São Clemente de Alexandria dizia que, antes do advento de Nosso Senhor Jesus Cristo, Deus deu aos hebreus a Lei e aos gregos, a Filosofia. Assim, preparava Ele cada um dos dois povos, certamente de acordo com as respectivas propensões, para receberem nosso Redentor.

Essa fina observação mostra quão variados são os caminhos para se alcançar a Deus, e ilustra bem uma tese cara a Dr. Plinio, consonante com sua visão do universo: todo homem é chamado a refletir certas perfeições divinas de um modo muito peculiar. Para favorecer a explicitação e formulação dessa idéia, e o entendimento com seus interlocutores, cunhou ele a expressão “luz primordial”. No que consiste?

“Todo homem nasceu para louvar a Deus”, explica ele. “Esse louvor se faz pela contemplação de certas verdades, virtudes e perfeições divinas. A ‘luz primordial’ é a aspiração existente na alma de cada pessoa para contemplar a Deus de um modo próprio”. Entre os fatores determinantes da “luz primordial” estão, antes de tudo, as inclinações naturais e a graça divina, e depois, a educação, o ambiente, a ancestralidade, etc.

Completando esta noção, diz Dr. Plinio: “Aquela exclamação de Santo Agostinho: ‘Meu Deus, o homem nasceu para Vós e seu coração está inquieto até repousar em Vós’, refere-se ao que denomino ‘luz primordial’.”

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Mas não apenas os indivíduos têm sua “luz primordial”. Também a possuem as famílias, os grupos sociais, as cidades, os estados e províncias, e, muito notadamente, as nações. Neste sentido, esse conceito se harmoniza com o pensamento de São Clemente de Alexandria, acima citado.

Já tivemos ocasião de comentar o dom do discernimento dos espíritos, que Dr. Plinio possuía num grau eminente, causando admiração pela acuidade com a qual “lia” as almas. Entretanto, maior era a surpresa despertada por ele ao aplicar tal carisma, não em relação a indivíduos, mas a povos. Ao fazê-lo, sua maior preocupação era distinguir neles a “luz primordial”, vinculada à vocação e missão recebida de Deus, medir sua correspondência a elas, excogitar meios de amparar os que fraquejavam e de ajudar os transviados a reencontrar o bom caminho.

“Nada é tão bonito como estudar as almas das nações!” — disse certa vez a um atônito visitante, cujo país ele terminara de descrever primorosamente… sem nunca ter lá estado. Nada mais comum para ele do que comentar povos distantes e exóticos, com base apenas em algumas fotografias, ou na observação de pessoas deles oriundas. Não era raro o ouvinte confessar, maravilhado, que só conseguiu entender seu próprio país após ouvir a descrição de Dr. Plinio.

Tivemos um exemplo desse carisma de Dr. Plinio na última edição, vendo-o considerar as potencialidades da África negra, seus valores incipientes, suas qualidades a serem desenvolvidas, suas peculiaridades, as quais, bem conduzidas e iluminadas pela Santa Igreja Católica, produzirão sazonados frutos. Vemo-lo, no presente número, discorrer sobre a Inglaterra, concluindo com termos comoventes e esperançosos a respeito da alma inglesa.

Em tais análises, ele exercitava sua própria luz primordial, que consistia em contemplar a ordem do universo, com um ardente desejo de ver chegar o dia no qual o conjunto dos povos da terra constitua um belo caleidoscópio das perfeições divinas.