À esquerda, pintura do Museu do Louvre, Paris; abaixo, o Papa Leão XIII, autor da célebre Encíclica Immortale Dei

As relações harmônicas entre a Igreja, que santifica e salva as almas, e o Estado, zelador da sociedade terrena, são analisadas por Dr. Plinio com firme apoio na doutrina católica. A estruturação de todas as relações e instituições humanas, e do próprio Estado, segundo o ensinamento da Igreja é o esteio de uma autêntica e duradoura civilização a qual deve ser anelada por todo contra-revolucionário.

Qual o ideal da Contra-Revolução?

O ideal da Contra-Revolução é (…) restaurar e promover a cultura e a civilização católica (p. 62).

Em que consiste a cultura católica?

Uma alma em estado de graça está na posse, em grau maior ou menor, de todas as virtudes. Iluminada pela Fé, dispõe dos elementos para formar a única visão verdadeira do universo.

O elemento fundamental da cultura católica é a visão do universo elaborada segundo a doutrina da Igreja. Essa cultura compreende não só a instrução, isto é, a posse dos dados informativos necessários para uma tal elaboração, mas uma análise e uma coordenação desses dados conforme a doutrina católica. Ela não se cinge ao campo teológico, ou filosófico, ou científico, mas abrange todo o saber humano, reflete-se na arte e implica na afirmação de valores que impregnam todos os aspectos da existência (p. 63).

Época houve em que a sociedade civil, penetrada pela filosofia do Evangelho, influenciada pela sabedoria cristã e pela feliz concórdia entre a Igreja e o Estado, produziu seus melhores frutos, superiores a toda expectativa

Características da civilização católica

Como definir a civilização católica?

Civilização católica é a estruturação de todas as relações humanas, de todas as instituições humanas, e do próprio Estado, segundo a doutrina da Igreja (p. 63).

Qual a característica fundamental da civilização católica?

Tal ordem de coisas é fundamentalmente sacral, e (…) importa no reconhecimento de todos os poderes da Santa Igreja, e particularmente do Sumo Pontífice: poder direto sobre as coisas espirituais, poder indireto sobre as coisas temporais, enquanto dizem respeito à salvação das almas (pp. 63-64).

Qual a mais alta finalidade da sociedade e do Estado?

O fim da sociedade e do Estado é a vida virtuosa em comum. Ora, as virtudes que o homem é chamado a praticar são as virtudes cristãs, e destas a primeira é o amor de Deus. A sociedade e o Estado têm, pois, um fim sacral (p. 64).

Somente a Igreja deve promover a salvação das almas?

Por certo é à Igreja que pertencem os meios próprios para promover a salvação das almas. Mas a sociedade e o Estado têm meios instrumentais para o mesmo fim, isto é, meios que, movidos por um agente mais alto, produzem efeito superior a si mesmos (p. 64).

Cultura e civilização por excelência

Algum Papa descreveu a Cristandade medieval?

Na Encíclica Immortale Dei, Leão XIII descreveu nestes termos a Cristandade medieval: “Tempo houve em que a filosofia do Evangelho governava os Estados. Nessa época, a influência da sabedoria cristã e a sua virtude divina penetravam as leis, as instituições, os costumes dos povos, todas as categorias e todas as relações da sociedade civil. Então a Religião instituída por Jesus Cristo, solidamente estabelecida no grau de dignidade que lhe é devido, em toda parte era florescente, graças ao favor dos Príncipes e à proteção legítima dos Magistrados. Então o Sacerdócio e o Império estavam ligados entre si por uma feliz concórdia e pela permuta amistosa de bons ofícios. Organizada assim, a sociedade civil deu frutos superiores a toda expectativa, cuja memória subsiste e subsistirá, consignada como está em inúmeros documentos que artifício algum dos adversários poderá corromper ou obscurecer” (pp. 59-60).

Quais são a cultura e a civilização por excelência?

De todos estes dados é fácil inferir que a cultura e a civilização católica são a cultura por excelência e a civilização por excelência.

É preciso acrescentar que não podem existir senão em povos católicos. Realmente, se bem que o homem possa conhecer os princípios da Lei Natural por sua própria razão, não pode um povo, sem o Magistério da Igreja, manter-se duravelmente no conhecimento de todos eles. E, por este motivo, um povo que não professe a verdadeira Religião não pode duravelmente praticar todos os Mandamentos.

Nestas condições, e como sem o conhecimento e a observância da Lei de Deus não pode haver ordem cristã, a civilização e a cultura por excelência só são possíveis no grêmio da Santa Igreja (pp. 64-65).