domingo, noviembre 24, 2024

Populares da semana

Relacionados

O Sepulcro do Senhor

Imaginando o Santo Sepulcro, Dr. Plinio faz riquíssimas considerações que podem inspirar-nos à meditação por ocasião da Páscoa.

Atualmente, o ambiente que cerca o Santo Sepulcro difere bastante daquele existente quando Nosso Senhor ali estava morto na sua humanidade.

Entretanto, a fim de fazer uma meditação sobre a Ressurreição de Cristo, farei o que Santo Inácio de Loyola chama, nos Exercícios Espirituais, a composição de lugar, sabendo que o Santo Sepulcro assim não foi. Vou imaginar um sepulcro em concreto, ou seja, real, e depois descreverei a impressão que ele me causaria, se lá estivesse.

Um arco prodigioso, não definido

Eu imaginaria o Santo Sepulcro como algo completamente tosco, aberto na pedra pelos pedreiros de José de Arimateia, que formavam talvez uma das primeiras empresas funerárias do mundo. Uma coisa tosca, mas para quem soubesse interpretar e conhecesse o gótico, olhando para aquilo perceberia que formava um arco prodigioso, não definido. Um indivíduo que vivesse no tempo de Jesus não perceberia, mas um medieval diria: “Olha o gótico!” Se quiserem, foi a primeira ogiva da História.

A lápide que encerrava o Santo Sepulcro, ao contrário de ter aquela beleza leve do gótico, aquele charme, seria uma pedra bruta como que fazendo carranca.

E a ogiva era um louvor do Filho de Deus e a tragédia do deicídio, a justaposição do lindo e do horror da morte, da virtude e do pecado.

A câmara mortuária em forma de cruz

Como se poderia imaginar a câmara mortuária onde estava Nosso Senhor?

Poder-se-ia representar, não uma montanha gigantesca, seria ridículo, mas uma rocha muito grande, ainda com terra por cima, com plantas, de maneira que se sentisse que ela é muito maior do que nossos olhos percebem.

Afastada a pedra de abertura, entrar-se-ia numa espécie de corredor, no fundo do qual se tem a idéia do âmago da morte. E no âmago da morte, o Deus vivo.

É bonito imaginar o cortejo que entra, levando o sagrado Corpo: os archotes, a resina dos mesmos e a fumaça marcando o teto e as paredes; aquela escavação escura e tenebrosa vai recebendo uma luz surpreendente. Nessa escavação, cuja forma seria alongada, haveria uma como que mesa de pedra, sobre a qual se colocaria o Corpo divino.

Quem prestasse uma atenção amorosa e meditativa perceberia, não à primeira vista, mas à terceira ou quarta, que aquilo formava uma cruz. No âmago da morte não cabe a festa nem o pulchrum ostentado, mas apenas insinuado, entrevisto.

Contraste entre Nossa Senhora e a montanha de pedra

Prestando-se atenção nas paredes e na estrutura geral, se compreenderia que aquilo representava um docel fabuloso, embora de pedra comum, o docel de todos os séculos, pois ali estava colocado o Corpo de Nosso Senhor.

Talvez não se devesse imaginar que também Nossa Senhora entrasse. Ela, em cujo claustro Nosso Senhor tomou vida, vendo agora o sepulcro onde está o seu Filho morto! Seria lancinante o contraste entre a Virgem-Mãe e a montanha de pedra, a vida que começa e a morte dando seu golpe brutal, o crime mais inopinado, mais satânico, mais estúpido, se não fosse diabólico.

Assim, podemos conceber que Ela julgasse não dever estar ali, como uma espécie de protesto das entranhas que O geraram contra a entranha de pedra que O vai conter: uma incompatibilidade intransponível.

É mais bonito supor que todos saem, ficando ali apenas o sagrado Corpo ultra-aromatizado, isolado, na escuridão completa, havendo, na aparência, a vitória deslumbrante da impiedade, da vulgaridade, da morte, do pecado, sobre Nosso Senhor Jesus Cristo.

Fosforescência lívida, mas gloriosa

Se, pela ação de um anjo, uma pessoa tivesse a felicidade de ver através da rocha, perceberia que do Corpo emanava uma discretíssima claridade, não a de um homem vivo, mas a de um cadáver. Para a autenticidade da Ressurreição era preciso que Jesus estivesse morto, com todas as características da morte, exceto a putrefação, que n’Ele não cabe. Se não fosse irreverência, poder-se-ia comparar essa luminosidade à fosforescência. Seria uma fosforescência lívida e cadavérica, mas gloriosa.

Num canto qualquer, e também no solo, uma luz mantida por anjos, que brilhasse de um modo lindíssimo, como um vitral iluminado por detrás. Brilharia apenas num canto, sem chegar a iluminar tudo, como são os quadros da escola holandesa.

E por que no chão? Porque a glória de Nosso Senhor impunha que, junto ao cadáver d’Ele, nunca se fizesse noite completa.

Seria de certo modo o lumen gloriae1 porque, no lugar da morte, a luz não tem a sua residência própria. Ela está como que enxovalhada, posta de lado, iluminando só um canto, enquanto a vida não voltar para Ele. Tratar-se-ia de luz angélica, que não precisa de oxigênio, pois independe das leis da Física.

E essa luminosidade aumentaria paulatinamente, se desdobrando em como que fosforescências cada vez mais bonitas, cujas várias zonas lembrassem os tormentos d’Ele e tudo quanto em sua alma humana, em união hipostática com a Divindade, se passou durante a existência: a vida íntima da Sagrada Família, os três anos da vida pública, a aurora radiosa, a glória, a perseguição, as apreensões, o Horto das Oliveiras, tudo isto iria se desdobrando em luzes. Seria como que uma narração.

Poderíamos imaginar também que as feridas, as chagas sagradas, fossem gradualmente tomando, em harmonia com isso, à maneira de matizes, fosforescências próprias, indicando o significado de cada uma, o que Ele havia sofrido e expiado em cada passo da Paixão.

Quando isto estivesse inteiramente representado, seria preciso pensar nas legiões de anjos adorando o sagrado cadáver. E, incomparavelmente superior a todos os anjos, Nossa Senhora à distância, no Cenáculo, em contínua adoração. Poder-se-ia objetar: “Está bem, mas anjo não precisa de fosforescência.” Sim, mas ela poderia existir para que algum dia fosse o seu sentido meditado por outros.

Nesse momento, algo de novo começaria a se dar dentro do Santo Sepulcro.

Duas formas de imaginar a Ressurreição

Podemos imaginar duas formas de Ressurreição.

Cristo morto, deitado, em determinado instante, dá sinais de vida; a fosforescência se torna uma luminosidade e sua Alma imediatamente glorifica a Deus Pai, faz um ato de amor ao Espírito Santo. A Pessoa do Verbo Se levanta com uma majestade indizível e caminha no sepulcro transformado, de repente, numa catedral feita de luzes, em meio aos cânticos dos anjos.

Chegando junto à entrada, os anjos rodam a pedra e Ele… meus ouvintes estão imaginando que Ele apareceria a Santa Maria Madalena. Não. Do momento em que Nosso Senhor se levantou até o instante em que ela O reconheceu, houve um interstício insignificante. É-nos lícito imaginar que, com o deslocamento rapidíssimo dos corpos gloriosos, neste interstício Jesus esteve no Cenáculo e apareceu a Nossa Senhora. Assim, imagino ter sido Ela a primeira pessoa que O viu. E logo depois Se apresentou a Maria Madalena, tendo então lugar a cena que o Evangelho descreve.

Essa seria uma modalidade de imaginar a Ressurreição.

Conforme a piedade e o modo de ser de cada um, poder-se-ia supô-la de outro modo: nas trevas intensas, de repente, à maneira de um corisco sublime, a montanha como que racha, Nosso Senhor se levanta como um raio e, num instante, está junto à porta. Um anjo rola a pedra e Ele se encontra diante dos olhos de Maria Santíssima.

Fato tocante: durante toda a Paixão, Nossa Senhora teve em Si a presença eucarística

Há, entretanto, um fato tocante, do qual as pessoas que meditam sobre a Ressurreição nem sempre se lembram: Nossa Senhora fez sua primeira Comunhão no Cenáculo, quando Jesus instituiu a Eucaristia; e a partir desse momento — hipótese defendida por inúmeros teólogos2 —, nunca mais a presença real n’Ela cessou. E depois de sua morte, Jesus de fato estava em dois lugares no mundo: na sepultura e em Nossa Senhora.

Isso forma, a meu ver, um contraste lindíssimo e afirma, de um modo tão glorioso que não encontro palavras para qualificar, a vitória de Nosso Senhor sobre o demônio, porque Ele morto estava em seu paraíso, ou seja, Maria Santíssima. E, durante a Paixão, Ele estava atado à coluna, carregando a Cruz, crucificado e até morrendo, mas permanecia ao mesmo tempo no paraíso d’Ele e — julgo indispensável considerar isso — desse modo triunfava dentro de sua derrota.

Eis aí, de modo esquemático, alguns pontos que depois devem ser desdobrados, para se fazer uma meditação sobre a Ressurreição.

No fim do mundo, o incêndio poupará o Santo Sepulcro

Devemos também recordar a glória que ao Santo Sepulcro deram os fiéis em todo o curso da História, mas me comprazo em pensar especialmente nos que derramaram o sangue para libertá-lo. Ficaram eles desolados quando souberam que o Santo Sepulcro estava ocupado pelos inimigos da Igreja, impedindo aos católicos do Oriente de para lá se dirigirem. Além da desolação, houve a indignação do Papa Bem-aventurado, Urbano II, que pregou a Cruzada. Ocorreu, então, por toda a Europa aquela espécie de santa propagação, como a luz, do brado “Deus o quer!”, e avalanches de cruzados, durante muito tempo, lutaram para libertar o Santo Sepulcro.

Depois podemos imaginar o Santo Sepulcro cercado pelas labaredas que vão consumir quase toda a Terra no fim do mundo. Digo “quase” porque alguns lugares sagrados, antes de tudo o Santo Sepulcro, vão ser poupados.

Julgo que, no fim do mundo, todas as relíquias da Paixão que restarem — relíquia é o que restou — serão reunidas gloriosamente junto ao Santo Sepulcro.

Quanto ao Santo Lenho, há relíquias autênticas misturadas com outras que não o são. A coroa de espinhos e os instrumentos da Paixão, os cravos, não estão inteiros. Poder-se-ia imaginar que para tais relíquias haveria uma espécie de ressurreição, ou seja, as autênticas seriam desentranhadas para se reincorporarem.

Essa é uma idéia pelo menos muito simpática e enormemente atraente. Nem por isso é prova de que seja verdadeira, porque pode haver obstáculos metafísicos e teológicos a isso; seria preciso estudar o caso.

Lábaro de dor

A respeito do Santo Sudário, parece-me que poderá ocorrer o seguinte: continuará sendo uma espécie de lábaro de dor, lembrando as sofrimentos de Nosso Senhor; ou acontecerá o que sucedeu com suas chagas, as quais se tornaram gloriosas, recordando todos os crimes cometidos contra Ele. Quem sabe, o Santo Sudário conserve esse aspecto funerário e doloroso — é como que a fotografia da própria dor —, mas irradiando uma glória como as chagas.

Ninguém pode descrever como seria essa glória. O Santo Sudário é uma “fotografia” — entre aspas — de Nosso Senhor; todo o brilho que aquele emitir vai ser uma espécie de réplica do esplendor que do Divino Redentor promanará, e será objeto de enlevo, de adoração, etc., de todos os anjos e bem-aventurados.

O Corpo sacratíssimo de Nosso Senhor, com suas chagas, e analogamente o Santo Sudário, brilharão, constituindo o gáudio de todos os eleitos. E cada um de nós verá então, com reconhecimento, o que custou seu próprio resgate.

G. Kralj
Após ressuscitar, Jesus aparece a Santa Maria Madalena. Igreja São João Batista – Nova Escócia, Canadá.

O Imaculado Coração de Maria: a mais perfeita figura de Nosso Senhor

Tudo quanto Nosso Senhor sofreu e, lindamente, Maria Santíssima padeceu em união com Ele, se projetará sobre os anjos maus e os réprobos de maneira a estertorarem de ódio e de horror.

Imaginemos que o indivíduo A tenha inveja do indivíduo B. De repente, A descobre que B é príncipe e será coroado rei. A não vai assistir a coroação, preferindo ficar em algum antro se contorcendo de inveja e de ódio. Embora não esteja vendo a coroação, cada rito da mesma, cada brilhante da coroa, etc., o dilaceram. A inveja e a revolta o devoram. Assim, podemos calcular qual foi o ódio dos demônios diante do Santo Sudário e de Nosso Senhor Jesus Cristo, apesar de não os verem.

Mas acima do Santo Sudário há uma representação mais alta de Nosso Senhor Jesus Cristo.

É o véu da Verônica?

Não. É o Sapiencial e Imaculado Coração de Maria. Aquele que é a própria Beleza ali se representa com complacência.

(Extraído de conferência de 18/4/1981)

1) Luz da glória.

2) Entre os que defendem esta piedosa hipótese está o Revmo. Pe. Gregório Alastruey em sua obra Tratado de la Virgem Santíssima. (Madrid: BAC, 1956.)

Artigos populares