Conforme ressaltava Dr. Plinio, a regularidade com que se sucedem no calendário da Igreja os vários ciclos do ano litúrgico, imperturbáveis em sua sucessão, por mais que os acontecimentos da história humana variem em torno deles, é bem uma afirmação da celestial majestade da Igreja, sobranceira ao vaivém caprichoso das paixões do homem (cf. “Legionário”, 1/4/1945). E nessa maravilhosa continuidade, o presente mês de março se inicia com a Quaresma. Tempo de reflexão e de contrição. De emenda e penitência, às quais nos devem mover um sincero e firme desejo de nos santificarmos.

Desejo este que Dr. Plinio procurava sempre despertar no espírito do próximo, como o fez certa feita, ao considerar as duas primeiras invocações da conhecida oração Anima Christi. Sirvam suas palavras, repassadas de zelo apostólico, como meditação para os dias que antecedem a Paixão e a Glória de nosso Redentor:

“A Alma de Cristo! Aquela Alma infinitamente nobre e grande, que abarcava o Céu e a Terra em um anelo incessante de santificar os homens para a glória de Deus. Aquela Alma bendita, de um amor excelente, casto e delicado, de um amor ardente e discreto, meigo até os maiores extremos de ternura e forte como o bronze; aquela Alma que é o sol divino de nossas almas, a própria alma de nossas almas, aquela Alma não consentiria em nos abandonar depois da Ascensão. Ela não trairia sua promessa de continuar a viver entre nós. E, por isso, ela está sempre presente em nosso meio. Realmente presente no mistério eucarístico em que recebemos Cristo com seu Corpo e Sangue, Alma e Divindade. E presente, ainda, pela Santa Igreja Católica, cuja doutrina contém o sentido verdadeiro dos Santos Evangelhos e é, pois, o espelho divinamente fiel da própria Alma de Cristo.

“Se queremos adorar a Alma de Cristo, amemos a doutrina católica. Crendo no que a Igreja crê, pensando como ela pensa, sentindo como ela sente, é de certa forma a própria Alma de Cristo que baixa em nossa alma e a santifica, como é o próprio sol que desce na água, quando a toca com seus raios e a ilumina. É pela instrução religiosa, adquirida no estudo catequético e desenvolvido durante toda a sua existência que o fiel pode realmente conformar sua alma com a de Cristo, e rezar em toda a veracidade de seu coração a jaculatória admirável: Anima Christi, santifica me!

“Mas, este conhecimento da verdade por si só não basta. (…) No mais íntimo de nosso ser estão os frutos amargos do pecado original. Sombras intelectuais de toda ordem, vícios, defeitos de toda espécie lançaram raiz em nós. Quanta e quanta vez, a pobre criatura humana desfalece sob o peso do dever e tende a se subtrair ao jugo da moral? Não há homem algum que, sem o auxílio sobrenatural da graça, consiga praticar de modo durável todos os Mandamentos. É preciso, pois, que a instrução se complete pela vida, que as verdades conhecidas se transformem em ato. E para isto só há um caminho autêntico, que é a vida interior. A vida interior, sim, e isto quer dizer o cultivo esmerado de todas as virtudes, a guerra declarada, metódica, sem tréguas, a todos os defeitos. Este ideal não se consegue sem vida sacramental. É por meio da oração e dos sacramentos que o homem obtém as forças necessárias para praticar a virtude, para alcançar a Vida.

E, insensivelmente, nosso pensamento se volta para as palavras do Evangelho: ‘quem não comer deste Pão, quem não beber este Vinho, não terá a vida eterna’. Imploremos, portanto, ao Santíssimo Sacramento: Alma de Cristo, santificai-nos! Corpo de Cristo, salvai-nos!” (Excertos do “Legionário” de 8/10/1944).