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“Quem avisa, amigo é”

Em artigo publicado em 1981, Dr. Plinio lança um alerta tão atual que parece ter sido dirigido à opinião pública de nossos dias.

Tensões, crises? É só do que se ouve falar. Nem a atenção se põe em qualquer ponto do horizonte, por mais remoto que seja, sem as discernir, corroendo à térmita ou derrubando à bulldozer, aqui, lá e acolá.

Kristian Pikner (CC3.0)
Vale do Anhangabaú na primeira metade do século XX

“Aqui”: o que quer dizer isto? Sim, aqui mesmo. Isto é, no Brasil, em São Paulo, em torno de cada um, dentro mesmo de tantos e tantos! Tensões e crises, tanto do corpo quanto da alma.

Atmosfera de despreocupação dos anos 30

Como vão longe os anos 30 em que a média das pessoas não tomava remédios porque não adoecia. Ou porque, quando acontecia de adoecer, era tão levemente que a saúde robusta triunfava com o mero concurso de algum ingênuo remédio caseiro, ou com certa atitude de alma, levemente estoica, que o zé-povinho rotulava pitorescamente “chá de pouco caso”.

Johannes Groll (CC3.0)

Não só as saúdes eram habitualmente boas, mas as almas eram desanuviadas, tanto quanto neste vale de lágrimas se possa ser… Por todos os lados se trabalhava. Mas em vários lados também se rezava. Rezava-se até mais do que nos anos 20. A grande renovação religiosa trazida pelo surto das Congregações Marianas soprava sobre o Brasil, de ponta a ponta. E havia alegria também, notadamente nas burguesias média e pequena, e na classe operária. Alegria na vida das famílias, resultante, em certa medida, dos elementos saudáveis de uma tradição cristã que teimava em não morrer. Alegria comunicativa, largamente refletida nas páginas dos jornais, e mais ainda nas das revistas. E que repercutia nas vitrolas e nos rádios, com os quais se deliciavam os contemporâneos.

Saúde e gosto de viver conferiam à sociedade humana um reluzimento de estabilidade distendida e farta, e de alegre expectativa quanto aos dias vindouros.

O homem superficial de então preferia não comentar a imoralidade que, entretanto, se avolumava nos ambientes insensíveis ao renouveau católico. Nem dar atenção aos fatores de agitação social e econômica, os quais cresciam mais rápidos do que o progresso industrial.

Arquivo Revista
Dr. Plinio em 1981

Etapas da derrocada de um mundo ávido de prazer

De repente, eis que sobre o grande festival alegre, gaiato, porém não sem traços de dignidade, projetou-se uma luz inesperada.

De 25 para 26 de janeiro de 1938, Portugal inteiro estremeceu, pois aparecera nos céus noturnos da Lusitânia fenômeno jamais visto, isto é, uma imensa aurora boreal. O povo, quiçá impressionado pela perspectiva dos castigos com que, no declínio da Primeira Guerra Mundial, Nossa Senhora de Fátima, pela voz de Lúcia, Jacinta e Francisco, ameaçara o mundo impenitente – difusão dos erros da Rússia por toda a Terra, nova guerra mundial, nações que desapareceriam etc. –, punha-se a rezar pelas ruas, temendo a justiça de Deus. Sinos tocavam, as igrejas se enchiam.

Amanheceu normalmente o dia e a vida continuou. Em outras nações em que houvera a aurora boreal – o fenômeno foi visto até na Itália e na Grécia – ninguém se incomodara. Algum tanto tendenciosamente informada pelas agências noticiosas internacionais, a opinião pública de todos os países pôs-se a rir: “Esse Portugal…”

Mas veio o castigo. Em março de 38, a Alemanha anexava a Áustria. Em outubro, os sudetos. Em março do ano seguinte foram invadidos a Checoslováquia e o Memel (Lituânia). Em setembro a Polônia. A guerra começara.

Essas foram as etapas da derrocada de um mundo, o qual só queria uma existência terrena impregnada do prazer de viver.

Novo prenúncio de castigos?

Já registrei quanto é diferente o mundo de hoje. Padecimentos no corpo de quase cada um. Padecimento das almas interesseiras, porque veem vãs as suas cobiças, no socialismo e na decadência. Padecimento das almas desinteressadas, por verem os padecimentos dos interesseiros. Padecimento dos que não têm fé, porque não a têm. Padecimento dos que têm Fé, por verem o estado em que se encontra a Santa Igreja de Deus… de tanta prostração que se diria não a terem podido prever, há algumas décadas, nem sequer os Anjos de Deus, no mais alto dos Céus!

Dir-se-ia que em todos zumbe, consciente ou inconsciente, confessado ou inconfessado, o receio de algo que vai acontecer.

Neste quadro, ocorre um fenômeno análogo ao de 1938. Na noite de 12 de abril, um forte clarão avermelhado, visto também com tonalidades esverdeadas, alaranjadas e amarelo claro, iluminou o céu dos Estados Unidos. O fenômeno foi observado em mais de dois terços do território norte-americano, na Costa Oeste, no Meio-oeste e em todo o Sul, até o Golfo do México. A noite ficou tão clara, que automóveis transitavam de faróis apagados.

Teodoro Reis

Qual a causa do fenômeno? Nuvens luminescentes, aurora boreal? Cientistas abalizados discutem. Quanto às auroras boreais, são raramente visíveis ao sul do paralelo 50 e inteiramente excepcionais no paralelo 30, onde se situa a costa Sul dos Estados Unidos, no Golfo do México. O fenômeno do dia 12 de abril foi registrado pelo Serviço Nacional de Meteorologia, pela Administração Oceânica e Atmosférica Nacional em Boulder, Colorado, e pela NASA.

Novo sinal, a ameaçar de novos castigos uma humanidade cuja impenitência vem afrontando Nossa Senhora de Fátima? Explosão, desta vez ocorrida não mais em um mundo alegre, que não a esperava, mas em um mundo opresso, desvairado e impenitente? Em um mundo cujos pecados vão assumindo todas as modalidades do escândalo?

Sinto a antipatia de alguns leitores contra a hipótese que acabo de lançar. Essa antipatia não provirá do fato de que desperto pressentimentos presentes neles sem que ousem confessá-los a si próprios? Neste caso, suas antipatias não serão tanto mais acirradas quanto mais sintam, em seu foro íntimo, que minha hipótese tem razão de ser?

Pergunto-o com ânimo cristão para com todos, inclusive para com esses caros antipatizantes. Parece que o fenômeno luminoso insólito de 1981 é simétrico com o de 1938. Assim, penso ser razoável conjeturar que a suite de 1981 será simétrica com a de 1938.

“Quem avisa amigo é.” Meu comentário é feito à vista de que ainda é tempo de orar, de mudar de vida, e assim de evitar o castigo que ameaça as nações.

Meditemos e peçamos juntos a Nossa Senhora de Fátima, para que os homens se emendem e o castigo seja assim evitado, na medida do possível.

(Cf. Folha de São Paulo, 9/5/1981)

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