse:

— Ah, sim?

— Para as próximas eleições acabou-se a Liga Eleitoral Católica. O Episcopado está satisfeito com o serviço que ela prestou; isso já ficou para o passado. Agora o regime é dos partidos políticos, a Igreja não tem mais nada a querer da política. Quem quiser ser deputado deve se incorporar a um partido político, não há outra saída.

Quando saiu esta resposta, vi que ele tinha tratado do ponto que o levara lá. Por iniciativa própria? Por ordem de terceiro? Eu nunca o soube.

Fingi a maior indiferença. Ele levantou-se, dali a pouco, despediu-se:

— Bom, vou deixá-lo em paz. Até logo!

Fui amável, acompanhei-o até a porta do hotel, nos despedimos e nunca mais conversamos sobre isso.

E assim começava a se avolumar em torno de mim o zum-zum de que não haveria candidatos da LEC nas próximas eleições, pois ela não mais atuaria. Eu percebi logo que era a degola, porque de duas, uma: ou eu deixava de ser um líder católico para ser um líder político – o que nas circunstâncias específicas daquele tempo equivaleria a perder a confiança dos verdadeiros católicos – ou tinha que cair fora da política.

E assim as circunstâncias se deram, um pouco à Jó. Prejuízos financeiros, perda de cargos, fiquei ameaçado por um fio de ficar sem ter com o que viver. Continuei para a frente sem, em nenhum momento, arrepender-me ou achar a vida triste, vazia. Por quê? Porque eu tinha diante dos olhos o meu futuro: o Reino de Maria e depois o Céu!

Nossa Senhora das Vitórias

Eu ia com frequência rezar à noite na Igreja de Santo Inácio, que ficava aberta por uma entrada que dava para o Colégio. Havia, num altar lateral, se não me engano do lado direito, uma bonita imagem de Nossa Senhora das Vitórias. Eu recebi muitas graças ali, voltando-me para aquela imagem; rezava muito diante dela.

Eu estava num período muito atormentado, vendo a minha liquidação. Coisas cheirando a recado e conspiração em torno de mim. Depois de uma avenida aberta, eu estava vendo um funil, e eu me atormentava muito com isso. No entanto, acendiam-se minhas esperanças, ficava alentado rezando a Nossa Senhora das Vitórias.

Nesta encruzilhada, o que pedir e como confiar?

Toda a minha situação começou a degringolar e não dependia da minha vontade. Eram coisas que outros faziam às minhas costas, sem meu conhecimento, e que ocasionavam prejuízos, conspirações contra mim. Eu tinha certeza de que Nossa Senhora queria que as minhas obras fossem bem-sucedidas. No entanto, por mais que aplicasse força de vontade, não havia meio de vencer, porque tudo me escapava das mãos!

Tomas T.
Igreja do Sagrado Coração de Jesus

Eram dias de muita aflição. E eu estava muito perplexo e preocupado, porque não era só este ou aquele caso, mas era toda uma atitude perante a vida que estava posta em dúvida: “Como é? O que mais é preciso fazer para ter resultado nesta coisa tão complicada que se chama vida?!”

Por vezes eu pensava: “Devo confiar em Nossa Senhora.” Mas vinha-me uma dúvida: eu já havia pedido a Ela graças espirituais, sendo atendido com uma bondade sem nome. Graças materiais nunca havia pedido, porque até então não precisava: tinha uma saúde de ferro, uma situação econômica despreocupada. É verdade que pedia para passar nos meus exames e, graças a Ela, eu passava. Mas eu me preparava muito bem, estudava e ia armado até os dentes, de modo a ser algo natural que eu fosse aprovado. Tive uma vida de estudante muito normal.

Mas, quando me vi necessitado de coisas práticas e concretas, não concernentes à vida espiritual, me veio esta dúvida: “Devo pedir coisas materiais das quais estou precisando…? A santificação eu sei que Ela deseja me conceder. Ela é minha Mãe, sabe que eu quero, Ela quer que eu queira; eu peço, logo, Ela dará. É compreensível, vou confiar n’Ela.”

Ora, eu me perguntava: “Quem sabe se Nossa Senhora não quer me sujeitar à pobreza, como fez com tantos Santos? Ou quer que eu sofra nevralgias até o fim de minha vida? Quem sabe se Ela quer que eu leve a vida de um mendigo? Está no seu direito permitir. Eu estou no direito de pedir? Se eu pedir sujeitando-me ao que seja de acordo com o que Ela queira e não de acordo com minha vontade, será uma oração perfeita, devo fazê-la. Mas, como eu não sei o que Ela quer, acabo por não saber se receberei o que peço.”

Eu estava numa encruzilhada de meus caminhos.

Numa compra fortuita, um livro providencial

Havia, próxima ao Hotel Glória onde eu estava hospedado nesse tempo no Rio de Janeiro, uma igreja dedicada ao Sagrado Coração de Jesus, na qual comungava todos os dias pela manhã. O vigário que tomava conta da igreja era amabilíssimo, um bom sacerdote, do clero ainda pré-conciliar, correto, amável, distinto, puro.

Devido ao tormento das nevralgias às noites, eu tinha dificuldade em acordar tão cedo quanto me seria necessário para alcançar o horário das Missas. Assim que podia, tomava o táxi, descia correndo à igreja e ainda alcançava esse sacerdote, o qual, parece-me, ficava à minha espera. As Missas já tinham sido rezadas e o movimento da igreja diminuído; era um bairro de gente idosa que comungava bem cedinho e voltava para casa.

Quando o padre me via chegar, vinha logo e me ministrava a Comunhão. Eu era muito grato a ele, nos saudávamos sempre de modo muito amável e ele não levava a mal que eu não me detivesse para conversar com ele, porque sabia que eu tinha reunião de deputados da bancada paulista logo em seguida.

Um dia, cheguei à igreja e esse sacerdote estava à minha espera, na entrada; aproximou-se de mim e disse com amabilidade: “Dr. Plinio, nós estamos organizando uma feira beneficente de livros piedosos aqui na sacristia. Se o senhor quiser examinar a exposição, é uma boa ocasião para comprar algum bom livro católico que lhe agrade.”

Era um conselho de um bom padre para um fiel, uma “boa ocasião para comprar um bom livro católico.” Mas era também um pedido, o que equivalia a dizer: “Nós temos sido tão amigos do senhor, seja um pouco amigo nosso; o senhor não quer ajudar nossa Paróquia comprando alguns livros?”

Ele supunha que eu fosse um homem rico, sendo natural que eu ajudasse bem. Mas eu estava já com os bolsos vazios… Esses livros eram vendidos em benefício da Paróquia, e entendi que eu, comungando sempre lá, devendo tantos favores, não podia recusar e nem queria, porque desejava realmente colaborar com essa forma de bem; era um modo de retribuir a gentileza.

Comunguei. Terminada a ação de graças, fui correndo à sacristia; lembro-me ainda dela, com vários livros expostos. Não encontrei nenhum que me interessasse, mas eu estava disposto a pegar dois ou três livros a esmo. Deparei-me com um chamado O Livro da Confiança. Olhei um pouco, hesitei muito e pensei: “A confiança! O que é? Não sei bem. Como vou pegar coisas de piedade como esta, meio indefinidas, que não são como as que eu gosto, raciocinadas, lógicas e sólidas, mas algo sentimental? A capa me dava essa impressão… Preciso contentar o bom padre, eu vou comprá-lo.”

Rafael S.

Eu queria escolher pelo menos dois livros. Peguei este livro da Confiança e, por uma coincidência, era mais barato do que os demais, e um outro do qual já não me lembro. Paguei às pressas, meti-me no automóvel e fui correndo para o prédio da bancada paulista, com os livros na mão. Assisti à reunião e, à noite, chegando ao hotel para descansar, deixei-os sobre um móvel de meu quarto e toquei a vida.

O bálsamo da confiança

Certo dia, cheguei ao hotel em meio à amargura das múltiplas provações que eu enfrentava naquele tempo, atormentado por preocupações e mal-estar físico, amargurado, desorientado e cheio de dúvidas, sem saber a via que Nossa Senhora queria de mim. Resolvi abrir O Livro da Confiança, comecei a lê-lo.

Com letras grandes, de uma leitura muito fácil, li as primeiras palavras: “Voz de Cristo, voz misteriosa da graça que ressoais no silêncio dos corações, vós murmurais no fundo das nossas consciências palavras de doçura e de paz.”

Já naquelas primeiras magníficas palavras, das quais tenho lembrança como se eu as tivesse lido hoje cedo, senti no interior de minha alma uma tranquilidade, algo que baixava sobre mim à maneira de um lenitivo, que me sossegava. É impróprio dizer que anestesiava, mas fazia cessar as dores, trazendo um benefício enorme à alma.

Era uma graça, que me dava a impressão curiosa como se uma atmosfera dulcíssima, cheia de afeto penetrasse em mim e me dissesse: “‘Voz de Cristo, voz misteriosa da graça…’ Repita, meu filho: …vós murmurais em minha alma palavras de doçura e de paz.” E aquilo tudo me dava muita esperança de que aqueles fantasmas de perspectivas e de preocupações futuras iriam desaparecer. Nosso Senhor e Nossa Senhora me ajudariam, resolveriam bem os problemas que tanto me amarguravam. Foi um conforto para mim extraordinário, que me distendeu de um modo maravilhoso e dulcíssimo.

E compreendi com perfeição que aquele livro me faria muito bem. Ora, causou-me uma impressão singular este fato concreto: nunca, mas absolutamente nunca, ninguém me havia falado sobre a confiança como sendo uma virtude que o católico deve praticar. Nunca! Não tinha ideia disso, embora entendesse que confiar em Deus fosse uma coisa boa.

Lembro-me de que o coro da Paróquia de Santa Cecília, da qual fui congregado mariano, cantava em latim uma canção, cujo início era: “Beatus homo qui confidunt in Domino – Bem-aventurado o homem que confia no Senhor.” Eu acompanhava com gosto, porque me dizia algo à alma, mas nunca me tinha aprofundado. Lendo o livro, entendi a doutrina completa a respeito da confiança.

Eu li esse livro não sei quantas vezes! Naquele tempo em que eu viajava muito entre Rio e São Paulo, eu o levava sempre em minha mala, de maneira que, estando em um lugar ou noutro, sempre o tinha a meu alcance, e fiz muito uso dele.

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