No dia 10 de fevereiro de 1939 faleceu o Papa Pio XI, “doce e heróico gigante de Deus”, nas palavras de Dr. Plinio. Este fervoroso devoto do Vigário de Cristo na Terra assim expressou, pelas páginas do “Legionário”, sua admiração pela extraordinária obra apostólica daquele pranteado Pontífice:

Com o falecimento do Santo Padre, é um gigante que acaba de cair. Não um gigante vulgar, nem mesmo se tomarmos a palavra no sentido intelectual e moral, mas um gigante cuja fronte venerável se aureolava com a tríplice coroa da virtude, do saber e da excelsa dignidade a que fora elevado por vontade da Divina Providência. (…)

Enquanto muitos dos gigantes de nosso tempo — aliás, não são tantos nem tão autênticos quanto se poderia imaginar — se servem de seus poderes invulgares para arrastar a civilização para a guerra, para a paganização e para o abismo, Pio XI foi o doce e heróico gigante de Deus que pôs todos os seus talentos ao serviço da Santa Igreja e, revestido da energia sobrenatural que só a graça confere, embargou resolutamente o passo aos falsos pastores que queriam empunhar a direção do mundo contemporâneo. (…)

Tendo sido elevado à mais alta dignidade que se encontre na Terra, Pio XI iniciou imediatamente um trabalho de imensa envergadura. Seu olhar penetrante, percorrendo o panorama oferecido pelo mundo inteiro, dilacerado por questões econômicas, políticas, sociais, filosóficas e morais, viu com uma nitidez maior do que nunca os povos gemerem sob a opressão de mil sofrimentos diversos, originados todos eles do afastamento da Santa Igreja de Deus. E, certamente, de seu coração paternal, brotou ardente aquela mesma exclamação compassiva do Salvador: “Misereor super turbam!” Tenho pena da multidão! Pena, realmente, porque todas as desgraças contemporâneas faziam sangrar seu coração de Pai. Mas pena, sobretudo, porque o mundo se encontra, hoje, sob o peso da maior das desgraças, que é a ignorância e o desamor de Deus. Enfrentando pois, imediatamente, os complexos problemas suscitados pela situação hodierna da humanidade, Pio XI começou a grande luta que deveria encher seu Pontificado, luta esta dirigida contra tudo aquilo que pode afastar o homem de Deus, e portanto de sua Igreja. (…)

A Ação Católica foi o meio providencial que Pio XI dispôs para que o apostolado leigo encontrasse a plenitude de sua eficiência. Suas alocuções, discursos e cartas sobre o assunto são empolgantes, e constituem uma das notas mais brilhantes e mais características de seu pontificado. (…)

O olhar de Pio XI não se confinava, porém, ao mundo ocidental corrupto e envelhecido, que vacila sobre suas bases e ameaça ruir. Revestido da dignidade de Pai espiritual de todos os povos, Pio XI sentiu um imenso amor atrair sua solicitude para os selvagens de todas as raças e os incontáveis pagãos que, na Á­frica, na Á­sia, na Oceania e na América, ainda não tinham visto o “lumem ad revelationem gentium”, e não tinham sido, pelo Batismo, introduzido na vida da graça.

Pio XI, que foi cognominado também o Papa das Missões, [convocou] quase todas as Ordens e Congregações religiosas a intensificarem suas atividades missionárias, sendo numerosas aquelas, dentre elas, que, não tendo uma finalidade especificamente missionária, se dedicaram a essa tarefa, graças ao incitamento do Papa. Foi tão ardente esta convocação, que até as Ordens contemplativas se julgaram, com razão, chamadas a um trabalho missionário especialmente intenso. E por isso Trapas, Carmelos e outros cenáculos de penitência e pura contemplação se transferiram para os países de missão, atraindo ali, pela mesma vida contemplativa levada na Europa, as bênçãos de Deus sobre o mundo pagão. (…)

Todos os brasileiros que tiveram a honra de se aproximar do Santo Padre atestam o extraordinário interesse que ele votava ao Brasil, do qual dizia que queria bem de modo todo particular, não apenas porque nosso País tem a incomparável honra de ser um dos maiores países católicos do mundo, como também pelo acatamento que sempre observamos em relação à Santa Sé.

(Extraído do “Legionário” nº 335, de 12/2/1939)