O mês em que estamos era um dos mais cheios de ocupações para Dr. Plinio. De variadas regiões do mundo, sobretudo do Hemisfério Norte, chegavam os seus filhos que obtinham os meios para virem a São Paulo. Haviam partido do Canadá, da Grã-Bretanha e dos outros países da Europa; da Venezuela, Colômbia e Equador, mas também da África do Sul, das Filipinas, da Índia… Enquanto isso, os jovens brasileiros, argentinos, uruguaios, chilenos, bolivianos, paraguaios, voltavam às aulas, tendo passado alguns dias em São Paulo nas suas férias de julho.

Entre atividades e reuniões, Dr. Plinio lhes dava com freqüência inesquecíveis “palavrinhas” de estímulo, às vezes em espanhol, às vezes em francês, sem faltarem alguns conselhos em alemão…

Eram dias animados e alegres. O auditório “São Miguel” e, posteriormente, o “Maria Auxiliadora” regurgitavam de modo especial para um dos encontros mais esperados da semana: a reunião de sábado à noite! Impossível se esquecer daquele timbre de voz contagiando entusiasmo, num tom próprio aos jovens, e felizmente imortalizado por muitas gravações. De uma dessas reuniões que atravessavam a meia-noite de sábado recolhemos as reminiscências da infância e primeira juventude de Dr. Plinio, reproduzidas nestas páginas sob a rúbrica Gesta de um varão católico. Conta-nos ele como foi alinhavando desde então as idéias e princípios que, à luz da doutrina da Igreja, defendeu ardentemente na cátedra, na Câmara e nos jornais, e estampou em 1959 nas páginas de Revolução e Contra-Revolução.

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As reuniões do “MNF” (sigla que resume a palavra “Manifesto”) visavam a preparação de uma obra que abordasse os problemas teológicos, metafísicos e filosóficos vindos à tona na crise moral do século XX, e enfrentados por Dr. Plinio com uma perspectiva toda dele. A seção “Pensamento filosófico…” nos traz a explanação de um desses ângulos de visão: a catequese religiosa tem de ser tal que mostre ao homem de hoje que a elevação do espírito humano das coisas criadas até as invisíveis e ao próprio Deus, e o reflexo desta mentalidade nas realizações humanas, são a única fonte da autêntica felicidade nesta Terra.

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Fazendo referência às qualidades espirituais da arte medieval, escreveu o Papa João Paulo II: “A força e a simplicidade do românico, expressa nas catedrais ou nas abadias, vai-se desenvolvendo gradualmente nas ogivas e esplendores do gótico. Dentro destas formas, não existe só o gênio dum artista, mas a alma dum povo. (…) Como sintetizar em poucos traços, nas diversas expressões da arte, a força criativa dos longos séculos da Idade Média cristã? Uma cultura inteira, embora com as limitações humanas sempre presentes, impregnara-se de Evangelho, e onde o pensamento teológico realizava a Suma de São Tomás, a arte das igrejas submetia a matéria à adoração do mistério [divino]” (Carta aos Artistas, 1999).

Assim, a Idade Média nos aparece como a era histórica em que aquilo que Dr. Plino chama “o senso do maravilhoso” foi com maior vigor concedido aos homens, por influxo da Igreja. Na seção Luzes da Civilização Cristã ele nos fala desse senso, especialmente expresso nas obras artísticas daquela época, e de como se trata, no fundo, da nostalgia dos desejos de beleza que o homem possuíra no Paraíso antes do Pecado Original. Não, porém, uma nostalgia estéril e morta, mas um sentimento fecundo que se converte em realizações sublimadas daqueles anelos paradisíacos.