Vista da capela e da casa principal do Engenho Uruaé, como se conservam atualmente

Dia 4 de setembro de 1952: de volta ao Brasil, vindo da Europa, Dr. Plinio desembarca em Pernambuco, visitando pela primeira vez a terra de seu pai. Ele vai até o solar dos Corrêa de Oliveira, o Engenho Uruaé, situado na histórica cidade de Goiana. Anos depois ele recordou:

Era uma casa antiga, ainda do tempo colonial. Havia sido ligada a uma capela — do tamanho de uma pequena matriz — por uma ponte coberta, à maneira da Ponte dos Suspiros, de Veneza. A máquina do engenho, muito antiga, estava desmontada.

Minha família, como todas aquelas famílias aparentadas da redondeza, havia perdido a fortuna, quando, no fim do século XIX, devido à concorrência do açúcar de beterraba, a cultura da cana entrou em crise. A decadência fora tão grande que a pitoresca ponte caiu, ficando na casa da família uma porta abrindo para o vácuo, e outra na capela.

Na casa havia diversos móveis bonitos, mas a peça-mestra era meu tio, irmão de meu pai, e meu padrinho. Na intimidade, chamava-se Totonho. Alto, ligeiramente obeso, nariz adunco, olhos de percorrer as coisas e registrar… Meio quietarrão, e comilão ao máximo. Aliás, pernambucano em geral tem muito bom apetite. Pobre, como um fazendeiro pode ser pobre. Mas com uma majestade de ares e um senhorio, ao fitar as coisas e as pessoas, verdadeiramente notáveis. Quando o encontrei, estava deitado numa rede, do lado de fora da casa, observando toda a fazenda, e segurando um bastão. Tranqüilo, um olhar mandão, controlando tudo… De vez em quando chamava alguém: “Fulano!” Lá vinha o fulano. “Faça tal, em tal lugar…”

Ofereceram-me um almoço pantagruélico, in-ter-mi-ná-vel, com abundância especialmente de frutos do mar. Conversa agradável. Os pernambucanos são brincalhões, inteligentes, discursam bem, escrevem bons livros. São espíritos mais aprofundantes. Homens de ação, gostam de produzir, de trabalhar, de fazer. E mandões. Na terra de cada um, manda cada um. E ai de quem se meter!

Quanto a Goiana, cidade de tradição e que já teve sua importância (terra de D. Vital Gonçalves de Oliveira), há um ponto que desejo ressaltar: o profundo espírito católico.