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Eucaristia e a paz na terra

Nestes dias em que as tensões armadas se avolumam em tantos pontos do globo, vem ecoar novamente a voz de Dr. Plinio, apontando o único caminho para a obtenção da paz: a Eucaristia. Solução “plinianamente” original e ousada (e bem colada na realidade), como eram as desse líder católico.

Não é difícil (encontrar) conseqüência entre os Congressos Eucarísticos e a paz das nações. Guerras são sempre frutos de paixões exacerbadas. E como, entre os indivíduos, a virtude das partes domina os ímpetos do amor-próprio e conserva em harmonia as relações recíprocas, também entre as nações é mister reine a virtude cristã que impeça os excessos das paixões nacionais. Ora, para tanto, muito concorrem os Congressos Eucarísticos. Primeiramente, porque neles há uma consagração da realeza transcendente de Nosso Senhor Jesus Cristo. Reúnem-se representantes dos mais diversos países para, prostrados, reconhecerem a soberania suprema do Rei dos reis, de quem procede todo o poder na terra. Este espetáculo não pode não impressionar os soberanos deste mundo. […] Sentirão a precariedade de sua soberania, perceberão que sua autoridade não é absoluta ou ilimitada, mas que deve curvar-se diante de outra mais excelsa, a que peça normas por que se regular. […]

Esta humildade por parte dos governantes, este temor de Deus é o primeiro elemento de ordem e paz entre [as nações]. Pois na Soberania Divina encontrarão os soberanos o limite necessário às demasias do orgulho nacional.

Dr. Plinio (assinalado por um círculo) durante procissão no Congresso Eucarístico de Jabotical, em 1941 — A paz no mundo só se pode obter com o reinado de Cristo nos indivíduos e na sociedade

Depois, os Congressos Eucarísticos favorecem um conhecimento mais profundo de Nosso Senhor Jesus Cristo. Ele já não aparece apenas como o Redentor que uma vez se sacrificou pelos homens para merecer-lhes uma coroa de glória na vida de além-túmulo. Sua vida eucarística, perpetuando o sacrifício, convida os homens a uma reflexão sobre a perenidade de sua Paixão, os motivos que a determinam, seu influxo diuturno nas almas. E vem à luz a vida da graça, a vida estabelecida por Nosso Senhor, como uma realidade que deve ser vivida, e intensamente. Daí os frutos mais ocultos, que amadurecem no íntimo dos corações: a reforma dos indivíduos. Uma vida na qual a religião não é um acréscimo acidental, mas o móvel único que dá vitalidade sobrenatural a todas as ações do indivíduo. Um revestimento de Cristo, na frase de São Paulo.

Não se diga que, todos espirituais, estes frutos na sociedade são valores somenos. Absolutamente. Não é possível uma separação real entre os indivíduos e a sociedade. Não há uma sociedade abstrata à qual se apliquem normas e reformas sem considerar os homens que a compõem. Estes são sempre os membros daquela na qual ingressam inteiros, corpo e alma, vícios e virtudes que porventura possuam. E como os vícios concorrem para a desordem e intranqüilidade, as virtudes são elementos de ordem e de paz.

A paz social depende, pois, e muito, da paz interna de seus membros. Esta só se obterá quando se compenetrem os homens de sua finalidade extraterrena, sobrenatural, e saibam que ela se subordina ao cumprimento exato de seus deveres para com Deus e para com o próximo. Tal compreensão, proporcionam os ensinamentos de Nosso Senhor; executá-la, facilitam os exemplos de Nosso Senhor: uma e outra coisa se obtêm nos Congressos Eucarísticos.

Há, pois, estreita relação entre os Congressos Eucarísticos e a paz na terra. Já o atual Pontífice gloriosamente reinante, apontava este benéfico influxo dos Congressos Eucarísticos, ao reatar a série dos mesmos, interrompida pela Grande Guerra. E realmente, a paz de Cristo só se pode obter com o reinado de Cristo nos indivíduos e na sociedade.

(Transcrito do “Legionário”, nº 156, de 14/10/1934)

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