Uma advertência feita há 70 anos, quando ainda era possível frear a marcha da civilização para o abismo. Dr. Plinio, jovem congregado mariano, estava certo de que, abandonados os princípios católicos, só poderíamos chegar aonde estamos hoje. E ainda pior…

Se expusermos à ação do ar um vidro de perfume, o líquido se evaporará dentro em pouco. E algum tempo depois disso, ainda continuará a sala impregnada pela suavidade de seu aroma. Ao cabo de mais algum tempo, o próprio odor terá desaparecido, e do delicioso perfume só ficará a lembrança.

Logo que a vitória dos cristãos abriu para a humanidade o frasco de essências morais preciosíssimas que é a Igreja Católica, o bom odor das virtudes evangélicas se começou a alastrar-se dia a dia pelo mundo, vencendo o cheiro acre da barbárie franca ou germânica, e as exalações insalubres da civilização romana, já então em franca decomposição. E o bálsamo da sabedoria evangélica, fundindo raças, erguendo nações, foi a seiva fecundíssima que alimentou e fez crescer uma nova e magnífica civilização.

Irrompeu depois a Reforma protestante, [seguida, dois séculos depois, pelo] rancor ateísta e anticristão de Voltaire

Terão desaparecido por completo, como tantos outros valores, a doce honestidade de nossos avós, ou as angélicas protetoras de nossos berços…?

Durante muitos anos, no entanto, o bom odor evangélico continuou a embalsamar parcialmente o mundo paganizado, “como o vaso que conserva por algum tempo o perfume das flores que dele tiraram”.

Aos poucos, porém, o perfume se foi diluindo completamente, cedendo lugar à fermentação crescente de paixões malsãs, suscitadas pelas heresias que o mundo não soube nem quis dominar.

Só agora, porém, quando a civilização ameaça ruína, é que sentimos, num terrível despertar, a falta das virtudes católicas que aromatizavam amenamente a vida de nossos maiores. Agora, que o americanismo cinematográfico invadiu, como onda de lodo, a família, o clube, as escolas e a sociedade, começamos a perceber que desapareceu completamente aquela doce honestidade de nossos avós; que nossos chefes de família não são mais os patriarcas veneráveis de outrora, mas apenas os mais velhos dos companheiros de “rapaziadas” de seus filhos; que as mães das últimas gerações já não são, em geral, os anjos de dedicação e amor que a Providência colocava como protetoras de nossos berços, mas sim educadoras implacáveis e indiferentes de seus filhos, aos quais querem sacrificar a menor parcela possível de suas comodidades e gozos pessoais; que os filhos só vêem nos pais meros administradores da fortuna, e nas mães simples governantas de casa que se arrogam atribuições julgadas verdadeiramente desmedidas, que é preciso, a todo o custo, restringir; que a Pátria nada mais é do que um aglomerado de cidades que o acaso agrupou sob uma mesma autoridade política, e que as vantagens financeiras ou outras poderão, a qualquer momento, desagregar sem inconveniente algum de ordem moral; que a humanidade, enfim, é constituída exclusivamente por concorrentes nocivos do uso e gozo da natureza, que é necessário, a todo o custo, afastar como vizinhos incômodos e demasiadamente numerosos.

Dir-nos-ão que exageramos. Mas tome cada qual o trabalho de arranhar um pouco o verniz das convenções, e verifique se, na grande maioria das pessoas, não predominam exatamente os conceitos que enumeramos, dos quais um só é suficiente, quando generalizado, para prostrar por terra uma nação.

E que muitos também arranhem corajosamente o verniz, incomparavelmente mais sensível, com que se cobrem aos olhos da própria consciência, e que vejam, que tenham a coragem de ver, sincera e virilmente, se não se poderiam muito bem espelhar no retrato que acabo de fazer.

Ora, com o predomínio de tais princípios, que sociedade pode viver? Que país pode ser honesto na administração pública, quando não existe patriotismo corajoso na guerra, quando não existe idealismo exemplar na família, quando filhos e pais nada mais são do que indivíduos que se disputam as partes mais aproveitáveis do patrimônio comum?

E agora mudem-se os quadros. Suponha-se um país em que, desde o chefe da nação até o mais modesto contínuo, desde o pai até os filhos, desde o patrão até os operários, predomine a prática rigorosa dos princípios católicos. E imediatamente surgirão, a nossos olhos, estadistas abnegados e diligentes, funcionários probos e esforçados, pais moralizados e respeitáveis, generais valentes e disciplinados, filhos obedientes e amorosos, mães dedicadas e respeitadas.

Ou voltamos atrás e, recorrendo à seiva do Catolicismo, que já uma vez salvou uma civilização que também estava podre, pomos Deus nas escolas, nas constituições, nos lares, nos clubes e, principalmente, nos caracteres, ou a dissolução atual continua sua marcha, e nos arrasta ao apodrecimento de toda a organização política e social do país.

(Excertos de artigo publicado no “Legionário”, nº 79, de 10/5/31. Título nosso.)