Em agosto de 1929, como jovem acadêmico, Dr. Plinio fundara na Faculdade de Direito do Largo São Francisco a Ação Universitária Católica, A.U.C. Era uma ousadia naquele tempo, quando os ambientes universitários eram focos de anticlericalismo. O movimento tomou força e se estendeu a outras instituições de ensino superior em São Paulo. Impressionados com sua influência, os candidatos a cargos eletivos no Centro Acadêmico — o qual tinha grande importância na época — passaram a insistentemente procurar Dr. Plinio em busca de apoio. Foi nesse clima que o líder católico lançou, em outubro de 1930, o jornal “O A.U.C.”. No artigo de capa do primeiro número, publicado com o título acima, ele explicava os objetivos do movimento e as condições de cooperação com as diversas correntes estudantis laicas.
Com o formidável lastro de idéias de que dispõe a A.U.C., não nos faltam iniciativas úteis e patrióticas a tomar.
Entre elas, como ponto capital, está o apostolado entre os colegas. O aucista é essencialmente um ardoroso propagandista dos princípios católicos, quer pela palavra, quer pelo exemplo. Aproximar da Igreja os colegas que dela estão afastados, dissipar certas dúvidas, oriundas, quase sempre, da grande falta de cultura religiosa, propagar a moral católica, tão sublime na sua inflexível rigidez, eis aí as principais preocupações do aucista, em suas relações com os colegas.
No entanto, não pára aí sua tarefa. O aucista, estendendo ao terreno jurídico os clarões da Fé, deverá orientar sempre seus estudos de acordo com suas convicções católicas, fazendo com que as sábias e numerosas diretrizes jurídicas da Igreja sejam conhecidas e, portanto, aceitas e apreciadas por todos os colegas. Para isto, providenciará a A.U.C. a respeito da importação de livros jurídicos católicos, que procurará divulgar o mais possível.
Em agosto de 1929 Dr. Plinio fundou a Ação Universitária Católica em São Paulo, na Faculdade de Direito do Largo São Francisco. No primeiro número do jornal A.U. C. (á direita), ele lançou o ousado programa daquela nova instituição. Na página anterior, Dr. Plinio com a beca de bacheral em Direito
Na vida acadêmica, a A.U.C. terá sempre em vista, primordialmente, os interesses católicos
Além disto, procurará o aucista imprimir à vida acadêmica um cunho nitidamente católico e, para isto, longe de se afastar das manifestações coletivas e da vida acadêmica, intervirá em todos os debates que interessem à classe, e será um ardoroso e dedicado sócio do Centro [Acadêmico]. Terá sempre, no entanto, como preocupação capital, os princípios e os interesses católicos, pelos quais pugnará com ardor e espírito de disciplina.
E não se diga que os assuntos debatidos no Centro não interessam aos princípios católicos. Debatem-se freqüentemente, é certo, assuntos que, como católicos, nos deixam indiferentes. Assim as moções relativas à maior parte dos problemas políticos externos, etc. Assim, também, algumas questões referentes às relações que, entre si, mantêm as agremiações políticas da Faculdade. Mas muitas outras questões há em que os interesses católicos estão diretamente em jogo, e nas quais a A.U.C. intervirá certamente.
Nos problemas políticos, só interessam à A.U.C. os que apresentem algum caráter religioso
E, por esta razão, bem se compreende o empenho que tem a A.U.C. em manter cordiais relações com o Centro [Acadêmico], e também o interesse que desperta a eleição para certos cargos de sua Diretoria.
Está claro que o presidente, o orador, ou um membro da comissão de redação muito nos podem auxiliar ou prejudicar. Por esta razão, resolveu a A.U.C. intervir nas lutas eleitorais [acadêmicas], encaminhando os votos de seus membros para os candidatos mais simpáticos para o programa aucista.
1. A A.U.C. só pleiteará, para seus membros, os cargos de interesse para a realização de seu programa.
2. Embora, naturalmente, entre de acordo com um dos partidos, para facilitar a conquista dos cargos pleiteados, não se fundirá com nenhum deles, nem firmará acordos que ultrapassem a luta eleitoral e certos pontos da administração do candidato apoiado.
3. Este acordo, a A.U.C. só o firma com um dos partidos depois de ter estabelecido a superioridade deste, sob o ponto de vista católico.
4. A A.U.C. intervém nas questões políticas [acadêmicas]. Mas, desde que se possa estabelecer um modus vivendi que lhe garanta os interesses, de tal maneira que ela não mais precise intervir, desde já se compromete a desistir de toda e qualquer atitude em relação à luta política [acadêmica].
5. Embora apóie alguns candidatos, a A.U.C. não constitui, portanto, um partido:
a) porque a sua influência no Centro constitui para ela apenas um meio e não um fim;
b) porque, nos problemas políticos, ela só se interessa pelos que possam apresentar algum caráter religioso, enquanto o partido devidamente organizado deve se ocupar de todos os problemas que afetam a coletividade;
c) por conseguinte, enquanto os partidos da Faculdade costumam exercer certa disciplina partidária em relação aos problemas coletivos todos, exceto os de ordem religiosa, a A.U.C. exercerá sua disciplina nos problemas de caráter religioso, e dará toda a liberdade a seus membros, nos de caráter estritamente político. […]
Um ponto a esclarecer
É possível que alguns dos partidos da Faculdade, apesar da inteira cordialidade que, com eles, deseja manter a A.U.C., entendam que não podem continuar nas suas fileiras estudantes que assumam o compromisso de votar em candidatos indicados pela A.U.C., e não pelo Partido. Não os censuremos; estão no direito de agir de acordo com os seus interesses. No entanto, poderia parecer que a A.U.C. estaria induzindo os seus membros a quebrar compromissos partidários, anteriormente assumidos.
Expliquemo-nos. A A.U.C. é uma agremiação nova. Os rapazes, quando entraram para os outros partidos, não a conheciam. Apareceu agora uma nova agremiação; pergunto: não teriam eles o direito de se filiar a ela, desde que preencha seus ideais mais completamente do que a agremiação em que anteriormente estavam? É claro que sim. Do contrário, ainda estaríamos nos partidos Liberal e Conservador da Monarquia.
Conclusão
Está aí, lealmente exposta, a nossa atitude. Não pensamos que alguém contra ela se possa insurgir.
Temos por nós nosso passado; nada se pode dizer dos rapazes que ora fundam o “A.U.C.”. Teremos também por nós o futuro. Dai tempo ao tempo, e compreendereis melhor nosso programa, vendo que ele será executado com leal sinceridade.
Resta-nos apenas afirmar, mais uma vez, que temos toda a simpatia para com todos os partidos. Não temos fusão com nenhum deles. Não combatemos a nenhum.
Combateremos por ideais bons, contra ideais maus. Não conhecemos pessoas, conhecemos idéias.
E, firmes na resolução e na diretriz que aceitamos, só nos resta uma coisa: agir, sob as bênçãos de Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, e São Luís Gonzaga, símbolo da Pureza e da Mocidade Católica, confiantes no futuro da Igreja e de nossa Pátria, a que entranhadamente estimamos.
(Transcrito de “O A.U.C.”, ano 1, nº 1, outubro de 1930. Subtítulos nossos)