A exaltação da Santa Cruz, a natividade da Santíssima Virgem e a recordação de seu sofrimento co-redentor, assim como a celebração de algumas invocações marianas sob as quais diferentes povos A tomam por Padroeira — Nossa Senhora de Coromoto, por exemplo, Patrona da Venezuela —, fazem dos dias de setembro ocasiões particularmente propícias para se alcançar insignes graças do Céu.

A par das comemorações referentes a Nosso Senhor e sua Mãe, a Igreja relembra também, neste mês, luminosas figuras de heróis da Fé, propostos para todo o sempre como modelos de santidade e amor a Deus. Assim, no dia 3 se festeja o Papa São Gregório Magno, que governou a barca de Pedro entre 590 e 604. Chamado “magno” pela grandeza de sua personalidade e da obra que legou à Civilização Cristã. Entre outros importantes feitos, sobressai o haver selecionado, catalogado e publicado o volume de canto oficial da Igreja, denominado “gregoriano” em homenagem a seu compilador. O próprio Pontífice dispôs que um exemplar dessa coletânea fosse preso ao altar, indicando simbolicamente o quanto a Esposa mística de Cristo se achava ligada a essa expressão musical.

Não sem razão, pois, sentia-se Dr. Plinio tocado no mais fundo de sua alma católica quando ouvia os melodiosos acentos de um cântico gregoriano. E, por isso, comentava:

Ainda nas suas formas iniciais, esse canto surge como uma orla de floresta na qual aparecem os sentimentos mais magníficos, todas as gamas do heroísmo como as da ternura, da reflexão como as dos esplendores da sadia despreocupação. Ele é sóbrio, e se não transpõe essa orla, carrega entretanto dentro de si a sua própria floresta, formidável, que é uma potencialidade quase inexaurível de gerar civilizações e maravilhas em qualquer parte do mundo. É a força da inocência aliada à graça, que transformou, por exemplo, os pântanos e vales mefíticos da antiga Europa em jardins semeados de vida e de cor, onde, entre arvoredos e lagos lindíssimos, avantajam-se grandiosas abadias, imponentes castelos e majestosas catedrais. Uma Europa “gregorianizada”.

Qual é o efeito do cantochão sobre a alma do homem contemporâneo que sabe admirá-lo? Sobre a minha própria alma, portanto?

Eu diria que dele emana uma espécie de temperatura que contém todo o aconchegante do quente e todo o agradável frescor de um frio que não corta nem maltrata, onde uma brisa tépida de vez em quando faz sorrir. Ele tem as temperaturas da vida que estão para além das algidezes e calores do mundo mineral. É uma composição de outra natureza, comunicando-nos refrigério, luz e paz; ajudando a despertar e a dar vigor, em minha alma, a mil ordenações da inocência que o choque com o mundo contemporâneo tenderia a fazer esquecer e a adormecer.

O cantochão é o cântico do murmúrio, e enquanto tal, faz ele sentir que esta é a terra de exílio para a qual viemos em conseqüência do pecado original. Há nele algo de penumbra ascética, de sonoridades meio penitenciais, de almas do purgatório que sussurram, gemem e entoam canções de esperança. Por outro lado, se lhe prestarmos bem atenção, veremos nele a inocência que se sabe a si mesma em estado de prova, tomando todos os cuidados consigo mesma. Há um quê de mortificado, de vigilante, dentro do celeste desembaraço do gregoriano, à maneira do capuz colocado na cabeça de um frade jovem: lembra o aspecto penitencial, adverte contra o vazio das coisas terrenas, contra o mentiroso dos élans excessivos do próprio homem.

Assim é o gregoriano. Das alegrias exultantes do Te Deum, aos recolhimentos solenes do Tantum Ergo, é a música que tem essa qualidade incomparável de exprimir a atitude perfeita, o exato grau de luz da alma reta e verdadeiramente inocente quando se coloca diante de Deus.

Aprendamos, pois, com Dr. Plinio, filho amoroso e fiel da Igreja, a admirar o canto que esta considera o pináculo da expressão religiosa.