Se o mal é dinâmico, o bem é eminentemente difusivo. Assim como no caso de Dª Lucilia, ressaltava-se em Dr. Plinio esta característica do bem: era para o benefício e santificação das almas (sobretudo aquelas que Maria Santíssima confiara aos seus cuidados de pai espiritual) que ele devotava o melhor de seu zelo, de sua benevolência e de sua compaixão pelas fraquezas alheias.

Em seu afã de encaminhar a todos nas vias da virtude, era auxiliado por um impressionante dom de perscrutar até o fundo os corações, o que lhe possibilitava, com extraordinário acerto, dar um conselho adequado a cada situação.

Sempre disposto a amparar e a oferecer a boa doutrina a qualquer pessoa que recorresse às suas orientações, vencia as barreiras que encontrasse, não levando em conta classe social, condição intelectual, formação cultural, grau de prestígio ou outra característica do consulente. Cada um se sentia tratado por ele como filho — e filho único.

Se acontecia que algum dos seus, cedendo ao peso das solicitações do mundo, deixava-se extraviar das sendas do bem, Dr. Plinio, como o protagonista da parábola, transformava-se no bom pastor que vai atrás da ovelha perdida. Sem nada diminuir da imensa solicitude com que velava por todos sob sua guarda, punha-se ao encalço da alma tresmalhada, buscava-a no meio dos espinheiros em que se embrenhara, tratava-lhe as feridas e, com indescritível carinho, tomava-a sobre os ombros para conduzi-la de volta ao redil.

Em muitos de seus aspectos, a vida de Dr. Plinio se assemelhou, assim, a um círio que ardeu continuamente no serviço do próximo. Desde o momento em que despertava pela manhã, até a hora de se deitar, sua existência era um incessante holocausto pelo apostolado. Contatos telefônicos, conversas durante todas as refeições, atendimentos particulares, conferências, palestras e reuniões de estudo, as famosas “palavrinhas” (causeries em geral com os mais jovens), qualquer atividade era tomada por ele como mais uma ocasião para sustentar, conduzir, incentivar na prática da religião Católica Apostólica Romana, e no recurso contínuo à Rainha do Céu. “Tenha mais devoção a Nossa Senhora”, era a recomendação mais freqüente ouvida de seus lábios.

Ainda no seu último mês de vida, preso ao leito de hospital, Dr. Plinio manteve acesa a preocupação por seus discípulos, edificando a todos pela prática ininterrupta daquela “sede de almas” que tanto aconselhava e prezava.

Não podia acontecer que, ao deixar este mundo, Dr. Plinio rompesse o liame espiritual com seus dirigidos. Pelo contrário, deveria fortalecê-lo.

Ao se comemorarem os cinco anos da partida desse admirável católico para a eternidade — a par de exprimir as saudades do inesquecível convívio, da direção segura e confiável, e daquele olhar paternal, bondoso e compreensivo — é dever de gratidão assinalar que Dr. Plinio solidificou esses laços de alma. Tem ele observado, rigorosa e dadivosamente, a promessa feita quando, pela primeira vez, tomou providências para a eventualidade de seu falecimento:

“São tais os vínculos de alma que tenho com cada um …. que me é impossível mencionar aqui especialmente alguém para lhe exprimir meu afeto. Peço que Nossa Senhora abençoe a todos e a cada um. Depois da morte, espero junto a Ela rezar por todos, ajudando-os assim de modo mais eficaz do que na vida terrena. Aos que me deram motivos de queixa, perdôo de toda a alma. …. Em qualquer caso, a todos e a cada um peço entranhadamente e de joelhos que sejam sumamente devotos de Nossa Senhora durante toda a vida.

“Por sua misericórdia inefável, quererá Nossa Senhora ter-me, depois de minha morte, aos pés de seu trono por toda a eternidade. Lá estarei orando por todos, até que junto a Ela o nosso número seja completo”.

… e o resto lhe foi dado por acréscimo

(Testamento de 10/1/1978 e carta anexa)