Um Deus que, por amor às suas criaturas, encarna-Se e sofre os maiores tormentos, perpetrados contra Ele por essas mesmas criaturas, tanto na ordem física, como na ordem moral: abandonos, ingratidões, crueldades… e que, por fim, morre na cruz, derramando até a última gota de seu precioso sangue. Que mistério! Só um amor infinito, e portanto divino, é capaz de tal. É verdade. Mas Ele nos pede também nossa contribuição, por menor que seja: “Se alguém quiser vir após Mim, renegue-se a si mesmo, tome cada dia a sua cruz e siga-Me” (Lc 9,23)

Essas palavras podem parecer um mero convite e, portanto, como algo optativo. Contudo não se trata disto, pelo menos para quem procura a felicidade. Ou seja, para todos os homens, sem exceção…

A idéia da cruz assusta muitos de nossos contemporâneos e, quiçá, um pouco, até nós mesmos. É a posição para a qual nos arrasta, ainda que subconscientemente, a atmosfera hedonista de hoje, que só valoriza a vida agradável, cheia de saúde, abundante de dinheiro e afundada nos prazeres. O mundo moderno foge da cruz, pensando que assim atinge a felicidade. Oh! engano! A felicidade foge dele. É só no Divino Mestre e na sua cruz que encontraremos a verdadeira alegria.

“Desde muito jovem”, contava Dr. Plinio certa vez, “comecei a compreender o valor do sofrimento, a entender que a influência da Igreja só durava nas almas na medida em que sabiam sofrer. Elas estão para o sofrimento mais ou menos como o metal que deve ser separado da ganga está para o fogo: sofrem, mas com resignação, com dignidade. Isso lhes confere uma tranqüilidade, uma harmonia, uma força que não há prazer que pague. Oh! o bem-estar da dor cristã!”

“Eu, às vezes, me punha diante de crucifixos ou imagens do Senhor Bom Jesus e, olhando-os, pensava: É misterioso, Ele está coberto de dores, mas eu percebo n’Ele um vigor, uma coerência, uma resignação que me leva a dizer: Nunca alguém foi tão extraordinário como o Homem-Deus no auge de sua tristeza! É preciso, portanto, ter a coragem de penetrar no mar de dores e agüentá-las. Quando isto é feito por amor de Deus, há uma qualquer doçura que entra em nós, que nos habita e é única, e que faz parte do bem-estar de ser filho da Igreja” — concluía Dr. Plinio.

São grandes as dificuldades e duros os caminhos, no ambiente de família, na vida profissional, no relacionamento com os nossos semelhantes, na sobrevivência numa sociedade tão abalada por toda sorte de males e ameaças. Mas vida sem sacrifício não existe. O que importa é nunca se deixar abater pelo desânimo, pela angústia, menos ainda pelo desespero. Por mais cruéis que sejam as decepções, os temores e as incompreensões, espera-nos a luz.

E não só a luz do Céu, mas também a da terra. Pois um católico que pratica seriamente a religião sabe que esta se transforma em dias de alegria neste mundo… antes das alegrias celestes. Ele compreende que, com o auxílio da graça divina obtida por Nossa Senhora, superará os sofrimentos, e as cruzes no seu caminho o ajudarão a crescer interiormente.

Uma palavra do Papa encerra com letra de ouro essas reflexões: “A cruz, símbolo da fé, é também símbolo do sofrimento que conduz à glória, da paixão que conduz à Ressurreição. ‘Per crucem ad lucem’, pela cruz, chega-se à luz: este provérbio, profundamente evangélico, nos diz que, vivida em seu verdadeiro significado, a cruz do cristão é sempre uma cruz pascal” (João Paulo II, Hom. Rio de Janeiro, 30/6/1980).