Como tem sido costume adotado nesta seção, sem com isso desviá-la de suas características originárias, as mais importantes declarações públicas de Dr. Plinio ganham nela o destaque que lhes é devido — já por haverem repercutido de modo particular na época em que foram proferidas, já por lançarem eloqüentes luzes sobre as grandes horas da Igreja, sobre o futuro da humanidade, sobre o porvir deste ou daquele povo. Tal se verificou quando, nas páginas do Legionário de 15 de outubro de 1933, assim escreveu ele a respeito da missão da América Latina:
“O homem ocidental já não encontra encantos na liberdade de que abusou, na igualdade com que sonhou e na fraternidade que não realizou. Sua economia pujante, orgulho de seus velhos dias, foi devorada pela superprodução. A filosofia, a quem erguera um altar na sua admiração, foi abeberar-se nas correntes envenenadas a que não resistem povos nem civilizações. Servem-lhe de leito funerário os escombros de suas glórias passadas. (…) Nesta tarde de civilização, que ameaça ser a tarde da própria humanidade, só dois fatores nós vemos, realmente capazes de abrir para o homem uma janela salvadora sobre o futuro: no plano espiritual, a Igreja Católica, e no plano terreno, a América Latina.
“Uma lenda antiga nos conta que à beira de certo lago havia um rochedo que crescia à medida que as ondas o acometiam, de sorte a nunca ser submergido, ainda nas maiores tempestades. Hoje em dia, este rochedo é a Pedra, é a Cátedra de Pedro, que tem avultado com as revoluções, zombando das heresias, crescendo em vigor à medida que seus adversários crescem em rancor. Há já vinte séculos que ela vem espargindo água benta sobre os adversários que tombam no caminho. (…) Assistiu ao nascer de todos os países do Ocidente. Vê-los-ia morrer sem receios por seus próprios dias, que não se contam com a brevidade dos dias de uma nação. Em sua doutrina divina, tem todos os tesouros espirituais e morais necessários para solucionar todas as crises. Neste mar revolto do século XX, em que naufragam homens, idéias e fortunas, só Ela continua e será via, veritas et vita, que a humanidade há de aceitar, para levantar um vôo salvador sobre o próprio abismo que ameaça tragá-la.
“Para atuar, porém, ela também se serve de fatores humanos. E, destes, o mais promissor é a América Latina. (…) Apesar dos pesares, nossos costumes ainda conservam muito daquela suave urbanidade que é a característica das índoles cristãs. Mesmo a moralidade do lar, de modo geral, ainda não foi corrompida pelo divórcio, que legaliza farisaicamente o amor livre.
“Quando, portanto, da imensa caldeira em que fervem os restos de nossa civilização emergirem os primeiros princípios de uma nova ordem de coisas, tendo por base o respeito à Igreja, à propriedade e à família, só a América do Sul oferecerá ao mundo um caminho a ser edificado, com suas regiões imensas, que as crises econômicas não esgotaram, e seus povos de reservas morais sólidas, que até lá terão passado pelo cadinho do sofrimento e nele terão formado sua têmpera de povos fortes.
“A América do Sul será, portanto, o grande laboratório onde a nova civilização católica se vai erguer.”