Perguntou-lhe então Pilatos: És, portanto, rei? Respondeu Jesus: Sim, eu sou rei” (Jo 18, 37). Com esta leitura do Evangelho, no Domingo de Cristo Rei encerra-se o ciclo litúrgico deste ano. Entre as inumeráveis belezas do culto católico, encontramos essa do “Omega” que conclui um período e, ao mesmo tempo, abre um novo “Alfa”, introduzindo-nos no Advento, que nos prepara para o Natal.

Dr. Plinio entendia a festa da realeza de Cristo não como uma mera simbologia ou metáfora, mas como a celebração de uma profunda verdade.

Em primeiro lugar, Jesus Cristo é Deus, que sustenta no ser toda a Criação. Tudo o que existe, existe porque Ele próprio está a todo momento querendo e operando sua existência.

Por outro lado, Nosso Senhor governa o universo inteiro. Ao instituir a Festa de Cristo Rei, em 1925, o Santo Padre Pio XI citava São Cirilo de Alexandria: “Cristo tem o domínio sobre todas as criaturas, um domínio não obtido por violência, nem usurpado, mas algo que lhe pertence por essência e por natureza”. “Sua realeza — pondera o Papa — está fundada sobre a inefável União Hipostática”.

Na arte católica, essa realeza de Nosso Senhor é representada de maneira evocativa nas diversas e belas imagens de Cristo triunfante, esculpidas nos pórticos de igrejas e catedrais (como a reproduzida em nossa capa), e que muito agradavam a Dr. Plinio. Este nos deixou, aliás, uma valiosa consideração — na qual afirma haver certa correlação entre as idades de Jesus em sua vida terrena e as etapas da História universal — que julgamos assaz apropriada para essa festa do calendário católico.

Porém, não é só. Dr. Plinio era mestre em aplicar as reflexões teóricas à vida concreta de todos os dias. Assim, quando considerava a Nosso Senhor como Rei, imediatamente punha em foco a necessidade de ele própio se conformar com o divino modelo. Confidenciava certa vez:

“Segundo a obrigação de todo católico, procurei imitar Nosso Senhor Jesus Cristo. No tempo em que fiz a Primeira Comunhão, Ele era apresentado sempre na plenitude de sua bondade, mas também com majestade e grandeza excelsas. As imagens, o estilo do culto, o ambiente das igrejas, tudo recendia uma dignidade que era a expressão da majestade suprema e incomparável de Jesus. Essa realeza origina-se do fato de ser Ele o Homem-Deus e, como tal, o Rei de todas as coisas por definição e natureza.

Ora, eu julguei que O imitava, na medida em que toca às meras criaturas, de dois modos. Primeiro, prestando muita atenção e procurando entender a dignidade humana, não com raciocínios filosóficos (os quais não estavam ao alcance de minha jovem idade), mas vendo as pessoas mais especialmente dignas que eu conhecia, procurando analisar a sua superioridade e como se colocavam acima das outras — para o bem delas e o de todas. Em segundo lugar, compreendendo, em conseqüência, o que é ser, e como se tornar, uma pessoa digna.

Depois, quanto coubesse à minha condição de menino, tentei realizar essa dignidade em mim mesmo.”

Cremos, portanto, ser o melhor para que nossos leitores conheçam Dr. Plinio, deixarmos ele próprio narrar quais os pensamentos, as graças, as circunstâncias que favoreceram nele essa imitação de Cristo, e como, com a maternal proteção e auxílio de Maria Santíssima, formou sua riquíssima personalidade. É o que se encontrará em algumas das cativantes páginas que adiante se abrirão.