Dr. Plinio na década de 1980; abaixo, uma “carrocinha” na São Paulo de outrora

Faz vinte anos. Era dezembro de 1981. O dia é incerto. O que ocorreu então merece constar nesta seção, não por marcar uma data especial, mas por sua exemplaridade. Uma cena de rua, que normalmente passaria despercebida, chamou a atenção de Dr. Plinio. Como ele praticamente vivia em espírito de oração e recolhimento, onde quer que pousasse o olhar encontrava um motivo de voltar-se para Deus e para a Santíssima Virgem, e para que de seu coração brotasse uma prece.

Num círculo restrito de amigos, ele narrou o acontecido com as seguintes palavras:

Outro dia, era domingo à tarde, quando eu ia de automóvel pela Rua Sergipe, rumando para a Rua Mato Grosso, vi um carrinho desses de tração animal.

Não sei distinguir cavalo de burro… Acho que aquele era um ente híbrido. A pobre carrocinha me deu pena: sujinha, um pouco desconjuntada, muito usada. Se madeira cansasse, o carrinho estaria exausto. É para usos completamente anacrônicos. Não sei como ainda há um uso prático para ele, nesta época de enormes caminhões.

No varal, ia trotando o quadrúpede. Comoveu-me vê-lo, porque era um bicho cansado até o último ponto! E também sujinho, mal alimentado, feinho!

Animal não raciocina, mas aquele como que sabia que seu dever era puxar a carrocinha. E restava-lhe um pouco de “vivacidadezinha” com que ia trotando, com umas gotas de uma pobre alegriazinha: pan-pan, pan-pan… Com tanta resignação, com tanta animação, com tanta decisão de ir trotando alegre até o momento em que caísse morto, que era uma imagem da perfeita conformidade com a vontade de Deus.

Fiquei comovido até no fundo de minha alma. E pedi a Nossa Senhora que eu fosse como aquele animal, que levasse a minha carroça até o fim, nesse trotar…