Atingir sangrentos excessos e em seguida retroceder a uma plácida existência burguesa; extinguir a monarquia e depois aplaudir o retorno dos Bourbons — os vaivéns da Revolução Francesa são exemplos característicos das metamorfoses do processo revolucionário
Carlos X, Rei da França – Museu Metropolitan de Nova York

Conforme assevera Dr. Plinio, a Revolução impõe a si mesma constantes metamorfoses, mudando de feições tanto nas suas grandes linhas gerais quanto no interior dos seus principais episódios. Tal é o método ardiloso que ela emprega para distender e esmorecer as reações que poderiam deter seu avanço ao longo da História.

Que é o processo revolucionário?

“O processo revolucionário é o desenvolvimento, por etapas, de certas tendências desregradas do homem ocidental e cristão, e dos erros delas nascidos”. (p. 38).

A cada etapa, um aspecto próprio

Essas tendências e erros são sempre os mesmos?

“Em cada etapa, essas tendências e erros têm um aspecto próprio. A Revolução vai, pois, se metamorfoseando ao longo da História.

Essas metamorfoses que se observam nas grandes linhas gerais da Revolução, se repetem, em ponto menor, no interior de cada grande episódio dela” (p. 39).

Poderia citar um exemplo?

“O espírito da Revolução Francesa, em sua primeira fase, usou máscara e linguagem aristocrática e até eclesiástica. Freqüentou a corte e sentou-se à mesa do Conselho do Rei.

“Depois, tornou-se burguês e trabalhou pela extinção incruenta da monarquia e da nobreza, e por uma velada e pacífica supressão da Igreja Católica.

“Logo que pôde, fez-se jacobino, e se embriagou de sangue no Terror” (p. 39).

Entre reveses e sucessos, até o paroxismo de hoje

Mas houve retrocessos durante a Revolução Francesa…

“Os excessos praticados pela facção jacobina despertaram reações. Ele voltou atrás, percorrendo as mesmas etapas. De jacobino transformou-se em burguês no Diretório; com Napoleão estendeu a mão à Igreja e abriu as portas à nobreza exilada, e, por fim, aplaudiu a volta dos Bourbons” (p. 39).

Como continuou o processo revolucionário após a Revolução Francesa?

“Terminada a Revolução Francesa, não termina com isto o processo revolucionário. Ei-lo que torna a explodir com a queda de Carlos X e a ascensão de Luís Felipe, e assim por sucessivas metamorfoses, aproveitando seus sucessos e mesmo seus insucessos, chegou ele até o paroxismo de nossos dias” (p. 39).

Tática para adormecer as reações

Por que a Revolução utiliza metamorfoses?

“A Revolução usa (…) suas metamorfoses não só para avançar, como também para operar os recuos táticos que tão freqüentemente lhe têm sido necessários” (p. 40).

Como explicar que em certas ocasiões a Revolução parece não existir?

“Por vezes, movimento sempre vivo, ela tem simulado estar morta. E é esta uma de suas metamorfoses mais interessantes. Na aparência, a situação de um determinado país se apresenta como inteiramente tranqüila. A reação contra-revolucionária se distende e adormece. Mas, nas profundidades da vida religiosa, cultural, social, ou econômica, a fermentação revolucionária vai sempre ganhando terreno. E, ao cabo desse aparente interstício, explode uma convulsão inesperada, freqüentemente maior que as anteriores” ( p. 40)1.

1) Para todas as citações: Revolução e Contra-Revolução, Editora Retornarei, São Paulo, 2002, 5ª edição em português.