Será o liberalismo realmente contrário ao socialismo?
Conforme nos ensina Dr. Plinio em Revolução e Contra-Revolução, o socialismo romântico do século XIX, mais ou menos esparso pelo mundo inteiro no século XX, representa um perigo mais grave para o Ocidente do que a difusão do marxismo doutrinário.
Por que o liberal autêntico aceita o socialismo?
“Historicamente, o movimento socialista é um mero requinte do movimento liberal. O que leva um liberal autêntico a aceitar o socialismo é precisamente que, neste, se proíbem tiranicamente mil coisas boas, ou pelo menos inocentes, mas se favorece a satisfação metódica, e por vezes com aspectos de austeridade, das piores e mais violentas paixões, como a inveja, a preguiça, a luxúria. E de outro lado, o liberal entrevê que a ampliação da autoridade no regime socialista não passa, dentro da lógica do sistema, de meio para chegar à tão almejada anarquia final” (pp. 74-75).
Como interpretar os embates que às vezes eclodem entre liberais e socialistas?
“Os entrechoques de certos liberais ingênuos ou retardados, com os socialistas, são, pois, meros episódios superficiais no processo revolucionário, inócuos qui pro quo que não perturbam a lógica profunda da Revolução, nem sua marcha inexorável num sentido que, bem vistas as coisas, é ao mesmo tempo socialista e liberal” (p. 75).
A utopia marxista
Qual o nexo entre liberalismo, socialismo e marxismo?
“A efervescência das paixões desregradas, se desperta de um lado o ódio a qualquer freio e qualquer lei, de outro lado provoca o ódio contra qualquer desigualdade. Tal efervescência conduz assim à concepção utópica do ‘anarquismo’ marxista, segundo a qual uma humanidade evoluída, vivendo numa sociedade sem classes nem governo, poderia gozar da ordem perfeita e da mais inteira liberdade, sem que desta se originasse qualquer desigualdade. Como se vê, o ideal simultaneamente mais liberal e mais igualitário que se possa imaginar” (p. 76).
Em que consiste a utopia marxista?
“A utopia anárquica do marxismo consiste em um estado de coisas em que a personalidade humana teria alcançado um alto grau de progresso, de tal maneira que lhe seria possível desenvolver-se livremente numa sociedade sem Estado nem governo.
Nessa sociedade — que, apesar de não ter governo, viveria em plena ordem — a produção econômica estaria organizada e muito desenvolvida, e a distinção entre trabalho intelectual e manual estaria superada. Um processo seletivo ainda não determinado levaria à direção da economia os mais capazes, sem que daí decorresse a formação de classes.
Estes seriam os únicos e insignificantes resíduos de desigualdade. Mas, como essa sociedade comunista anárquica não é o termo final da História, parece legítimo supor que tais resíduos seriam abolidos em ulterior evolução”(pp. 76-77).
Perigosas concessões da “mentalidade socialista”
Mas o marxismo hoje não constitui nenhum perigo…
Atualmente está muito difundida “a idéia, mais ou menos consciente, de que toda desigualdade é uma injustiça, e de que se deve acabar, não só com as fortunas grandes, como com as médias, pois se não houvesse ricos também não haveria pobres. É, como se vê, um resíduo de certas escolas socialistas do século XIX, perfumado por um sentimentalismo romântico. Daí nasce uma mentalidade que, professando-se anticomunista, entretanto a si mesma se intitula, freqüentemente, socialista. Esta mentalidade, cada vez mais poderosa no Ocidente, constitui um perigo muito maior do que a doutrinação propriamente marxista” (p. 140).
Cite algum exemplo de fruto dessa mentalidade.
Tal mentalidade “nos conduz lentamente por um declive de concessões que poderão chegar até o ponto extremo de transformar em repúblicas comunistas as nações [do Ocidente]. Tais concessões, que deixam ver uma tendência ao igualitarismo econômico e ao dirigismo, se vão notando em todos os campos. A iniciativa privada vai sendo sempre mais cerceada; (…) nos salários, nos aluguéis, nos preços, em tudo o Estado intervém. Ele tem indústrias, bancos, universidades, jornais, rádio-emissoras, canais de televisão, etc. E ao mesmo passo que o dirigismo igualitário vai assim transformando a economia, a imoralidade e o liberalismo vão dissolvendo a família e preparando o chamado amor livre.
Sem um combate específico a esta mentalidade, (…) o Ocidente dentro de cinqüenta ou cem anos seria comunista” (pp. 140-141)