Tanto a alegria quanto a dor da alma resultam necessariamente do amor. O homem se alegra ao obter o que amou, e se entristece quando o que ama lhe falta. Entretanto, não raras vezes o homem contemporâneo dedica todo o seu amor às coisas meramente terrenas. Assim, impressionam-no, sobretudo, as dificuldades pessoais e superficiais: a saúde abalada, a situação financeira vacilante, os amigos ingratos, as promoções que tardam… Porém, esquece-se ele de que isso tudo é secundário para o verdadeiro católico, que almeja principalmente a glória de Deus e da sua Igreja, e, portanto, a salvação eterna.

Por mais que variem os acontecimentos da história humana, os altos e baixos da política e das finanças continuem sua corrida desordenada, a Santa Igreja sabe manter-se sobranceira ao vai-e-vem caprichoso das paixões humanas: “Stat crux dum volvitur orbis”… Sobranceira, porém não indiferente, ela aponta a seus filhos as alegrias, como também as privações pelas quais devem eles passar, na esperança da glória futura. É o que explica Dr. Plinio, a seguir:

“Quando os dolorosos dias da Semana Santa transcorrem em épocas alegres e tranquilas, a Santa Igreja, como mãe, solicita a seus filhos que almejem o sofrimento heroico, o espírito de renúncia às trivialidades quotidianas, e ademais o inteiro devotamento aos ideais que proporcionam um sentido mais alto à vida humana. ‘Um sentido mais alto’, não diz bem; o único sentido que a vida possui: o sentido cristão.

“Entretanto, a Esposa Mística de Cristo não é mãe apenas quando nos indica a observância austera do sofrimento. Ela também o é quando, nos extremos da dor, faz brilhar aos olhos da fé, a luz da esperança, descortinando horizontes plenos de serenidade e confiança que ela propõe a seus verdadeiros filhos.

“A Igreja vale-se das vibrantes e castíssimas alegrias da Páscoa para difundir a certeza triunfal de que Deus é o Senhor de todas as coisas, seu Cristo é o Rei da glória, e sua Esposa Mística é rainha de imensa majestade, capaz de dissipar as trevas, que em vão tentam envolvê-la, brilhando com luzidio triunfo no momento em que parece aguardá-la a mais terrível e irremediável das derrotas, da mesma forma que julgara o povo eleito estar tudo encerrado após a morte do Divino Mestre, acreditando ser Ele incapaz de destruir a prisão sepulcral em que jazia, sobretudo passando da morte à vida.

“Constataram, surpresos, a ressurreição do Filho de Deus sem a intervenção de qualquer auxílio humano, deslocando leve e rapidamente a pesada lápide do sepulcro. E Ele ressurgiu!

“Assim também a Igreja imortal, ainda que sob o peso sepulcral das mais dolorosas provações, possui uma força interior e sobrenatural que lhe vem de Deus, e lhe assegura uma vitória tanto mais esplêndida quanto mais inesperada e completa.

“A grande lição da Quaresma e a condolência para os homens retos que amam acima de tudo a Santa Igreja é: Cristo morreu e ressuscitou.

“Também a Igreja se erguerá, gloriosa como Cristo, na radiosa aurora de sua Ressurreição.”

(Extraído d’O Legionário de 1/4/1945)