No salão, simples mas bem-ordenado e decorado com muito bom gosto, apinham-se homens de todas as idades, sentados ou de pé, desde respeitáveis senhores até vivazes colegiais. Alguns mantêm-se recolhidos a rezar, outros lêem, uma parte deles, por fim, trocam as novidades ou comentam as impressões sobre algum fato recente.

Todos estão na expectativa da chegada de Dr. Plinio, para “saborearem” mais uma de suas brilhantes e abençoadas conferências diárias, denominadas de “Santo do Dia”. Esta designação se deve ao fato de que tais palestras, iniciadas por volta de 1960, consistiam em comentários de resenhas hagiográficas. Com o passar do tempo, os assuntos foram variando, mantendo-se, entretanto, o nome primitivo.

Mas eis que, com passo decidido, um homem de robusto aspecto adentra o salão: é Dr. Plinio que chega. Com uma fisionomia paternal, apazigua os aflitos, encoraja os desalentados, entusiasma os fervorosos.

Nesses anos intranqüilos da década de 60, o mundo vivia profundas transformações sócio-psicológicas acarretadas pelo movimento hippie, o rock e as freqüentes convulsões estudantis, que culminariam na revolução da Sorbonne, em Paris. De outro lado, o progresso técnico ia atingindo culminâncias que tornavam deliciosa a vida no seu aspecto material. Fatores que podiam gerar insegurança e ao mesmo tempo atração mundana nos ouvintes de Dr. Plinio.

Ora, os “Santos do Dia” eram a melhor ocasião para o apostólico líder católico acertar os rumos dos que seguiam sua orientação. Não se pense que, de cada vez, ele procurava remediar as carências e necessidades espirituais de seu auditório, tratando puramente de catecismo e ascese. Não! Conquanto o substrato de suas palavras fosse sempre religioso, ele passeava com desenvoltura e sabedoria também pelas sendas da história, da literatura, da arte, da filosofia, da situação política internacional e de muitos outros campos do conhecimento humano.

Nos seus comentários, louvava os lados sublimes do assunto em pauta, censurava o que era rejeitável, com uma espantosa fecundidade de observações, todas apropriadas e cheias de vigor, que desvendavam aos olhos maravilhados do auditório aspectos pouco notados. Nunca partia de seus lábios uma palavra vã, nunca um conceito vago ou mal definido.

Na doutrina, era imutável, fidelíssimo filho da Igreja e seguidor exímio de todos os ensinamentos do Magistério eclesiástico. Mas as formulações com que revestia seu pensamento jamais se repetiam, demonstrando a riqueza de seu espírito. Acima de tudo, transparecia uma intensa piedade, que nada tinha de pieguismo. E toda a conferência transcorria num ambiente em que se harmonizavam, de modo extraordinário, intimidade familiar, bem-estar e leveza, respeito, elevação e distinção.

Mas, fiquemos atentos. Rezadas as orações com que Dr. Plinio costuma iniciar suas palestras, ele começa a fazer uso da palavra: “Hoje gostaria de comentar um episódio que vem narrado no livro Les moines d’Occident [“Os monges do Ocidente”], de Montalembert. O texto é o seguinte…”

Disponhamo-nos para ouvir as palavras do inesquecível pensador católico, que ecoam na variada matéria do presente número. O tema enunciado acima encontra-se na seção “Dr. Plinio comenta”.